31 maio 2006

1 Pouco Mouco @ SLANG #2

Slang #2_Capa

TRÊS LUTHIERS E UM DESTINO
Se um desconhecido lhe disser que a vida futura da guitarra portuguesa está nas mãos de um MC de hip hop, de uma DJ de reggae e de um gajo perfeitamente normal, acredite. Tony, Fabíola e Hugo andam entre os 28 e os 31 anos, mas a SLANG apanhou-os escassos dias depois da criação da sua empresa, a AIMC. Gilberto Grácio, de quem “apenas” saem e saíram guitarras para gente como Carlos Paredes, continua a acompanhar o trio, mas agora estão financeiramente por sua conta.
(...)

O PECADO DA PARTILHA
Aquela proverbial máxima, que diz que “aquilo que não nos mata torna-nos mais fortes” está difícil de ver aplicação no universo da indústria do entretenimento, seja ele da música ou do cinema. O que não parece claro é que a internet serve para partilhar mais do que discos ou filmes pirateados. Serve também para partilhar cultura de outra forma enclausurada em determinados espaços geográficos. Mas que a citada indústria não está mais forte por causa da internet, lá isso não está.
(...)

O resto das prosas, e todo um fascinante universo urbano de luz e cor pode já ser encontrado nas lojas na segunda edição da revista SLANG.

Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.

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Para muitos seres vivos, o signatário incluído, as datas são uma coisa socialmente terrível. São, além da face mais evidente de uma falta de memória dirigida a momentos isolados, recorrente motivo de embaraço diante de outros seres vivos, aqueles para quem as datas são coisa fácil de digerir e armazenar.

A própria relevância e hierarquização das datas merecia uma cimeira de dimensão internacional para o apaziguamento das relações interpessoais. Isto porque, ocorreu-me que, hoje, 31 de Maio, é uma data especialmente importante para mim. E, pelas razões pelas quais o é, é mesmo só para mim.

Faz hoje uma dúzia de anos que entrei pela primeira vez na redacção do finado Blitz para trabalhar, para ser redactor, para cumprir o poético desejo de ser jornalista e, para mais, sê-lo num departamento que até hoje me entusiasma, precisamente a música.

Tenho este dia como o do princípio do meu trajecto. Não conta muito o que antes havia feito, desde cuidar de arquivo de seguros ao terrorismo sónico praticado num núcleo de rádio universitário. Foi ali, então para Cabo Ruivo, que cheguei num Citröen 2CV encarnado para ajudar a fazer o número 501 do jornal.

Nenhuma outra data ficou profissionalmente registada na memória como esta. Nem o início da On, n'O Independente, nem o parto do Netparque, na Expo, nem o regresso ao Blitz. Nada tem o peso daquela primeira vez, da ocupação do espaço deixado vazio pelo Nuno Galopim, que entretanto havia debandado para o Diário de Notícias. Enquanto o "seu" computador durou, mantive o inevitável autocolante dos Duran Duran que ele lá havia colocado. Para mim, era como atingir um nível de importância semelhante ao homem que substituia e aquele autocolante lembrava-se desse facto. Na altura, naturalmente, era pouco mais do que um puto charila que sabia escrever e que, assim de rajada, tratou de alinhavar a antecipação de um concerto de Nick Cave no Coliseu dos Recreios, em Lisboa.

Quando hoje olho para a actividade que então iniciei e nela vejo uma meretriz manhosa, ocorre-me a dúvida: estaria hoje melhor se tivesse continuado a arquivar seguros?

Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.

Quiz

GNR

Esta semana chega com atraso relativo o rescaldo da mais recente participação do colectivo TV Rural no Quiz semanal do Espaço Portela. Mas chega. O que não chega, na realidade, é o quarto lugar atingido na classificação final. Não faz justiça ao já histórico combo, mas resultará em boa parte de uma instabilidade de balneário que se traduz em presenças e ausências imprevisíveis. É a irresponsabilidade, gentil leitor, é a irresponsabilidade. E quem mais, se não o titânico Clube da Latrina, para atingir um insuperável número de 43 respostas correctas a 50 perguntas? Teríamos, na ocasião, que usar telemóveis, um computador portátil com ligação wireless à internet e uma central nuclear para atingir semelhante feito. Mas não, humildemente penamos à espera que a glória nos reencontre. Que bom seria, na segunda-feira à noite, sabermos de caras o nome por que é conhecido o líder do 1º Comando da Capital que tem virado a cidade de São Paulo do avesso, quem era o sacana que, diz a mitologia, comandou as tropas de Tróia contra os gregos e que equipa ganhou esta época o campeonato nacional de rugby. Se na música o grau de acertividade tivesse sido inferior a 100 por cento, provavelmente estaria agora a escrever isto pintado de roxo. Era tudo, digamos, bastante fácil. Além de enunciar o nome dos Beatles que acompanhavam John Lennon e Paul McCartney, foi apenas uma questão de identificar canções assinadas pelos Peste & Sida, Whitesnake, GNR (na foto) e Paco Bandeira. O pior é que, com o Mundial a começar, tão cedo não haverá possibilidade de voltar a atacar o cume da tabela. Pelo menos o quatro é um número muito bonito. Digo eu.

Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.

28 maio 2006

Aguas de Maio

Guns N' Roses

Os juízos precipitados podem ser uma coisa muito desagradável. Felizmente, no caso dos Guns N' Roses, indissociáveis do telenovelesco silêncio editorial a que se têm dedicado, precipitação é factor que não se aplica.

Vem isto a propósito do Rock in Rio Lisboa, que está para ali a acontecer na televisão e, ao que parece, num espaço vagamente parecido com um parque de diversões musicado. De passagem pela SIC Radical, um Axl Rose em fase pré-reforma anuncia que vai sentar-se ao piano. O que já de si é preocupante torna-se particularmente grave quando começa a interpretar o, digamos, clássico "November Rain". O que faz pior é difícil de distinguir, se cantar, se assentar os dedos sobre as teclas. O piano soa mal como dificilmente se ouve onde quer que seja e a voz da criatura não coloca mais do que duas ou três notas no lugar certo ao longo de alguns minutos. Medonho. Como medonho é, um nadinha mais à frente, a estridente interpretação do, digamos, clássico "You Could Be Mine", agora já com todos os instrumentos e respectivos tiques de um grupo de rock'n'roll absolutamente anacrónico. E "Patience", outro, digamos, clássico, soa como soa uma banda treinada que ensaia pela primeira vez com um cantor.

A entremear a coisa, os meus camaradas Diogo Beja e Nuno Calado vão explicando que o novo (inserir gargalhada aqui) álbum, Chinese Democracy, não pode ser objecto de transmissão, daí os pontuais intervalos. Não há qualquer problema, qualquer drama, qualquer ansiedade. Depois de ouvido o que fizeram em Lisboa neste mês de Maio de 2006, as tristes cenas passadas há mais de uma década no antigo Estádio de Alvalade tomam agora contornos premonitórios. E uma vida completa o seu círculo.

Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.

23 maio 2006

Quiz

Body Rockers

Aqui há uns anos, não sei bem quantos por causa dos drunfos, disseram-me que era gajo para padecer de umas maleitas modernaças, tipo crises de pânico e ansiedade. As duas, porque parece que não são uma e a mesma coisa. Ora isto não é nada simpático. A sério, transforma a vida de um gajo, constrói medos nas condições mais improváveis e que antes implicavam prazer, entre diversas outras coisas pouco agradáveis. Por essas e por outras é que tenho tido algum cuidado com as emoções. Ou seja, da mesma forma que tento abstrair-me da identidade do novo treinador do Benfica, também há muito que decidi que não saltaria para o chão de algo mais alto do que um escadote dos pequenitos. Quis, infelizmente, o Quiz desta semana do Espaço Portela que eu e o combo TV Rural experimentássemos um misto de bungee jumping e queda livre. Aquilo que de positivo retiro da experiência é que, nestas circunstâncias, fico muito mais irritado do que ansioso. Devem ser bons, os comprimidos. Na prática, caímos do primeiro para o sexto lugar. Assim, sem espinhas, sem dúvidas e sem discussões. E a uma distância invejável do Clube da Latrina, eternos concorrentes de superiores prestações. Esta segunda-feira, nem a música foi mãe amiga. Começando pelo resto, era bom que soubéssemos em que lugar ficaram as moças portuguesas na edição última da Eurovisão, uma intrincada definição técnica do laser ou o nome da capital do estado brasileiro de Paraíba. Musicalmente, estou em condições de afirmá-lo, foi a pior prestação de sempre, mesmo que a ignorância em certas áreas seja merecedora de uma insígnia de Mérito Estético. Concretamente, sabe Deus que Paulo Gonzo se chama Alberto Ferreira Paulo, quem são a porra dos Body Rockers, que os telemóveis se vendem à custa dos Veils ou que os Whitesnahe e os Def Leppard não são uma e a mesma coisa. Na prática, valeu reconhecer os inenarráveis Live e uma definição muito vaga do meu amado reggae. No entanto, vou dizer à psicóloga que estou muito melhor. Já não sinto pânico, apenas fúria.

Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.

21 maio 2006

Nham nham...

Jackie Mittoo

Os tributos são, regra geral, uma monumental excreção intestinal. Este é, apenas, uma feijoada de choco ao jantar de um dia sem almoço. Um pitéu.

Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.

Eu nao vou

Onde não sou convidado. Não tenho dinheiro para essas coisas.

Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.

Fim-de-semana alucinante

Lordi

As três pessoas e meia que têm por hábito acompanhar os escritos que produzo saberão, por esta altura, que juntar frases na primeira pessoa do singular não é actividade em que sinta particular à vontade. Há, dentro de mim, sempre um feroz guerreiro tresloucado que defende que isso é coisa que não se compatibiliza com a actividade jornalística, que tanto prezo. Mais complicado se torna, portanto, usar a primeira pessoa do singular e falar dessa entidade, do que faz, do que fez, do que pensa, etc. Mas, de repente, ocorre-me que às tantas um blog serve para isso. E daí a partilhar algumas experiências de fim-de-semana é um passito de nada.

Lá pelas duas da manhã de sexta para sábado, e por coincidência cósmica de calendário, estava a ver e ouvir o colectivo Buraka Som Sistema (simpático aportuguesamento da vetusta tradição jamaicana dos sound systems) no Clube Mercado, em Lisboa. Por razões profissionais que mais para o Verão se perceberão, descobrir no próprio dia a ocorrência de semelhante evento não poderia resultar em indiferença ou preguiça. O facto de ter entrada gratuita teve também o seu peso na deslocação, obviamente, uma vez que no momento presente só é possível gravitar num raio de acção de uns cinco euros. Buraka Som Sistema, então.

Bela escolha para um serão. Devidamente acompanhado por um daqueles raros amigos que se disponibilizam a descobrir qualquer coisa que não conhecem, nem o celibato alcoólico impediu que, de um momento para o outro, estivesse yours truly a tentar fazer qualquer coisa de muito distante daquilo que se entende por dançar o kuduro. Porque é disso mesmo que trata o Buraka Som Sistema, de uma bomba atómica energética que, apesar de ainda perfeitamente underground, pode ser sem exagero comparado, como fenómeno, à explosão que nos últimos anos se deu no universo do funk de favela brasileiro. Rude, rudimentar, carnal e vertiginoso. Como diziam os outros, "É som de preto, de favelado/ Mas quando toca ninguém fica parado". É exactamente isto.

Melhor: é isto à excepção da referência ao preto. As tais três pessoas e meia que acompanham as minhas prosas sabem também que praticamente nada me surpreende mais do que quatro ou cinco pontos percentuais. Um desses raros casos deu-se, porém, na noite em questão. Tendo o humilde signatário vivido mais de meio século ao lado da Buraca, louco seria se não fosse ali para a Rua das Taipas na esperança de encontrar uma cave fumarenta, de atmosfera pesada apesar da destilação de prazer carnal, cheia de pretos (elogio). Onde encaixam então os sapatos de vela, os betos e as betas que em boa parte preencheram o espaço é, por isso, coisa cuja explicação me ultrapassa. Mas, tenho a certeza, foi coisa que inibiu um deleite maior. O Buraka Som Sistema, onde é bom ver Kalaf no papel de MC que se limita a debitar frases triviais, ele que para alguns cépticos é um bluff como diseur e intérprete de canções, é uma festa do cacete. Ao lado de Kalaf, discos que trituram kizomba e elementos tecno parcimoniosos e mais duas vozes, uma delas feminina a acompanhar movimentos de manifesta provocação dos sentidos.

Feita a noite, sabia que sábado era dia em que no Hattrick tinha vitória assegurada por falta de comparência do adversário. Mas a noite foi mágica, apesar de tudo. Foi noite de Eurovisão, ou da final do concurso, segundo percebi. Concluí, então, que eu e a Eurovisão estivemos este ano em absoluta sintonia, apesar de o amor que a dita me tem não ser correspondido. Num dia qualquer da semana que passou, numa suposta meia-final em que felizmente Portugal ficou pelo caminho (é assim que prefiro, como já expliquei noutra ocasião), dediquei-me a ver a primeira corrida de touros que reabriu o Campo Pequeno (sim, gosto de tourada) e que a TVI transmitiu. Num momento de fortuna suprema, um curto zapping pôs-me frente-a-frente com um grupo inenarrável que concorria à Eurovisão. Percebi que eram finlandeses, que tocavam um rock que já não se usa desde os Kiss e que, com delícia, ostentavam vestimentas que tanto faziam lembrar Alice Cooper quanto uns inqualificáveis Slipknot. É verdade. Era o Festival da Canção. Achei-lhes um piadão. Mesmo. Para a minha relação com o certame, uma coisa daquelas era o quintessencial sublinhar do ridículo.

Entretanto, sábado à noite. Decorria a tal final. O meu jogo no hattrick já estava acabado (com o proverbial 5-0) e procedia-se à votação very typical do universo Eurovisão, aquela sequência em que gente em cenários Photoshop começa uma alocução com a frase "and these are the results of the (...) juri". Espantosamente, a Finlândia, único país cujos representantes havia visto actuar dias antes, lideravam com largueza e preparavam-se para ganhar a coisa. Fiquei extasiado até ao final, numa frenética urgência de ver aquele aborto musical pseudo-conceptual fazer a intervenção final, receber ramos de flores à boa maneira do black metal nórdico e erguer uma qualquer peça de cristal que normalmente está sempre presente entre os troféus. E assim foi. Fiquei não menos do que maravilhado. Absolutamente maravilhado. Com isso e com Eládio Clímaco, homem com eternas saudades da Eurovisão "á séria" e dos Jogos Sem Fronteiras. Chamava-lhes montros de dois em dois minutos, fazia ironia com as fornadas de 12 pontos que arrecadavam à vez. Uma delícia que teria detestado não ver. Com a Eurovisão e estes concursos de canções definitivamente corrompidos e esventrados com tamanho descaramento, a alegria era difícil de conter. Eládio Clímaco tratou de fazê-la explodir quando contribuiu para o ridículo da coisa ao afirmar, duas vezes em 10 minutos, que para o ano a coisa decorre na Finlândia. Em Reykjavic, disse. Precisamente a capital da Islãndia.

Um domingo de frisbee e playstation com o filhote está a terminar. Com os Globos de Ouro ali de esguelha, que o coração já não dá para tanto absurdo seguido. O que vale a pena registar, no que às coisas que me interessam diz respeito, é que pela primeira vez na História da cerimónia a Impresa se lembrou que tem no seu espólio uma publicação musical, tendo este ano convidado o actual director do/a Blitz para integrar o júri de Música. Não me digam que o mundo não é um lugar maravilhoso...

(Omiti propositadamente o tiro na nuca que levei ao ver Fernando Santos ser apresentado como novo treinador do Glorioso).

Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.

19 maio 2006

Actividade socio-cultural do dia

Buraka Som Sistema

Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.

17 maio 2006

A final

Arsenal

Já conheço a história de trás para a frente. "O Arsenal? ****-se!", "Que equipa de *****" e "Não tem hipótese" são frases recorrentes nas últimas semanas.

Against all odds, e como sempre, quero o Arsenal no topo de mundo. Hoje, na final da Liga dos Campeões entram a perder por 10-0, a avaliar pela confiança dos infiéis. É-me indiferente.

Come on, you gunners!

Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.

"And her hearing aid started to melt..." Vol. XV

Sonotone do dia:

Matisyahu

Matisyahu: Youth (Março 2006)

Veredicto:

Só para o improvável caso de o gentil leitor não ter dado por isso, a Globalização já existe. Tem coisas porreiras, tem coisas desagradáveis e tem coisas estranhas. Ou seja, é uma espécie de cocaína geográfica e cultural. Ora é precisamente essa Globalização que faz com que, a 22 de Junho, possa o cidadão português ver um espectáculo de Matisyahu no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Incluindo-o no raciocínio, Matisyahu é uma das coisas estranhas da Globalização, para não dizer da Civilização. A diplomacia far-me-ia dizer a coisa de outra maneira, mas a economia de espaço obriga-me a dizer, sucintamente, que Matisyahu é um praticante judeu norte-americano que escolheu, vamos lá, uma forma maioritariamente jamaicana para exprimir-se - o roots reggae, o dancehall, o ska ou um pedacinho de cada um. A revista Esquire (que não deixa de não constituir exemplo para ninguém) chamou-lhe "o mais misterioso artista do reggae do mundo". Tem razão. E, no meio disto tudo, Matisyahu soa mais aos meus preciosos Sublime infectados pelos piores tiques do rock à conta de convictas facadas infligidas por Sizzla do que a uma coisa, digamos, jamaicana. É conferir, sobretudo, o álbum Live at Stubbs, do ano passado (certamente um dos poucos discos ao vivo que aqui mencionarei; detesto-os). Bom, Youth é o segundo álbum de estúdio de Matisyahu e, logo para começar, é em boa parte produzido por Bill Laswell, o homem que tanto é capaz de produzir um dub de fino recorte como de assassinar as canções de Bob Marley. E é um disco que anda perfeitamente entre aquilo que para aqui estou a escrever. O problema é que Life at Stubb's, mesmo sendo "ao vivo", continua a soar muito melhor do que Youth, que, lá para meio, começa a fabricar viscosidade. Mas dizer que Matisyahu é uma coisinha má é exagerado. Não é uma coisinha má. Também no rock cristão não há-de ser tudo uma trampa, suponho. Matusyahu é um jovem de 26 anos, bem intencionado e que sabe fazer a sua coisa, que é apropriar-se do património jamaicano para emitir mensagens de paz e amor e essas coisas. Isso é, digamos, bom. Mas como quem não é purista em relação à música jamaicana não a ama verdadeiramente, há por Youth elementos que Lee "Scratch" Perry dispensaria sem hesitar. Realmente a sério, Matisyahu é um gajo para descobrir. Para ficar a conhecer em parte, pelo menos, já que o retrato completo não se lhe tira com facilidade. E atente o estimalo leitor que no dia 22 de Junho a coisa não deve ser nada má no Coliseu dos Recreios, se conseguir hibernar numa abstracção em relação à "geração Gentleman". 69,3% de satisfação garantida.

Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.

16 maio 2006

Segredo

Fátima

Uma das piores coisas que pode acontecer é a um blogger é sentir a obrigação de andar atento a tudo o que o rodeia para assim encontrar uma justificação para mitigar o sentimento de culpa derivado do facto de andar sem escrever. Pois a mim já me aconteceu. Fica esclarecido. Não sei se foi essa patologia que aqui me fez regressar com tanta brevidade, mas a possiblidade existe.

Estava ali a ver o "Levanta-te e Ri", sempre naquela esperança dolente de encontrar um novo Bruno Nogueira, e estava o Carlos Moura (digo "o" porque, confesso, tenho uma relação relativamente estável com o programa) a falar do passado 13 de Maio, feriado, Fátima, aparição, etc. O patuá envolvia, naturalmente, umas palavras dedicadas às lojas de souvenirs que dão colorido à paisagem de Fátima. E aí, como descrente, lembrei-me de uma ida familiar a Fátima que envolveu passagem por uma dessas santas fileiras comerciais. Depois, lembrei-me que havia uma ligação qualquer entre a minha descrença e aquilo que lá fiz quando era puto e não sabia patavina sobre ironia.

O único objecto com a imagem de Fátima que alguma vez foi meu foi-me oferecido dessa vez e era um canivete de tamanho nada desprezível e com duas lâminas que cortavam de facto.

Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.

Quiz

Falco

(Regressando às desculpas vagamente verdadeiras enunciadas há exactamente uma semana para justificar alguma negligência intelectual neste espaço por parte de quem o assina, devo esclarecer que devem existir novidades a apresentar em breve. Ou podem, vá lá, aqui surgir novidades. Depende um pouco da votade. Quer dizer, depende também do tempo e da ausência dele, mas é lógico que aqui têm que estar pérolas como as minhas seminais think pieces, as análises críticas denominadas And Her Hearing Aid Started to Melt. Mas há mais coisas, acho eu. Há coisas boas para aqui colocar, parece-me. Por exemplo, eu estaria, caso fosse o gentil leitor, atento ao que dentro de pouco tempo começará a passar-se no antigo bar Fremitu's, no Bairro Alto, em Lisboa. Quem avisa...)

Estabilizado o já histórico porém discreto combo intelectual TV Rural com uma formação idêntica durante duas semanas consecutivas, o resultado de mais uma presença no Quiz semanal do Espaço Portela voltou a ser uma aventura abrilhantada pela mais elementar justiça. O que significa, mais exactamente, que ganhámos aquilo. Apesar de partilhado com o também valoroso Clube da Latrina, o triunfo do TV Rural recoloca a verdade desportiva no local de onde a dita não devia ter saído. Com vantagem respeitável sobre os segundos classificados, como é desejável, com sabedoria galopante aplicada a diversas áreas do conhecimento, como deve ser. Uma categoria e um primor. A coisa poderia ter sido melhor se, para que hoje tivesse mais dinheiro para gasóleo por via de um não-ex-aequo, se tivéssemos respondido acertamente a questões que se prendiam como um designação científica de algo que nem me recordo habitualmente de possuir, a vesícula; o nome de uma porra de um fenómeno luminoso que acontece lá para o Sol Poente; ou quantas vacas pintadas estão exactamente espalhadas por várias partes de Lisboa (evitar o pensamento fácil e genital). No capítulo musical, pode dizer-se que o pleno foi semi-atingido. Se é certo que ninguém fazia orgulhosamente ideia do nome do mais recente disco de Paulo de Carvalho, supostamente dedicado aos seus êxitos, não deixámos de com soberba demonstrar conhecer o nome das Nonstop quando se quer saber quem representará Portugal naquilo da Eurovisão este ano. No que à música tocada diz respeito, saíram com relativa tranquilidade as respostas alusivas à identificação de Eve, do finado Falco, de Manuel Freire (cuja "Pedra Filosofal" ainda valeu a este subscritor um delicioso Ice Tea Green como resultado de uma aposta) e dos sempiternos Stereo MC's. O Engº Sousa Veloso, de quem ninguém sabe há meses, diz que sem ele nunca triunfávamos. O Engº Sousa Veloso está suspenso da equipa.

Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.

09 maio 2006

Quiz

Opus

A gentil audiência perdoará, ou não (na realidade, é-me indiferente) algumas ausências prolongadas no que à escrita para este espaço diz respeito. É que, como sabe o condescendente leitor, há na vida por vezes elementos muito mais importantes do que a urgência de alimentar um blog. Refiro-me, por exemplo, a mimar quem nos é verdadeiramente querido, a juntar palavras cujo resultado normalmente proporciona retorno financeiro, a lidar com imbecis poderosos ou a contar amigos que desaparecem quando são procurados. Depois há, claro, as tradições, como voltar a casa e falar do regresso às pontualmente interrompidas sessões semanais do Quiz do Espaço Portela. Para um regresso, a coisa não correu mal. Em forma a melhorar, sem o Engº Sousa Veloso mas com uma presença feminina que me é particularmente cara, o combo intelectual TV Rural arrancou um mais do que honroso segundo lugar. Que soube bem, tendo em conta que o primeiro ficou a quatro respostas certas de diferença e só um milagre faria com que tiros de sorte valessem o cume do pódio. Entre os quatro conhecimentos necessários à vitória (cinco se quiséssemos erguer o troféu sem concorrência), constavam: conhecer uma porra de uma definição científica para a maleita do milénio, a celulite; qual o símbolo químico do mercúrio; ou o nome por que ficou conhecido o maior massacre da Guerra Colonial. Em matéria puramente musical, faltou chegar ao nome dos Big Mountain (falha pela qual penarei longas semanas), uma vez que o resto dizia respeito aos seminais austríacos Opus (ironia) e à eterna dupla composta por John Travolta e Olivia Newton-John. Não perca o estimado leitor a esperança de aqui ir encontrando novidades, que eu também não a perco.

Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.

03 maio 2006

O/A Blitz, agora por quem sabe o que diz

Só agora o li, mas em boa hora o fiz. Jorge Manuel Lopes, quem mais?, disserta sobre o passamento e anunciada ressurreição no valiosíssimo A Vítima Respira?.

Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.

02 maio 2006

Impalados Vol. MCCXXXLVIII

Impala

Não sendo novidade, a prática destas bizarrias não deixa de merecer divulgação em massa. Há sempre a esperança de que alguém exija um comprovativo de sanidade mental ao cavalheiro.

Noticia hoje a Meios & Publicidade:

'O Sindicato de Jornalistas (SJ) emitiu um comunicado onde denuncia que o “patrão da Impala ofende directores”. Segundo o SJ, Jacques Rodrigues terá enviado uma comunicação interna com o intuito de transformar “os directores das suas publicações em controladores de saída dos jornalistas”.

Esta norma, que terá entrado em vigor a 27 de Março, “impõe que os directores preencham um documento de autorização de saída do edifício Impala”. Para o SJ o “Documento de saída do Edifício Impala”, que implica ainda a explicação do “motivo de saída”, constitui “uma violação grosseira da reserva do trabalho jornalístico e até uma humilhação dos directores e dos jornalistas”.

O Sindicato acusa ainda Jacques Rodrigues de agir “como se não fosse possível acontecer nas suas redacções o que acontece em qualquer redacção”. No mesmo documento, o SJ “expressa a sua solidariedade para com os jornalistas da Impala e apela para que se reorganizem na defesa dos seus direitos”'.

Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.