19 setembro 2006

Monarquia ambulante



Gosto muito de autocolantes. Ou, para usar um linguajar mais street/fashion, gosto muito de stickers. Ainda ontem comprei um capacete para andar de bicicleta e só descansei quando o vi abundantemente abrilhantado por uns quantos autocolantes.

Reparo normalmente nos autocolantes que se exibem na parte traseira dos automóveis. Dos mais espirituais aos mais mundanos, dos esteticamente apelativos aos absolutos homicídios do bom gosto. O problema desses autocolantes é serem duradouros, terem uma natureza estática, não evolutiva nem transformista. Os autocolantes deviam variar com o estado de espírito. É por isso que defendo a ideia de que os carros deviam vir equipados com um visor de leds vermelhos, tipo talho, em que o condutor passa mensagens para quem o rodeia. É muito mais eficaz e literário do que um dedo em riste.

Voltando aos autocolantes, muitos se lembrarão do flagelo que há uns anos se abateu sobre o parque automóvel português na forma de um rosto feminino em branco, preto ou encarnado. Era a imagem de uma discoteca em Benidorm, Ibiza, ou coisa que o valha, mas que importância tem isso? Se alguém teve a ousadia de considerar o objecto como algo de valioso, nada como imitar o nosso vizinho nessa cruzada.

Há, no entanto, uma tormenta mais resistente e duradoura do que a protagonizada pela Penélope. São os autocolantes com a imagem monárquica na traseira dos automóveis. Não há, com toda a certeza, quem nunca os tenha visto. Haverá, no máximo, quem nunca lhes tenha prestado atenção, o que se compreende perfeitamente dada a irrelevância do assunto. O que fascina é a motivação agregada ao acto de colocar semelante imagem junto à inestética matrícula normalizada. Tratar-se-á de uma espécie de "Quer ser brasonado? Pergunte-me como", digo eu. Ou de uma orgulhosa demostração de fervor clubístico: "Alista-te!". Ou mesmo da propagação da fé: "O Rei salva!". Talvez até da subtil expressão de um desejo: "Queremos Sá Pinto de novo na selecção!". Por uma qualquer razão, tenho sempre medo de olhar para quem conduz uma viatura ornamentada com um desses autocolantes. Sabe-se lá se não vão querer vender-me alguma coisa.

Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.

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