09 fevereiro 2007

Diz-me que droga usas...



Por esta altura já o estimado leitor terá percebido que cabeça para escrever neste espaço é coisa que não anda por aí com fartura. Entre outros factores, há a necessidade primária de encontrar alternativas várias de sustento, cujo limite estará na actividade da venda do corpo. Segundo me parece, o mercado para pessoas com excesso de peso ainda não é compensador em Portugal.

Mas há, por vezes, fenómenos a que não é possível fugir, sobretudo se estivermos mais interessados na música e nos seus contextos do que no barulho das luzes. Não me estenderei muito na explanação da teoria. Não só porque ela não precisa de exaustiva demonstração como, a precisar, então que alguém como K-Punk o faça. O homem nasceu para isso.

Na sua mais recente edição, a estupenda XLR8R colocou na capa os Klaxons, uma das mais recentes descobertas tornadas possíveis graças à internet e a universos como o MySpace. Apesar da capa perturbadora para quem, como eu, se sente tão atraído pelo psicadelismo como pelas matemáticas aplicadas, colocar a banda britânica na capa da revista levanta questões interessantes. Desde logo, parece querer legitimar um movimento. E é aí que está o problema.

Vivian Host, editora da XLR8R, confessa que já desde o Verão passado ponderava a hipótese de dar expressão jornalística a esta vaga psicadélica que alegadamente tem nos Klaxons o expoente musical mais interessante e proeminente. Não o fez até aqui, é certo, mas desta vez cedeu à tentação de criar um fenómeno perfeitamente estéril. Diz Host, no artigo resultante de uma entrevista difícil, que os Klaxons retratam qualquer coisa como um movimento "new rave".

Vejamos: os Klaxons são uma boa banda. Muito boa, até, quando comparada com um punhado de coisinhas inofensivas que do Reino Unido anualmente surgem em barda. Mas são uma banda de rock com elementos punk e, ao que parece, um fascínio qualquer por aquele período tresloucado da transição dos anos 80 para os anos 90 do século XX. O período das raves, dos Happy Mondays e dos Stone Roses, do ecstasy e dos warehouses. Os Klaxons, estimado leitor, são três. O mais velho dos três tinha 10 anos quando todos os excessos se inscreveram na História da cultura popular.

Os Klaxons, em cujo álbum Myths of the Near Future se encontram de facto apreciáveis estilhaços sonoros dessa época de glorificação electrónica, têm também uma versão de "The Bouncer", original de 1992 do projecto Kick Like a Mule (onde esteve a génese da XL Recordings, editora dos Prodigy). Bouncer, caso o leitor não saiba, é a figura do porteiro de discoteca ou de uma qualquer festa, descontroladamente mitificada em Inglaterra ao longo dos anos. Partir desse facto, juntar-lhe um ou outro sample do período acid house e criar o movimento "new rave" é uma aberração. Acredite em mim, estimado leitor.

Que se saiba que, tal como o EP Xan Valleys, também o álbum Myths of the Near Future é um objecto de descoberta recompensadora. O que não tem sentido absolutamente nenhum é vender uma qualquer visão caleidoscópica do universo artístico lá porque a fusão de dois ou três elementos parece maravilhosa sob o efeito de um ácido.

Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.

1 comentário:

  1. Também me custa a compreender a criação de todo este exagero à volta dos Klaxons. São bons? São. O álbum é aceitável? Sem dúvida. New rave? Epá...

    ResponderEliminar