05 julho 2007

"And her hearing aid started to melt..." Vol. XVII

Sonotone do dia:



Maps: We Can Create (Maio 2007)

Veredicto:

Maps started at the end. The end of the night, the end of the music. When the last beat was dropped and the needle finally slipped off the groove, a lost soul began drifting through empty Northampton streets in the vague direction of home. Alas, he never arrived. For it was during his euphoric twilight stumble that this particular ending gave way to a bright new beginning; it was here, in the half light of a joyously desolate Sunday morning, that Maps made itself exist. Spinning through Earth's orbit, he was the first audionaut of our generation.


O que acima se encontra é um excerto do textículo com que a Mute Records apresenta o projecto Maps, existência praticamente solitária pensada e concretizada por James Chapman num qualquer quarto de Northampton, Inglaterra. A prosa, escrita certamente por alguém que não exerce funções na editora - é uma questão de abertura mental, de capacidade de partir da música para visões abstraccionistas do mundo -, é sugestivamente vazia de conteúdo.

De resto, música como a faz James Chapman é ela própria de tal forma arejada que muita gente haverá que a sente vazia, apenas alicerçada nas brisas ocasionais que deambulam entre névoa electrónica e estilhaços de canções pop. Outras pessoas, por seu turno, fazem o costumeiro exercício de biotecnologia virtual: imaginemos a combinação genética de elementos resgatados aos Spiritualized e aos My Bloody Valentine, mais doses não desprezíveis dos Four Tet e Boards of Canada. Assim reza o All Music Guide, por exemplo.

Ter passado pela década de 80 e crescido a ouvir a música pop que desde então floresceu sob os mais diversos matizes é, muito provavelmente, condição necessária para não sentir que a um disco como We Can Create, o primeiro dos Maps, falta toda a tangibilidade que se exige à arte contemporânea, a ligação ao quotidiano, o odor a mundano, os traços meticulosamente toscos da cultura de rua. Para quem, no entanto, se habituou a fazer conviver na cavidade auditiva as mais desbragadas goluseimas pop com um sentimento mais negro assente na ideia de que toda a arte nasce do sofrimento, os Maps são afinal coisa familiar.

Já por aí há quem diga que We Can Create falha por ser obra relativamente inofensiva, onde nada acontece acima ou abaixo de duas linhas de segurança. A falha, porém, é de quem não consegue instalar-se entre essas duas linhas e aí, de olhos cerrados, fazer viagens intercontinentais sucesssivas de 52 minutos de duração. We Can Create é, sem espinhas, um álbum a figurar naqueles inventários de final de ano. Mais urgente é, no entanto, decretar "You Don't Know Her Name" a canção oficial do Verão 2007. Por muito saloia que essa ideia hoje possa parecer.

84,5% de satisfação garantida.

Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.

2 comentários:

  1. sem duvida um dos albuns que mais tem rodado por cá. surpreende e vai conquistando..boa escolha.

    cumprimentos

    ResponderEliminar
  2. excelente álbum e é bom ver que há quem o divulgue.

    http://frankenweeniegoestohollywood.blogspot.com/

    ResponderEliminar