Confesso que gosto de consultar listas mas que detesto fazê-las. É um problema que, tem sobretudo, que ver com um já vetusto défice de memória recente. Sei lá eu, normalmente, se um disco foi editado num ou noutro ano, num ou noutro mês. E, como consumidor compulsivo de música, tantas são as novidades que me ocupam os ouvidos que acabo por preocupar-me mais em descobrir a próxima do que anotar aquelas que me vão impressionando.
Nos últimos anos fui, de alguma forma, obrigado a executar listas das melhores coisinhas musicais do ano. Este ano, pensei eu, estava safo, não tinha que preocupar-me com esse departamento do meu disco rígido mental. Mas não. Os meus bons amigos da Mondo Bizarre, onde colaboro, pediram-me gentilmente os meus 25 álbuns do ano. E acabei por escolher os que se seguem. Que, certamente, amanhã seriam outros. Conferir, se faz favor, na edição #25 da revista.
E com isto encerro o péssimo ano de 2005 no que aos despachos aventados para este espaço diz respeito. Quero esquecer rapidamente este ano e entrar em estágio para o seguinte, em que novas teorias e barbaridades aqui encontrarão o seu albergue. Quis o universo que 2005 fosse um dos piores anos da minha vida. Como tal, não tenho vontade de desejar um feliz 2006 ao universo.
Aqui fica a lista, sem gradação e por ordem alfabética:
Amadou & Mariam: "Dimanche à Bamako"
Animal Collective: "Feels"
Art Brut: "Bang bang Rock & Roll"
Black Rebel Motorcycle Club: "Howl"
Damian "Jr Gong" Marley: "Welcome to Jamrock"
Devendra Banhart: "Cripple Crow"
Echo and the Bunnymen: "Siberia"
Editors: "The Back Room"
Fat Freddys Drop: "Based On a True Story"
Franz Ferdinand: "You Could Do It So Much Better"
Hard-Fi: "Stars of CCTV"
Kaiser Chiefs: "Employment"
Kanye West: "Late Registration"
LCD Soundsystem: "LCD Soundsystem"
The Magic Numbers: "The Magic Numbers"
Maximo Park: "A Certain Trigger"
M.I.A.: "Arular"
The Mitchell Brothers: "A Breath of Fresh Attire"
Old Jerusalem: "Twice the Humbling Sun"
Public Enemy: "New Whirl Odor"
Rihanna: "Music of the Sun"
Rocky Marsiano: "The Pyramid Sessions"
Sinéad O'Connor: "Throw Down Your Arms"
Sufjan Stevens: "Illinoise"
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
29 dezembro 2005
22 dezembro 2005
Exijo debate
Exijo o debate "presidencial" mais aguardado dos últimos cinco anos. Que se amanhem as televisões, que se organizem as rádios, que se entendam os jornais, que se faça Feriado Nacional nesse dia, que antes do serão televisivo todo o Portugal passeie em Belém à beira-Tejo. Exijo, para data tão próxima quanto possível, o debate entre Garcia Pereira e Manuel João Vieira. Sugiro que as regras sejam apenas as do futebol australiano e que o árbitro, único, seja Eduardo Prado Coelho. Quero que o debate e as respectivas repetições passem àqueles dias e àquela hora em que o inestimável Viver/Vivir se transforma num retrato hiper-realista das diversas manifestações de afecto conhecidas pelo homem e pela mulher. E pelos cães, e pelos cavalos.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Queira desculpar...
Queira o mais do que gentil leitor desculpar alguma irregularidade na cadência a que os posts vão sendo colocados neste meu cadinho dessa coisa de nome hediondo que é blogosfera.
Na realidade, isto tem razões, e razões tão relevantes quanto absolutamente desprezíveis. Sobretudo, tenho outras coisas para fazer, como dormir que nem um gato anestesiado, escrever para finalidades que serão conhecidas mais tarde ou mais cedo, travar uma já lendária relação com a Segurança Social para receber aquilo a que tenho direito, ir construindo um projecto que nasceu de uma visão e, no meio de tudo, adquirir por formas diversas e ouvir música.
Nos últimos dias, tem-me ocupado especial parte do tempo a descoberta do universo dos Podcasts. São, para os menos dados a estas coisas, ficheiros áudio (como misturas pessoais, alocuções, programas de rádio, etc.) que podem ser puxados para o computador de qualquer cidadão que o ouve quando bem o entender. Os Podcasts pressupõem regularidade, o primeiro passo para a fidelização de ouvintes.
Ando a estudar como se fazem e difundem Podcasts. Numa noite recente, num excelente programa de televisão que a 2: costuma transmitir na madrugada de um qualquer dia da semana, o "Clube de Jornalistas", falava-se da importância da blogosfera na definição da intenção de voto na véspera de uma eleição como a que aí vem. A esse propósito, e com razão, dizia um estudioso na matéria eleitoral que os muitos blogs de natureza política, mesmo os mais reputados e alimentados pelos mais ilustres pensadores, são lidos por uma quantidade parasitária da população.
Dizia o mesmo convidado que os blogs, quem os mantém e quem os consulta compõem hoje uma elite intelectual. Como não lhe detectei intenção jocosa, não me chocou a expressão. Só que ter um blog não significa pertencer à tal elite intelectual que trata a internet por "então, pá?". Eu sou o primeiro a assumi-lo e a confessá-lo. Nos dias que correm, sou um patego info-excluidíssimo.
Ando há dias a estudar os Podcasts. Já misturo no Audacity, já sei converter em mp3 aquilo que faço, já estou inscrito ou Ourmedia.org. Só que não faço a mínima ideia do que são ficheiros XML, não suspeito sequer da definição de RSS Feeds e coisas do género com que me vou deparando nos mais diversos turoriais. Uma coisa garanto, no entanto. Mais mês, menos mês, este blog terá aqui um link para o primeiro de uma possível série de Podcasts.
Às tantas ainda ressuscito O Mensageiro da Moita, que aos domingos à noite fazia na finada Voxx a mielas com o meu camarada Luís Pinheiro de Almeida, o Beatle português. É que, olhando para a rádio que hoje nos acompanha no automóvel, prefiro claramente ouvir as alarvidades passadas dentro de um estúdio onde aconteceu tudo menos relações sexuais.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
20 dezembro 2005
Quiz
Espaço Portela. Equipa definitivamente baptizada TV Rural e em rota de colisão com o primeiro lugar. Começa a parecer repetitivo até para os intervenientes, mas voltou a ser um segundo lugar. Teria dado para ganhar se, por exemplo, na ocasião nos tivesse ocorrido que uma determinada arma de fogo era o propalado bacamarte, qual o adjectivo que se dá ao touro cujo pelo é preto e não brilhante e o local onde a Casa Pia foi estabelecida a 3 de Julho de 1788. Na música, para gáudio deste humilde escrivão, reconquistámos o pleno. Desta vez, graças aos House of Pain, Soup Dragons e, cof cof..., The Hooters.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
17 dezembro 2005
O regresso da besta
Já aqui tinha falado desta criatura. Desta vez, não tenho muito a dizer. Aqui fica a resposta da incapacitada ao fidelíssimo retrato que Nuno Markl lhe fez. Ainda estou abananado. Ah! Não esquecer que a culpa disto é de Inês Serra Lopes. E que "colegas" são as putas, na cartilha jornalística.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
15 dezembro 2005
"And her hearing aid started to melt..." Vol. XII
Sonotone do dia:
Brian Wilson: "What I Really Want for Christmas" (Novembro 2005)
Veredicto:
Não nos esqueçamos do último álbum a solo que Brian Wilson editou. Foi "Smile", o tal famoso projecto que passou décadas numa arca frigorífica e que acabou por ser aclamado como uma obra-prima, coisa só vista quando os Beach Boys editaram "Pet Sounds". Perante os factos, é impossível assumir a postura da ausência de expectativas. Mesmo dado o desconto de que Brian Wilson já não joga, há uns bons anos, com o baralho todo, não é fácil aceitar que a vontade de mudar de disco para disco resulte numa irrelevância deste calibre. Muito bem que Brian Wilson, dado a estas coisas dos "discos natalícios", tenha tido vontade de fazer mais um, agora no período pós-"Smile". É precisamente aí que reside o problema. É uma gaita quando um gajo que faz uma obra-prima com avultados recursos passa a fazer tudo dessa forma daí para a frente. Uma porra de uma canção de Natal não tem, nem quer ter, uns solos de saxofone só ouvidos por esta altura num El Corte Ingles. É nisso, nessa grandiloquência despropositada, que "What I Really Want for Christmas" não cumpre aquilo a que, aqui entre nós, se propõe: ser coisinha tão boa ou melhor do que o delicioso "Beach Boys' Christmas Album" (1964). Há por aqui uma canção nova, "Christmasey", que mesmo tratando-se apenas de uma balada vagamente simpática, mostra melhor onde Brian Wilson esconde o génio do que todo o resto do disco. Eu, que já me dei à loucura de acompanhar um serão de Natal com "Beach Boys' Christmas Album", não voltarei o farei com este "What I Really Want for Christmas". 34,8% de satisfação garantida.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Brian Wilson: "What I Really Want for Christmas" (Novembro 2005)
Veredicto:
Não nos esqueçamos do último álbum a solo que Brian Wilson editou. Foi "Smile", o tal famoso projecto que passou décadas numa arca frigorífica e que acabou por ser aclamado como uma obra-prima, coisa só vista quando os Beach Boys editaram "Pet Sounds". Perante os factos, é impossível assumir a postura da ausência de expectativas. Mesmo dado o desconto de que Brian Wilson já não joga, há uns bons anos, com o baralho todo, não é fácil aceitar que a vontade de mudar de disco para disco resulte numa irrelevância deste calibre. Muito bem que Brian Wilson, dado a estas coisas dos "discos natalícios", tenha tido vontade de fazer mais um, agora no período pós-"Smile". É precisamente aí que reside o problema. É uma gaita quando um gajo que faz uma obra-prima com avultados recursos passa a fazer tudo dessa forma daí para a frente. Uma porra de uma canção de Natal não tem, nem quer ter, uns solos de saxofone só ouvidos por esta altura num El Corte Ingles. É nisso, nessa grandiloquência despropositada, que "What I Really Want for Christmas" não cumpre aquilo a que, aqui entre nós, se propõe: ser coisinha tão boa ou melhor do que o delicioso "Beach Boys' Christmas Album" (1964). Há por aqui uma canção nova, "Christmasey", que mesmo tratando-se apenas de uma balada vagamente simpática, mostra melhor onde Brian Wilson esconde o génio do que todo o resto do disco. Eu, que já me dei à loucura de acompanhar um serão de Natal com "Beach Boys' Christmas Album", não voltarei o farei com este "What I Really Want for Christmas". 34,8% de satisfação garantida.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Russell Crow e Jimmy Cliff
Não conheço quem não tente, com mais ou menos frequência, fazer-nos pensar que a vida não é uma coisa má, que há gente em muito piores situações, que "depois da tempestade vem a bonança", esse tipo de coisas.
Confesso que essa conversa me irrita moderadamente. Quando se dá o caso de ouvir coisas do género, o que na circunstância me apetece é alguma solidariedade. Não do tipo "pois, estás mal...", mas uma coisa mais enérgica, mais proactiva, do estilo "eu resolvo-te o problema", "tenho um primo que te arranja isso sem problemas" ou "eu dou-te o dinheiro, não é um empréstimo". Isso é que era bonito.
Mas não tenho dúvidas que quem consegue genuinamente encarar todas as circunstâncias da vida como relativas vive mais contente do que nós, os que são como muitas vezes eu sou. Só que, sendo eu português, sou obviamente muito mais fadista do que zen.
Tudo isto para chegar à combinação de duas frases que (re)absorvi recentemente em situações e alturas completamente distintas. São duas frases de contextos enormes, mas que em sequência funcionam bem para transmitir um estado de espírito a que não sou totalmente indiferente.
Vi muito recentemente, pela primeira vez, "Cinderella Man", o de Ron Howard (2005). E adorei o filme. Também porque desde que sou pai sou também mais sensível a coisas que antes me eram completamente distantes. A dada altura do filme, o pugilista herói James Braddock (Russell Crowe) diz a Mae Braddock (Renée Zellweger), sua mulher: "Deixa-me estar no ring. Pelo menos ali vejo quem me bate".
Há pouco, deu-me para regressar à banda-sonora de "The Harder They Come", alusiva ao primeiro filme comercial produzido na Jamaica, em 1972. O protagonista do filme, Ivanhoe "Ivan" Martin, tenta vingar na indústria musical de Kingston, a coisa corre mal e transforma-se num assassino desportivo. Mas no meio dessa coisa que corre mal dá-se a gravação em estúdio, e integralmente no filme, desse portento arrevezado de reggae que é, precisamente, "The Harder They Come". E dessa canção fica-me sempre, mas sempre, o refrão: "The harder they come, the harder they fall, one and all".
Por alguma razão estas duas frases, combinadas em sequência, são-me vagamente familiares neste momento.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
13 dezembro 2005
Quiz
Mais uma noite de segunda-feira no Quiz do Espaço Portela. Equipa completa, com o rookie Miguel em evidência. Duas equipas empatadas em primeiro lugar, nós a seguir com uma resposta certa a menos. Pela lógica, deve ter sido um terceiro lugar. Deata vez, teria dado jeito saber, entre outras coisas, em que concelho fica a Barragem de Queimadela, qual o licor feito com ovos crus e brandy e o símbolo químico do Zircónio. Na música, vá lá, novamente fizemos o pleno, cortesia dos Lemonheads (a versão de "Mrs. Robinson" ainda levou alguns a Simon & Garfunkel), Queens of the Stone Age, Quinteto 1111 e Tears for Fears. Andamos a cheirar o primeiro lugar, digo eu.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
07 dezembro 2005
E hoje?
Não é de vida ou de morte, como é óbvio. Mas o jogo de hoje ainda não se realizou e assume já proporções épicas. Antes de entrar em estágio psicológico, aqui fica a capa do programa de jogo do de 1968. O tal em que George Best partiu a loiça toda. Não sei se está planeado, mas hoje só ficaria bem uma homenagem especial ao recém-falecido. Nem que para isso seja necessário ouvir Eusébio falar inglês. De resto, hoje ouve-se apenas a fé.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Gypsy Kings e garrafas de cerveja
Já há algum tempo que andava para pegar nisto. Deve ainda ser do efeito "Alta Fidelidade", o livro, que comunica com qualquer melómano como poucos livros do escrevinhanço contemporâneo. É, com toda a certeza, a atracção natural por um livro com um título como "31 Songs" e um aspecto físico atraentíssimo, capa dura, pequenas dimensões, um aroma vintage que parece recordar coisas que não foram lidas.
Peguei finalmente no objecto. Sabendo, à partida, que as 31 canções que Nick Hornby escolheu para motivar pequenas prosas são, na sua grande maioria, ou atribuídas a músicos que esteticamente pouco me estimulam ou que desconheço de todo. Os Gypsy Kings enquadram-se ma perfeição na primeira categoria. Têm o mérito de agir sobre o meu sistema nervoso com rara eficácia. Imagine o gentil leitor o efeito dos apitos de ultra-sons sobre os canídeos.
Os Gypsy Kings vêm, neste caso, a propósito dos Teenage Fanclub. Perfeitamente lógico. Como um livro sobre canções, gostos, experiências e influências deve ter tudo menos uma objectividade exacerbada, percebe-se. A alusão é feita logo na elocubração sobre a primeira canção escolhida, "Your Love is the Place Where I Come From", que os Teenage Fanclub incluíram no álbum "Songs From Northern Britain" (1997).
A referência aos Gypsy Kings é para aqui chamada porque o grupo surge no livro acompanhada por uma referência a Lisboa. Tentando fazer luz sobre o processo mental que coloca determinadas canções na categoria das memórias perenes, escreve Nick Hornby, para surpresa nossa: "Há uma canção dos Gypsy Kings que me lembra ter sido bombardeado por garrafas de cerveja de plástico num jogo de futebol em Lisboa".
Há duas questões que me sinto impelido a partilhar: 1) se o nome em causa é o dos Gypsy Kings, percebe-se melhor a atitude vagamente hooliganesca de quem atirou garrafas de cerveja de plástico - provavelmente, os homens de "Bamboleo" também estimulam os nervos dos espectadores de bola; 2) ou eu tenho frequentado estádios de futebol muito bizarros ou não sei de todo em que recinto dessa natureza circulam garrafas de cerveja de plástico.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Cinema Paris
Confesso-me muito curioso (certo, moderadamente curioso) em relação ao futuro próximo do Cinema Paris, ali à Estrela, em Lisboa. Constou-me que esse futuro passa pelas mãos de um músico, o gentil tripeiro conhecido como baterista dos Xutos & Pontapés. Gosto dele. Tenho a certeza de que por sua vontade nascerá ali uma sala a ter em conta no limitado universo lisboeta. Se fosse eu rebaptizá-lo-ia como Paris-Texas.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
06 dezembro 2005
Vantagens Clube Senior
Mais uns milímetros para a cordilheira de leituras altamente recomendáveis da estação. Apesar do travo gerontófilo que a afectou nos anos mais recentes, a respeitável Uncut dedica a sua edição de Janeiro de 2006 a uma efeméride. Vinte anos passaram sobre a edição do mais assombroso álbum dos Smiths, "The Queen is Dead". Na capa da revista, uma das imagens da lendária sessão fotográfica à porta do Salford Lads Club, em Manchester. No interior, Simon Goddard, autor do biográfico e soberbo "The Smiths: The Songs That Saved Your Life", conta essa linda história de realeza morta com o auxílio de três interlocutores vagamente importantes: Johnny Marr, Andy Rourke e Mike Joyce, respectivamente guitarrista, baixista e baterista dos Smiths. Morrissey fica sempre de fora nestas coisas. Não se pense, no entanto, que é fácil juntar os outros três na mesma edição de uma revista. Já não é a primeira vez em que penso que gostaria de ter Simon como primeiro nome e Goddard como apelido.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Bella donna
Boa surpresa de paragem inusitada. A edição italiana da vetusta Rolling Stone é, provavelmente, a melhor que já passou pelas mãos e pelos olhos deste humilde escrivão. Pelo menos se todos os números estiverem em nível semelhante ao do #26, de Dezembro de 2005.
O formato é simultaneamente mais apetecível do que o norte-americano, o espanhol ou o francês: 29,5 cm por 24,5 cm, 212 páginas e uma apetecível lombada. No interior, juntam-se, por exemplo, os seguintes artigos:
> Editorial de Jann S. Wenner (fundador da Rolling Stone original) sobre aquela noite de 1970 em que realizou a agora lendária entrevista a John Lennon que se publica na mesma edição;
> Entrevista à groupie Pamela des Barres (curriculum: Chis Hillman, Jimmy Page, Keith Moon, Jim Morrison, Mick Jagger, Sandra Bernhard...);
> Entrevista a Burt Bacharach;
> Entrevista a Bret Easton Ellis;
> A história de Rick Rubin acompanhada por sublime fotografia de Jeff Minton;
> Pré-publicação de "Long Way Round", livro assinado por Ewan McGregor e Charley Boorman com base na viagem a mielas à volta do mundo em moto; devida e maravilhosamente ilustrada (ver como McGregor podia ser dos ZZ Top...);
> Portfolio caleidoscópico de Edo Bertoglio na Nova Iorque de final de 70s; Studio 54, Andy Warhol, Coney Island, Mudd Club, Debbie Harry, John Lurie, East Village...
Um repasto em papel. Aperitivo económico aqui.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Quiz
Mais uma sessão de quiz no Espaço Portela. Terceiro lugar. Equipa completa. Teria dado imenso jeito saber, entre outras coisas, o nome de uma determinada peça de Almeida Garrett, qual a figura feminina representada no Padrão dos Descobrimentos e o significado da mais que corriqueira sigla USB. Na música correu bem, cortesia da eterna Etta James, Red Hot Chili Peppers e, er..., Wighfield (ou Whigfield?).
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
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03 dezembro 2005
A escumalha responde
Rappers franceses respondem como sabem às inanidades ditas nos tempos recentes por Nicolas Sarkozy, Ministro do Interior da República Francesa, a propósito da violência descontrolada nos arrabaldes das grandes metrópoles. Noticia Le Nouvel Observateur.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Carta ao gajo das barbas
Caro gajo das barbas:
Vi, na semana passada, o objecto cuja capa aqui está reproduzida à venda numa das lojas daquela cadeia francesa castanha clarinha. Por manifesta falta de liquidez, trouxe apenas "Favela Funk", compilado por DJ Marlboro, mas aquele livro de capa negra não mais me abandonou a memória visual. Se não se importa, traga-mo este Natal.
O CBGB, oficialmente designado CBGB & OMFUG, é o mais lendário clube nova-iorquino dado às coisas musicais ditas underground. É um espaço que, desde a década de 70 do século passado, junta capítulos nada desprezíveis ao rol de intervenções artísticas feitas na cidade que não dorme. Da pop art ao punk, o CBGB esteve e está em toda a parte.
Pensado por Hilly Kristal como um clube para difundir country, bluegrass e blues (daí CBGB), adoptou posteriormente o sufixo OMFUG para aglutinar "Other Music for Uplifting Gourmandizers". Bruce Springsteen, Ramones, Patti Smith, Talking Heads, Blondie, Libertines ou Strokes são nomes de uma imensa História, agora imortalizados num livro de fotografia que apanha ainda visitas de gente como Andy Warhol e Allen Ginsberg.
"CBGB and OMFUG: Thirty Years from the Home of Underground Rock" é, portanto, um livro de fotografia. O meu amigo sabe como nós, os gajos que compulsivamente se dão à música, correm o risco permanente de parecer desinteressantes aos olhos dos restantes seres humanos. Eu não quero correr esse risco. Quero que, quando a Caras for lá a casa, encontre livros de arte ao lado de exemplares intocados da i-D e da Wallpaper. E os fotografe. Ajude-me, por isso, a cumprir este objectivo.
O livro vem com introdução do próprio Hilly Kristal e posfácio de David Byrne, que o meu bom amigo deve conhecer. E é publicado numa altura em se conhece o sufoco financeiro em que o CBGB se encontra, há meses ameaçado de fechar as portas. Nós não queremos isso, gajo das barbas. Ajude-me lá a ajudar estes gajos.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Sande de payola
Há não muito tempo falei neste humilde espaço de uma negociata que envolvia a Sony/BMG como gentil pagadora de serviços radiofónicos prestados. Na altura, a coisa resolveu-se juducialmente por 10 milhões de dólares.
A última história do género dá conta do envolvimento da Warner Music em práticas semelhantes. Eliot Spitzer, "general attorney" (figura sempre difícil de traduzir para português) em Nova Iorque, esmiuça as práticas da empresa citado pela Agência Reuters: "Spitzer said the financial benefits involved direct bribes to radio programmers, including airfare, electronics, and tickets to sports events and concerts; payments for operational expenses; radio contest giveaways; hiring independent promoters to funnel illegal payments to radio stations, and buying "spin programs" to artificially increase airplay".
Pode a Humanidade, entretanto, ficar descansada. A Warner Music vai largar 5 milhões de dólares (agora para programas de educação musical) e - ainda de acordo com a Reuters - "stop making payoffs in return for airplay, and fully disclose all "items of value" provided to radio stations, Spitzer said. It also issued a statement acknowledging its "improper conduct", the attorney general said". Meninos bonitos.
Isto parece vir, de alguma forma, na sequência dos posts anteriores. Não vem, mas pode sempre perguntar-se: como é em Portugal? Há uns bons 10 anitos soube de um caso em que um "industrial" ofereceu uma viagem a uma das regiões autónomas portuguesas para que determinado disco entrasse na playlist de uma determinada rádio. Na versão que conheci, um responsável pela rádio mandou-o para casa para não mais aparecer nas instalações da emissora. Caso ainda não tenha ficado claro, isto é o que deve ser feito.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Mas, por falar nisso...
Ainda a propósito do post anterior, não fique o gentil leitor com a ideia de que Portugal é um país desinteressante no que às teorias de conspiração diz respeito. Talvez tenha este servo pintado um quadro demasiado triste. Calma. Está aqui o pretexto para partilhar algo em que já perdi algum tempo a pensar.
Desde que os Gift anunciaram a rescisão do contrato de distribuição com a Universal Music e imediata transição para o circuito da EMI que sou atormentado por estas vozes, obviamente decorrentes do facto de ter o ouvido 1 pouco mouco. Desde então, dizia eu, que oiço vozes que dizem: "todos os nomeados para a categoria de Melhor Grupo Português nos Prémios MTV europeus são da EMI". O "são" não significa, no caso, "pertencem"; "são distribuídos" é a expressão correcta.
Antes de os Gift passarem para a EMI, pensei ser interessante que o grupo vencedor do prémio MTV fosse o único que não conhecia a distribuição através daquela multinacional. Depois é que foi pior, quando o tal anúncio coincidiu com o início da tal patologia das vozes. Agora a EMI tinha o pleno. Comecei entao a ter visões deste tipo:
Blasted Mechanism ----> Toolateman ----> EMI
Da Weasel ----> EMI
Humanos ---->EMI
Boss AC ----> NorteSul ----> EMI
The Gift ----> La Folie ----> EMI
Pior fiquei ainda ao lembrar-me que nunca obtive resposta à pergunta que coloquei antes de os Blind Zero ganharem este prémio pela primeira vez: quem contribui para a lista dos nomeados aos galardões? Comecei a tremer e com espasmos estranhos.
Esta história não tem, com toda a certeza, elementos menos claros ou uma justificação com base em pressão ou conspiração. É apenas uma forma de dizer que, feitas as contas, em Portugal também pode haver espaço para fantasiar.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
02 dezembro 2005
Os melhores do ano e a boataria
O caso chamou-me a atenção a partir do blog do meu estimado amigo Jorge Manuel Lopes, que numa penada dá pistas suficientes para acompanhar a telenovela feita à volta da lista dos 50 melhores álbuns do ano a publicar amanhã, sábado, pelo New Musical Express. Não deixam, no entanto, de acorrer à ideia alguns factos curiosos a partir desta historieta da treta.
O site Londonist começou por publicar um alegado furo jornalístico que versava basicamente sobre o seguinte: a direcção do NME, antes de publicar a lista dos melhores álbuns de 2005, teria retocado as votações dos seus jornalistas por forma a cumprir objectivos comerciais. O que na prática se traduz por retirar da referida lista as coisinhas mais obscuras, aquelas a que a indústria do disco não dá importância e em que, consequentemente, não investe (publicidade, passatempos, etc). Importa referir que o artigo foi retirado do site pelo seu editor depois das explicações do director do NME ao Guardian.
Esta questão não teria em Portugal um décimo da importância. Se por um lado isso é positivo - demonstra inteligência não aventar alarvemente velhas desconfianças motivadas pela proverbial dor de cotovelo -, por outro não deixa de causar relativa inveja a forma como em Inglaterra (no caso concreto) se dá importância à música, às edições, às listas, às preferências. A música e as tais miudezas circundantes, no fundo. Em Portugal nunca se viu nada disso fora de um núcleo identificado de melómanos arreigados.
As listas dos melhores discos do ano são uma tradição tão portuguesa quanto o Dia dos Namorados. Resulta, em Portugal, da histórica apropriação de um universo principalmente inglês e norte-americano. Quando Portugal viu pela primeira vez nascerem projectos editoriais ligados à coisa musical, e não vale a pena recuar mais do que à década de 80 do século passado, viu essencialmente a possível transposição de formas, fórmulas, hábitos e pontos de vista resgatados a publicações internacionais. Basicamente, os jornalistas que dissertam sobre música adoram listas. É um facto que deve aceitar-se sem discussão.
Simplesmente, em Portugal as listas têm um impacto sobre o consumidor rigorosamente nulo. Em boa parte porque também o interesse da indústria do disco a operar no país é tendencialmente nulo. Quanto dentro de uma casa não se conhece mais do que aquilo que se é obrigado a "trabalhar", é impossível pedir apego pela mais salutar competição estética. Nas principais editoras representadas em Portugal trabalham diversas pessoas, não todas, para quem música e pensos higiénicos com abas são praticamente a mesma coisa. Que ouvem, em exclusivo, os discos que profissionalmente aterram nas suas secretárias. Da música dos outros sabem, basicamente, coisa nenhuma.
O que leva a uma questão que pode colocar-se com base nesta historieta: como é que a coisa funciona em Portugal? No seu blog, Jorge Manuel Lopes explica como as coisas se processam no Blitz. Tenho, para o efeito, todo o prazer em sublinhar o que afirma: que, desde 2002, quando essas listas voltaram a ter alguma dignidade no jornal, aquilo que se publica é exactamente a súmula das preferências dos jornalistas da casa. Não era necessária a explicação. Por duas razões: por um lado, o referido desinteresse da própria indústria corta a possibilidade de qualquer "pressão" comercial; por outro, e isso é coisa menos objectiva, dá um tremendo gozo ao jornalista exercer no final do ano a sua plena liberdade de escolha. Se ao longo do ano houve "pressões" para que os Korn (exemplo) fizessem capa de uma publicação, o primado da isenção editorial pode mesmo suscitar uma reacção negativa à "pressão". Ficam os Korn (exemplo) de fora e não se fala mais no assunto.
No caso concreto do NME, nem o aplaudido porém marginal Simon Price, sob pseudónimo, deixa de contribuir para a teoria do embuste. Escreve ele num tópico do One Touch Football: "BLOC PARTY? Jesus fucking christ. No surprise that the NME writers' poll is fixed (I remember Allan Jones tinkering with the MM chart back in the day, too), but it's nice to have damning evidence. The readers' poll is blatantly fixed too. In The Darkness' big year, when they were winning every other poll in Britain, they failed to get within a sniff of a single NME Award. I put it to Conor that this was a little suspicious, and he just smiled at me". Refere-se a Connor McNicholas, director do New Musical Express. Que, ao Guardian, explica a elaboração da lista em pormenor: "The mechanics are a reflection of NME editorial policy. It's a very fuzzy process. We take a vote in the office; it's quite informal". Informação diferente transmite um porta-voz não identificado do jornal: "All the writers are asked for their top 50 albums of the year, which is then collated and passed to the editors".
Fica a lista do NME com os 50 melhores álbuns do ano:
50. Test icicles: "For Screening Purposes Only"
49. Dead Meadow: "Feathers"
48. Ladytron: "Witching Hour"
47. Sleater-Kinney: "The Woods"
46. The Duke Spirit: "Cuts Across The Land"
45. Shout Out Louds: "Howl Howl Gaff Gaff"
44. Field Music: "Field Music"
43. Engineers: "Engineers"
42. Sigur Ros: "Takk"
41. Nine Black Alps: "Everything Is"
40. Brakes: "Give Blood"
39. Vitalic: "OK Cowboy"
38. Autolux: "Future Perfect"
37. Circulus: "Lick On The Tip Of An Envelope"
36. The Bravery: "The Bravery"
35. Elbow: "Leaders of the Free World"
34. Rufus Wainwright: "Want Two"
33. We Are Scientists: "With Love and Squalor"
32. Queens Of The Stone Age: "Lullabies to Paralyze"
31. Bright Eyes: "I'm Wide Awake It's Morning" ou "Digital Ash in a Digital Urn" (confirmar amanhã)
30. Doves: "Some Cities"
29. Madonna: "Confessions On a Dancefloor"
28. Absentee: "Donkey Stock"
27. Kate Bush: "Aerial"
26. Super Furry Animals: "Love Kraft"
25. MIA: "Arular"
24. Oasis: "Don't Believe the Truth"
23. Hard-Fi: "Stars of CCTV"
22. Raveonettes: "Pretty in Black"
21. LCD Soundsystem: "LCD Soundsystem"
20. Editors: "The Back Room"
19. Coldplay: "X&Y"
18. Art Brut: "Bang Bang Rock'n'Roll"
17. The Magic Numbers: "The Magic Numbers"
16. British Sea Power: "Open Season"
15. Maximo Park: "A Certain Trigger"
14. Dungen: "Stadsvandringar"
13. The Rakes: "Capture / Release"
12. Devendra Banhart: "Cripple Crow"
11. The Cribs: "The New Fellas"
10. Gorillaz: "Demon Days"
9. Babyshambles: "Down in Albion"
8. Kanye West: "Late Registration"
7. Sufjan Stevens: "Illinoise"
6. The White Stripes: "Get behind Me Satan"
5. Kaiser Chiefs: "Employment"
4. Antony & The Johnsons: "I Am a Bird Now"
3. Franz Ferdinand: "You Could Have It So Much Better"
2. Arcade Fire: "Funeral"
1. Bloc Party: "Silent Alarm"
Truncada ou não, é uma lista "de compromisso". A administração adora ver Madonna. Os Circulus sabe Deus.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
"And her hearing aid started to melt..." Vol. XI
Sonotone do dia:
The Mitchell Brothers: "A Breath of Fresh Attire" (Novembro 2005)
Veredicto:
(Ao cuidado não exclusivo de quem sabiamente acorrer à noite de abertura do Festival Best Off, de 7 a 10 de Dezembro na Casa da Música, no Porto.) A indústria do apadrinhamento é, como se sabe, uma coisa traiçoeira. O tempo encarregou-se de tornar evidente a insensatez que significa pensar-se extraordinário aquilo que vem "recomendado" por alguém que temos como extraordinário. Isto aplica-se a quem, como o humilde escrivão, considera Mike Skinner e o seu projecto The Streets coisinhas extraordinárias. Os Mitchell Brothers (Teddy e Tony, que são, em boa verdade, primos) são o primeiro projecto a assinar contrato com a The Beats, editora de Mike Skinner. E têm Mike Skinner como cooperante permanente. Os Mitchell Brothers são mais uma persistente bolha que explode fora do círculo mais popular da cena grime/dubstep londrina. "A Breath of Fresh Attire", o seu álbum de estreia, salpica as temperaturas negativas da produção com estilhaços melódicos digitais que criam contacto com o mundo humano. Tira total partido da democratização da produção mudical da era electrónica para contar as histórias mundanas do Sul de Londres. Apresenta narrativas sem censura embrulhadas numa galeria de efeitos que torna vagamente colorido um universo que facilmente se mostra a preto e branco. Excepcionalmente, confie-se no padrinho. 77,9% de satisfação garantida.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
The Mitchell Brothers: "A Breath of Fresh Attire" (Novembro 2005)
Veredicto:
(Ao cuidado não exclusivo de quem sabiamente acorrer à noite de abertura do Festival Best Off, de 7 a 10 de Dezembro na Casa da Música, no Porto.) A indústria do apadrinhamento é, como se sabe, uma coisa traiçoeira. O tempo encarregou-se de tornar evidente a insensatez que significa pensar-se extraordinário aquilo que vem "recomendado" por alguém que temos como extraordinário. Isto aplica-se a quem, como o humilde escrivão, considera Mike Skinner e o seu projecto The Streets coisinhas extraordinárias. Os Mitchell Brothers (Teddy e Tony, que são, em boa verdade, primos) são o primeiro projecto a assinar contrato com a The Beats, editora de Mike Skinner. E têm Mike Skinner como cooperante permanente. Os Mitchell Brothers são mais uma persistente bolha que explode fora do círculo mais popular da cena grime/dubstep londrina. "A Breath of Fresh Attire", o seu álbum de estreia, salpica as temperaturas negativas da produção com estilhaços melódicos digitais que criam contacto com o mundo humano. Tira total partido da democratização da produção mudical da era electrónica para contar as histórias mundanas do Sul de Londres. Apresenta narrativas sem censura embrulhadas numa galeria de efeitos que torna vagamente colorido um universo que facilmente se mostra a preto e branco. Excepcionalmente, confie-se no padrinho. 77,9% de satisfação garantida.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
01 dezembro 2005
Veio cedinho, o Natal...
Edição a 6 de Fevereiro, embora alguém já tenha feito o chamado "community service". Informação útil aqui.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
29 novembro 2005
Demasiado bom para o cargo
Por muito que se conheça Portugal, há sempre um pormenor escondido pronto a fascinar-nos pela sua bizarria, pela sua invulgaridade, mesmo pela sua ousadia. Há factos com que pontualmente nos deparamos que sublinham a certeza de que habitamos um país verdadeiramente único. Um destes factos pode resumir-se à expressão "Excesso de Qualificações".
No meio profissional, o "Excesso de Qualificações" é uma coisa lixada com "f". Além do conhecimento de causa, de vez em quando vêm até mim incríveis casos desta não menos incrível patologia. Em Portugal, não são poucas as empresas (ou firmas, à antiga) que não têm a trabalhar consigo profissionais com qualificações mais do que suficientes para cumprir determinada função.
Apesar da habitual justificação "Excesso de Qualificações", a verdadeira razão do fenómino reside no facto de essas empresas (ou firmas, à antiga) terem uma imaginação galopante no que às expectativas de remuneração de outros diz respeito. Mas essa é outra questão e o que aqui importa reter é a gloriosa essência do "Excesso de Qualificações". O "Excesso de Qualificações" significa qualquer coisa como isto: "Este gajo é muito, muito bom. É tão bom que não o queremos". Ora isto, no cérebro de qualquer pessoa normal, é uma aberração digna de vénia.
Transpondo a coisa para o caso concreto para atribuir ao fenómeno "Excesso de Qualificações" dimensões verdadeiramente galácticas, ora veja o gentil leitor: um destes dias, o homem na foto, Ronaldinho Gaúcho, chega ao meu Benfica com vontade de jogar e nunca fala de números semelhantes àqueles que actualmente compõem o seu rendimento. Na ocasião, o seu interlocutor dir-lhe-á, com sentido pesar, que não pode ficar no clube por "Excesso de Qualificações". Não é maravilhoso?
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
The Man speaks
Saltando rapidamente a parte em que o gentil leitor se questiona sobre a presença de uma singela notícia sobre este homem neste espaço (porque ainda não percebeu o especial apreço que nutro pelo homem), vamos ao que interessa.
Morrissey edita, no início do próximo ano, um novo álbum. Chama-se "Ringleader Of The Tormentors" e sucede ao mui inspirado e propalado "You Are The Quarry", de que este vosso servo tem maravilhosas recordações, sendo a maior delas o espectáculo na MEN Arena, em Manchester, 12 anos depois de Morrissey ter actuado "em casa" pela última vez. Adiante.
Numa sessão de perguntas e respostas para a fanzine True To You que versou também sobre assuntos como o seu vegetarianismo, os pontos mais altos da sua carreira, as suas grandes referências musicais ou a importância da Irlanda na sua vida, Morrissey falou publicamente pela primeira vez com algum pormenor sobre "Ringleader Of The Tormentors" (produção: Tony Visconti). Aqui estão as perguntas e as respostas que lhe dizem respeito. Na língua original, para não soarem ridículas:
P:
I think that Ennio Morricone is one of the great composers of our time. I regard the music to Once Upon A Time In America as a heartbreaking masterpiece. Is it true that Morricone has worked with you on your new album, and if so, how was it to meet Il Maestro and work with him?
R:
Yes, the Maestro came into the studio with his orchestra and worked on a song called "Dear God Please Help Me" – which was very flattering because he'd turned so many multi-million selling pop acts down (I won't mention their names – U2, David Bowie, etc.), so I was delighted that he said yes to scruffy old me. In the event, he was very shy, and he was heavily surrounded and shielded, and there was no way that he and I would end up at the local pub playing darts. But – that's OK. Life's rich tapestry, and so on.
P:
I am looking forward to hearing your work with Tony Visconti. At this time, is there more that you would like to share with your fans as to the overall sound of your new album?
R:
Firstly, the musicianship is outstanding. Secondly, the songs are very strong, which is a great thing to be able to say this far down the line. We were all very unified – everyone gets on very well, we are all very close friends, and everyone works for the common good, and there is never anyone pulling away – as there has been in the past. So, this all helped to make the album as good as it is – and we all know it is the best. It is not a continuation of You Are The Quarry, and it has no links to the past. Tony has been a very uplifting influence – has done a great job as producer and I'm honoured to have worked with him. Marco Martin, who engineered, also played such a big part in the overall sound, and we're all eternally thankful to him.
P:
Does the title of the new album, Ringleader Of The Tormentors, have a particular personal significance to you, and if so, what would that be?
R:
Yes, but if I tell you what it is I might put you off. Patience.
De caminho, fica também o alinhamento de "Ringleader Of The Tormentors":
1. "I Will See You In Far-off Places"
2. "Dear God Please Help Me"
3. "You Have Killed Me"
4. "The Youngest Was The Most Loved"
5. "In The Future When All's Well"
6. "The Father Who Must Be Killed"
7. "Life Is A Pigsty"
8. "I'll Never Be Anybody's Hero Now"
9. "On The Streets I Ran"
10. "To Me You Are A Work Of Art"
11. "I Just Want To See The Boy Happy"
12. "At Last I Am Born"
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
28 novembro 2005
A mente, essa gaja estranha
Ao vasculhar o ambiente de trabalho de um dos meus grandes amigos, o meu iBook, deparo-me com esta foto. Mandou-ma uma amiga, há não muito tempo, no meio de uma conversa online e sem qualquer pré-aviso. Com o mesmíssimo apreço pelas atitudes sem sentido, aqui a coloco. Para saudar essa coisa maravilhosa que é a memória colectiva. E, com sorte, para despoletar gargalhadas semelhantes às que libertei quando abri o documento que me chegou sem qualquer pré-aviso, descontextualizado e, por isso mesmo, muito saboroso. Da mesma forma que não é nada fácil não acertar num único resultado no Totobola, também não é fácil ser-se absolutamente medíocre e patético. Por isso mesmo, esta fotografia merece a eternidade.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
"And her hearing aid started to melt..." Vol. X
Sonotone do dia:
Sinéad O'Connor: "Throw Down Your Arms" (Outubro 2005)
Veredicto:
O activismo social e/ou político, quando aplicado à criação musical, pode ser muito perigoso. Não exactamente perigoso para a saúde da humanidade, apesar daquilo que alguns moralistas limitados fazem crer, mas perigoso de um ponto de vista puramente estético. Amiúde concentrados num espírito de missão que tolda a actividade auto-crítica, os palradores das coisas políticas e sociais instalam-se com igual frequência num limbo de irrelevância musical ofensiva. Sinéad O'Connor há muito que se aproxima desse estado de desgraça, do ponto em que o cidadão se interessa mais por ouvir o que tem um músico a dizer do que por digerir os discos que faz. Alimentada numa cuba construída por núcleos intelectuais que não ouvem discos, a cantora irlandesa conseguiu, ao longo dos anos, tornar-se insuportavelmente previsível e tecnicamente entediante. Até este "Throw Down Your Arms". Ao invés de pregar a justiça moral e social, Sinéad O'Connor tratou de agir musicalmente. Vai daí, e espiritualmente encantada com o a magia da cultura jamaicana, gravou um álbum nos estúdios Tuff Gong, em Kinsgton, para o qual contou com os valiosíssimos préstimos da mais importante secção rítmica do mundo, Sly Dunbar e Robbie Shakespeare. Ao mesmo tempo que pegou em canções cujos créditos se repartem por gente tão distinta quanto Peter Tosh, Lee "Scratch" Perry e Winston Rodney. E pôs em prática exactamente aquilo que escreve no livro que acompanha o disco: "Maria Callas, quando questionada sobre como pode um intéprete encontrar a emoção certa para uma canção, respondeu: "O compositor tratou de tudo. Faça-se exactamente aquilo que o compositor escreveu". Por essa razão, mantive-me completamente verdadeira para com os originais, à excepção de algumas mudanças decisivas para a adaptação a uma voz feminina". Não é, "Throw Down Your Arms", o melhor disco que reggae que os primeiros anos do século XXI têm para mostrar. É, no entanto, uma viagem muito bem organizada por quem mostrou respeito pela coisa rasta e se soube fazer acompanhar pelos melhores no ofício. Isto é muito mais importante do que rasgar a fotografia do papa. 80,0% de satisfação garantida.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Sinéad O'Connor: "Throw Down Your Arms" (Outubro 2005)
Veredicto:
O activismo social e/ou político, quando aplicado à criação musical, pode ser muito perigoso. Não exactamente perigoso para a saúde da humanidade, apesar daquilo que alguns moralistas limitados fazem crer, mas perigoso de um ponto de vista puramente estético. Amiúde concentrados num espírito de missão que tolda a actividade auto-crítica, os palradores das coisas políticas e sociais instalam-se com igual frequência num limbo de irrelevância musical ofensiva. Sinéad O'Connor há muito que se aproxima desse estado de desgraça, do ponto em que o cidadão se interessa mais por ouvir o que tem um músico a dizer do que por digerir os discos que faz. Alimentada numa cuba construída por núcleos intelectuais que não ouvem discos, a cantora irlandesa conseguiu, ao longo dos anos, tornar-se insuportavelmente previsível e tecnicamente entediante. Até este "Throw Down Your Arms". Ao invés de pregar a justiça moral e social, Sinéad O'Connor tratou de agir musicalmente. Vai daí, e espiritualmente encantada com o a magia da cultura jamaicana, gravou um álbum nos estúdios Tuff Gong, em Kinsgton, para o qual contou com os valiosíssimos préstimos da mais importante secção rítmica do mundo, Sly Dunbar e Robbie Shakespeare. Ao mesmo tempo que pegou em canções cujos créditos se repartem por gente tão distinta quanto Peter Tosh, Lee "Scratch" Perry e Winston Rodney. E pôs em prática exactamente aquilo que escreve no livro que acompanha o disco: "Maria Callas, quando questionada sobre como pode um intéprete encontrar a emoção certa para uma canção, respondeu: "O compositor tratou de tudo. Faça-se exactamente aquilo que o compositor escreveu". Por essa razão, mantive-me completamente verdadeira para com os originais, à excepção de algumas mudanças decisivas para a adaptação a uma voz feminina". Não é, "Throw Down Your Arms", o melhor disco que reggae que os primeiros anos do século XXI têm para mostrar. É, no entanto, uma viagem muito bem organizada por quem mostrou respeito pela coisa rasta e se soube fazer acompanhar pelos melhores no ofício. Isto é muito mais importante do que rasgar a fotografia do papa. 80,0% de satisfação garantida.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
25 novembro 2005
Anuncio que...
... A partir daqui, no lado direito deste vosso espaço, vai crescendo o monstro GENTE MENOS MOUCA. É aquilo que vulgarmente se conhece como links, ligações e por aí fora.
Dois esclarecimentos acompanham este anúncio. Primeiro: o número de sites cresce em função da disponibilidade e da memória deste vosso amigo, e sem gradação de importância associada à sequência das novidades. Segundo: convirerão, pelo menos por ora, neste espaço sites tão diferentes quanto relativos a jornais, revistas, blogs, lojas e o que mais se puder imaginar.
Isto não tem nada a ver com o meu ouvido, mesmo sendo 1 pouco mouco.
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