29 setembro 2005
Uma chinada em fascículos
Vi na televisão e vi posteriormente em quiosques. Esta merda é verdade. Apesar de possuidor de um dos grandes defeitos do ser humano (a incapacidade de surpreender-se com o que quer que seja), o signatário da prosa está vagamente abalado. É que esta merda é mesmo verdade.
Vender em partes faqueiros de prata com jornais e coisas do género já era coisa perigosa, mas vulgarmente aceite. Um garfo tira um olho, é certo, mas é diferente se for um garfo com a chancela de uma qualquer revista de mundanidades. É outra coisa. "Como é que fizeste isso aos pulsos, pá?". "Olha, foi com aquela faca da Lux, da Caras ou da Vip ou lá o que é. Corta mal e não cumpri o objectivo de suicidar-me, mas aquilo tem classe".
Mas esta merda é mesmo verdade. Na foto pode ver-se aquilo que uma daquelas empresas especialistas na transmissão do vício das colecções está actualmente a promover e a vender. "Navalhas". Navalhas, precisamente. Não são de plástico, não são réplicas inofensivas, são navalhas. Pergunta simples à Salvat, no caso: qual é a ideia? A sério. Qual é a ideia desta merda?
Queria pedir, já que estamos nisso, uma colecção de armas de fogo clássicas. Verdadeiras e com opção "overpricing" de munições. Então não havia quem desse por uma AK-47 (old school, gangsta style, para o cenário...) uns €3,99?
No meio disto tudo, adoro uma canção, sobejamente cantada. É "Mack the Knife". Vou ouvir.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
22 setembro 2005
Era difícil de perceber?
Há uma porrada de tempo que dizia isto. O iPod Shuffle, aquela coisa pequenita que servia para tudo menos tirar bicas e informar sobre a canção a tocar nos nossos ouvidos, não fazia qualquer sentido. Pelo menos na estratégia da Apple, apostada em teoria em posicionar-se à frente dos outros.
Ora então está aqui o que desde o início fazia sentido, o iPod Nano, que, por mais pequeno que seja (2 GB no mínimo já não é peanuts, mesmo assim), sempre se mostra formoso com um ecrã colorido e informativo. Não o vou comprar por razões diversas, mas não podia deixar de dizer: porra, era difícil perceber que o iPod é isto?
Pede-se ao estimado leitor o favor de ignorar em absoluto a canção ilustrada na foto. É um exemplo infeliz.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
E o meu dinheiro? O que vai ser dele?
Sempre gostei do Millennium BCP, por razões familiares, burocráticas, inclusivamente cibernéticas, tal a facilidade com que tudo é feito num qualquer computador.
Neste momento, temo pelo meu banco. Temo por quem me guarda a guita em cofres, como eu pensava há uns anos.
Ao que parece, "Eu Estou Aqui", nova canção de Pedro Abrunhosa, foi encomendada pela empresa para a campanha de um crédito à habitação, ou coisa que o valha. O que por ventura não esperava o autor do casting era algo de tão desastroso do ponto de vista vocal. Assustador, arrepiante, difícil de entender. Que não caiam as casas como caiu aqui Abrunhosa.
Não sei, mas saberei como todos, o que aí vem de Pedro Abrunhosa. "Eu Estou Aqui" deixou-me em pânico, para já.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Coelhinho coelhinho...
Quando, por exemplo, se pedia a Johnny Cash que revolucionasse a sua própria música, ele respondia com versões tão deliciosas e improváveis quanto a de "Personal Jesus", dos Depeche Mode. Uma delícia, vincada unanimemente por todos quantos opinaram sobre a série de discos gravados para a American Recordings de Rick Rubin.
Aos Echo & The Bunnymen (ou melhor, ao desejado reecontro de Ian McCulloch com Will Sargeant), parece exigir-se o céu e a Terra no espaço de 11 canções. Porque são originais num álbum novo, porque ainda ninguém passa sem um calafrio por álbuns como "Ocean Rain" e "Porcupine". Ora o novo "Siberia" é nada menos que maravilhoso.
Ostentanto tudo menos uma patética grandiloquência, "Siberia" condensa em canções como "Stormy Weather" e "In The Margins" uma flutuação pop sem tempo. Repetindo: sem tempo. "Siberia" não é um disco anacrónico. É, como alguém já lhe chamou, imperial. O morto que dá piruetas no caixão.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
19 setembro 2005
O arquiduque vai nu! E é um naco.
Questiornar-se-á o gentil leitor sobre a justificação para uma prosa em que se esventra um álbum e se descreve cada órgão, como o que aqui em baixo se encontra a propósito de “You Could Do It So Much Better”, o segundo dos escoceses Franz Ferdinand.
Para resumir, duas razões impõem a prosa: 1) trata-se de um disco aguardadíssimo por melómanos de gema e com edição marcada para 3 de Outubro. Os críticos têm-no, os profissionais de partilha de ficheiros também, quem edita também, quem edita outras coisas não faz transitar o seu graveto para empresas concorrentes, daí escrever-se aqui para quem vai escandalosamente gastar (ou não) rios de dinheiro num disco assinado, provavelmente, pela melhor banda que as ilhas britânicas (neste caso Glasgow, Escócia) viram nascer desde os Blur; 2) o próprio signatário precisa de partilhar o que ouviu, que confirma aquilo que há já bom tempo vinha dizendo: esta banda é especialíssima, muito longe do padrão médio que caracteriza muitos dos que agora chegam à pop e ao rock.
Sobre “Franz Ferdinand”, o primeiro disco, dizia-se que era uma colecção de 11 potenciais singles. Agora são 13, caberiam num lado de uma cassete de 90 minutos e descrevem-se assim:
1. “The Fallen”: uma entrada de guitarra avassalora, os riffs de Alex Kapranos em contacto epidérmico profundo. Um refrão melodicamente delicioso e um estilhaço de espelho punk quebrado e enterrado na carne. (3’42”)
2. “Do You Want To”: é o primeiro single, perfeito como “Take Me Out” mas desta vez numa única peça. Entrada a la Beach Boys e um crescendo para um refrão em que um “tu ru ru” maravilhoso é valorizado por uma guitarra possuída (também no resto da canção). Mais uma vez, a questão: como concilia Alex Kapranos as portentosas melodias de voz com o facto de ser o guitarra-solo e tocar para um lado enquanto canta para outro? (3’35”)
3. “This Boy”: prova que tudo nasce nas guitarras e que são elas quem define para onde vai a canção. Riffs maravilhosamente simples são aos milhares nos dedos dos Franz Ferdinand. Neste caso, destila-se uma certa histeria punk e grita-se no refrão “I want a car”. Não são muitas as bandas que lêem com inteligência e ironia a sociedade em que vivem – os Smiths, os Blur, os Pulp… (2’22”)
4. “Walk Away”: é um diamante. O ambiente recorda que temos um coração e uma pele que se arrepia. Além das quebras e arranques que se conhecem aos Franz Ferdinand, medalha de mérito para a beleza com que Alex Kapranos passeia a voz para cima e para baixo. Este seria, com toda a certeza, o single que conquistaria as rádios orientadas para adultos. O mais certo é que não seja. (3’36”)
5. “Evil and a Heathen”: Epilepsia repentina e passageira, arremedo punk vincado por um estardalhaço que não chega a ser cacofónico e pontuado pela marcação solitária da bateria. (2’05”)
6. “You’re the Reason I’m Leaving”: será um clássico, como outros foram após “Take Me Out”. Não só porque repete no refrão um título que remete para algo com que o mortal já se cruzou mas porque, mais uma vez, a cadência vintage, as guitarras e as quebras torná-la-ão, por exemplo, num trunfo alto na sueca do palco. (2’47”)
7. “Eleanor Put Your Boots On”: Coincidentemente ou não, são os Beatles quem trata de ocupar o espírito dos Franz Ferdinand nesta magnífica canção. Se o nome Eleanor tem alguma coisa que ver com o arrepiante “Eleanor Rigby” é coisa a saber, mas há aqui tanto de “Sgt. Pepper’s”… O piano, os avanços e recuos, a consistência em menos de três minutos. É verdade que cada ostra só tem uma pérola? Não pode ser. (2’50”)
8. “Well That Was Easy”: Dizem os entendidos da rádio que uma canção a sério tem que ter o refrão antes de passar um minuto de música. Pois os Franz Ferdinand podem nem deixar passar 30 segundos antes de trazerem o prato principal, como aqui acontece. Duas canções dentro de uma, uma na tarefa de deitar paredes abaixo com decibéis, outra com a delicadeza da decoração de interiores. (3’02”)
9. “What You Meant”: À excepção do trabalho vocal de Alex Kapranos, trata-se da canção mais inócua de “You Could Do It So Much Better”. Precisamente por se parecer um bolo sem a cereja no topo, aquele pequeno nada que cria vício. Vai lá por extractos rítmicos, basicamente. (3’24”)
10. “I’m Your Villain”: Vindo de quem vem, mais de quatro minutos significariam quase forçosamente um ambicioso épico. Trata-se, apenas de uma exposição de harmonias de seis cordas na forma de uma canção, digamos, tradicional. Isto no caso de uma montanha russa poder ser encarada como algo de tradicional, tamanha a mutação interior. “Your so serious”, canta Alex Kapranos, acrescentando um “Baby, see you later”. Mais dia menos dia acaba a partir corações que não são japoneses. (4’03”)
11. “You Could Have It So Much Better”: aqui podiam ser uns MC5 ou uns Stooges depois de um banho anti-oxidante. O tema-título do álbum é um arremedo desarmante e uma dúzia de choques cardíacos. (2’41”)
12. “Fade Together”: Novamente, como em “Eleanor Put Your Boots On”, os Franz Ferdinand resolvem, verdadeiramente, inventar. Mas, como dizia o meu avô, este inventar tem graça. Balada de piano proeminente, bolha de amor acústico e harmonias vocais. Beatles, Beach Boys e os esquecidíssimos High Llamas acorrem ao pensamento. No final, pássaros chilreiam… (3’03”)
13. “Outsiders”: Fechar estes discos especiais é, como se dizia entre amigos há uns anos, “obra da piça”, expressão que em alguns círculos deve ser substituída por “árdua tarefa”. Não fossem as guitarras, mais uma vez, e uma bateria seca como habitualmente, e dir-se-ia estar aqui um rock planante, quase espacial, pontualmente épico. Os ruídos menos convencionais são tão surpreendentes quanto a comunicação das baleias ou uma partilha de frequência interplanetária. Por isso, volta-se sempre ao princípio. (4’02”)
Para os Franz Ferdinand, este é o tão “difícil segundo álbum”. Eles fazem-no parecer provir da mesma facilidade com que as tias portuguesas parideiras de livros que adoram ler-se e ver-se encontram empresas que colocam as letras que juntam no computador num formato digno que se digere em menos de quatro minutos.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Canções de desengate
Duas frases para ocasiões diferentes e para obrigar amantes a ouvir em fases difíceis. Ambas cantadas pela mesma pessoa, a da foto.
Numa situação de ruptura proposta pela pessoa querida, fazê-la chorar pela merda que está a fazer é fácil. Em “Unloveable”, ainda pelos Smiths, é só experimentar a partilha da audição de “I know I’m unloveable/ You don’t have to tell me/ I don’t have much in my life/ But take it, it’s yours”.
Numa outra ocasião, em que a potencial cagança extremada do(a) interlocutor(a) amado(a) faz questionar sobre a importância de quem está do outro lado do diálogo, é puxar de “The More You Ignore Me The Closer I Get”, já por Morrissey a solo, e fazer ouvir uma das mais fabulosas frases de petulância pop da História: “I am now a central part of your mind’s landscape, whether you care or do not”.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
A Elle, um palito e uma escarreta
“Adeus Metrossexual!”. Assim se intitula a prosa publicada na edição portuguesa da revista Elle de Outubro de 2005. Página 124. Ilustração: um chimpanzé dá colinho a qualquer coisa que se parece com uma Barbie. O texto, miserável, tem na cabeça da página a chave do cofre: “Humor”.
A coisa não tem piada rigorosamente nenhuma, não dá fezes nem a um bébé em overdose de laxantes, mas recoloca as coisas como elas devem ser: retrossexuais.
Ou seja, os homens (independentemente da sua orientação sexual) já podem sair de casa sem arranjar as sobrancelhas e regressar a ela sem ter que ir ao ginásio vestir camisolas sem mangas.
Esta merda tinha que acontecer. As mulheres, inteligentes que são, não iriam aguentar muito tempo os gajos com hábitos de gajas. É simples.
Para abrir o apetite para a nova era do “homem rude”, aqui fica a abertura do texto: “Experimentámo-lo (referência aos tais gajos dos cremes e da manicure), mas não gostámos. Agora, é tempo de recebermos o senhor retrossexual. Aprenda a identificá-lo e fique a saber porque é que, nos dias que correm, um pouco de rudeza e barba rija podem ser tão refrescantes…”.
Ao ler isto, apetece-me ver “Doggystyle”, uma das moralmente discutíveis obras cinematográficas com a chancela do grande Snoop Dogg.
Detesto, como alguns milhares de pessoas entre toda a população mundial, estas revistas que dizem às pessoas o que fazer para se parecer com qualquer coisa. Que sugerem estilos de vida que estão na moda. Que vendem comportamentos supostamente atraentes aos olhos de uma qualquer assistente de salão de cabeleireiro. São ridículas de tão acomodadas.
Mas, numa página que se lê com peito inchado em concubinato com uma incredulidade insuperável, há ainda um último parágrafo a ter em atenção: “Se optar por ter um homem retro do seu lado, não espere demasiado. Diz palavrões com frequência. Não se vai lembrar nunca do seu dia de anos. Não lhe vai mandar flores no Dia dos Namorados – aliás, nem sabe que esse dia existe. Não vai cozinhar para si, não vai reparar que você perdeu cinco quilos e prefere ir ao Aki do que ao baptizado da filha da sua melhor amiga. É duro, está sempre pronto para a acção e cheira como um homem. Se aguentar sem ter que recorrer ao ambientador, ele poderá ser a lufada de ar fresco que tanto precisa na sua vida”.
A Elle teve, este mês, a gentileza de escrever qualquer coisa de vagamente importante mesmo que com uma lógica assimilável até por um mexilhão morto.
Vou só ali aliviar a flatulência e pôr os MC5 a tocar, foda-se. Isso é que é vida.
À pessoa que assina a prosa, alguém com as iniciais RB, sugiro que puxe ainda uma escarreta, reúna alguns amigos e faça uma competição de distância alcançada. Contra a parede é porreiro, porque ela escorre.
Mas isso pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
15 setembro 2005
Aviso Urgente
Vintage
Há anos que andava para ter isto, "The Harder They Come" em DVD. Agora tenho e sou muito mais rico por isso.
Exibido no ano em que nasci, é, segundo o realizador Perry Henzel, o retrato da relação de um jovem jamaicano do campo na cidade de Kingston. Mas é muito melhor do que isso.
É obviamente mau no que à representação diz respeito, porque até Jimmy Cliff foi escolhido por foto na capa de um disco. Mas tem uma riqueza histórica tremenda e o beneplácito de Chris Blackwell, fundador da Island, que cozinhou a banda sonora dentro do seu catálogo.
Se o filme é quase mágico para os dados à cultura e especialmente à música jamaicana, o documentário de como foi feito é um nadinha de tanta História que o país tem.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
14 setembro 2005
O negócio dos porcos
Eu gosto da rádio. Mas detesto a rádio. "Aquela", a que conhecemos, as que as audiências mais ouvem. Abomino-as e retirava-lhes licença de emissão de excremento em repetição se pudesse. Aos animadores, ou "pés de microfone", nem lhes dizia nada. Aliás, apenas para não abrirem a via do microfone quando abrem a boca. São coisas incompatíveis.
A este propósito, aqui trago o caso recente da Sony BMG. De acordo com a Rolling Stone, a editora pagou à grande para que lhes colocassem temas nas recorrentes playlists das rádios. É a grande e velha paiola. Neste caso, vê-se na Rolling Stone, por exemplo, um excerto de um mail onde se lê: "You have room for a money record this week? 311 "Love Song". Big $$$". Para quem sabe o que é a rádio sem isto há os sacos para o enjoo.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
13 setembro 2005
Já agora, o capitalismo karaoke
Sobre o livro ulterior:
"Capitalism is crying and consumption of Viagra and Prozac is on the rise.
Karaoke Capitalism, the new book by the authors of Funky Business – Jonas Ridderstråle and Kjell A. Nordström, outlines why you are surrounded by these horny and happy wannabees and how to avoid becoming yet another slave under sex and stress by successfully managing the transition from misery to money.
We all live in a Welfare Society that looks as if it had been designed by IKEA. It comes in self-assembly flat packs and, as you may have noticed, there are no assembly instructions. This DIY, knock-down Welfare Society was sold under the slogan of freedom, and while it certainly meant more freedom for some, it definitely meant more responsibilities for us all.
The old world was normal. This was the world of a flourishing middle-class, mass-markets, standardization, security and stability. That was then. This is now. In a world with lots of tools, few rules and tribal values, forget about normal. Welcome to a binomial world with entirely new borders. The new reality is not a bubble but a double economy. This is a world with gated communities and ghettos – reservations for the rich and paltry places for the poor - a true paradise for security-guard companies. The double economy is inhabited by ‘competents and commoditents’. This is a world where some people work themselves to death just to stay alive. Others put in 80 hour weeks because they have realized that their knowledge is perishable. They need to exploit is right now – otherwise it is worth zilch.
From a business point of view, this shift is absolutely critical to understand since most of our thinking on strategy and management have been based on a normal rather than binomial world. The normal world gave birth to economies of scale and scope; bureaucratic organizations and business process reengineering; management by objectives and wandering around. Now, those days are gone. Indeed, most of our thinking on politics, sports, society, music, self-development, architecture, democracy or design has been based on the existence of a leading local average that now rests in peace.
For most companies the new reality means that they are both under siege by increasingly powerful customers and held hostage by competent individuals who are free to know, go, do and be. The prospects of facing such a two-front war imply that it will become much more difficult to make money in the years to come. To thrive, organizations need to take on the simultaneous task of taming talent and creating new customers.
Karaoke Capitalism tells us how to master the art of talent taming by securing transfusion of talent while also transforming individual skills into organizational knowledge. The resulting organization is a competence-based network with knowledge that is more dispersed, diverse, deeper and less durable than anything that we have seen in the past. The book outlines how to manage such complexity ensuring the exploitation of current advantages and the creation of new ones.
Information technology certainly opens up many new opportunities for creating new customers, but today, for a company to just be on the web is a bit like having a toilet back at the office – necessary but not sufficient for the creation of a competitive offering. PC=WC. Instead, capturing the interest of customers in a double economy is contingents on the creation and exploitation of rational or emotional market imperfections. Successful companies compete on models or moods – split strategies for a split world.
We need a new deal: for our societies, organizations and ourselves. Management for mankind.
• Capitalism has won. There is only one small problem. Is this what we want? Perhaps we should ask ourselves what price we are prepared to pay for prosperity. The opportunities for leading a richer life and societies in which more people have a genuine chance of realizing their dreams, have never been greater. But in order to get rid of that human shadow called poverty we have to make up our minds as to what a good life really is. Global market capitalism is not a political ideology. It is neither good nor bad, right nor wrong – it just is. Market capitalism is a machine. But a machine does not have a soul. We have to develop this as we go along. Global market capitalism does not say please. The machine just moves on – divides and conquers – sorting the efficient from the inefficient. Do we want capitalism with a cause or a curse? Because capitalism, just as communism, does come at a cost.
• To get to the future first, an organization needs speed. Velocity is a function of mass and energy. The greater the energy and the lower the mass, the higher the velocity. In the corporate world, the 1980s and 90s were largely devoted to processes of ‘demassification’ – downsizing, outsourcing, etc. So far, however, most companies have by and large neglected the other variable in the function – energy. While tomorrow’s winners may well be “empires of the mind” that Winston Churchill once talked about, they still need a sense of spirit. The time has come to stop re-engineering and start re-energizing our organizations. Competence is nothing without compassion. You may have a career, but do you have a calling? Future firms must become both co-creators of competence and providers of personality. Once it was money for mastery. Now, it must also be meaning for membership. Talent wants value and values. To thrive, organizations must learn how to combine skill and soul.
• The future, as always, does not lie in front of successful individuals, it must rest within them. Tourists and refugees inhabit our world, says Italian artist Francesco Clemente – either you embrace change or you try to escape from it. Try to control the uncertainties of this world and you’ll go nuts. Perhaps, instead, the best thing that we can hope for is some stability and certainty inside ourselves. Forget about your weaknesses for a while. Find your strengths and use them. Be the person that you were meant to be. Reveal that best kept secret of yours to the rest of the world. Get real. Otherwise you are bound to get lost.
And if that does not work for you – remember, we always have Viagra and Prozac."
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
A uma ou outra empresa portuguesa
Em 1999 já estava em livro e em prática numa ou noutra casa. Não sei se já chegou a nossa vez de pensar nisto, mas pode ser que sim, daí a prosa.
Dois suecos, uma visão da economia. Tradução brasileira de "Funky Business - Talento Movimenta Capitais". Excerto:
"Grande parte dos indivíduos, consumidores e colegas também é, ou pelo menos poderia ser, dirigida por uma lógica que vai além da puramente econónima. Como Alberto Alessi, fundador da empresa com o mesmo nome, disse certa vez: "As pessoas têm uma necessidade enorme de arte e de poesia que a indústria ainda não entendeu". Como Alessi cobra cerca de 80 dólares por uma escova sanitária, ele deve estar fazendo algo certo".
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
10 setembro 2005
Sizzla, vai uma Rizzla?
Nunca me considerei fundamentalista em relação a coisa nenhuma. Até perceber que o sou em relação à música. Ou a alguma música. A que tem origem na Jamaica, obviamente sempre o reggae e todos os seus numerosos parentes, constitui talvez o caso mais preocupante.
Não existem coisas muito mais patéticas do que um preto que não gosta de ser preto. Ou de um preto que gosta de ser um branco parecido com um preto. Até provas em contrário, um preto é um músico e um atleta em potência. E isso é invejável.
E isto vem a propósito do mais recente álbum do já pouco desconhecido Sizzla, o recém-publicado "Soul Deep". O gajo do fantástico cabelo aqui por cima transformou-se (aliás, veio piorando) num absoluto pão-sem-sal. A ideia de que daqui não vem nada de especial ao mundo já me tinha ocupado a cabeça num ido Festival de Paredes de Coura. Mas à luz deste disco Sizzla é, musicalmente, um jamaicano azeiteiro. Caetano Veloso talvez lhe chamasse "americanizado".
Há pelos menos três mensagens que Sizzla tem que assimilar sob pena de enlouquecer por completo:
1. Quem lhe chama rei, embaixador ou arquiduque de uma espécie de cruzamento entre o dancehall e o roots reggae já enlouqueceu. Convencer Sizzla desses factos é neste momento crime.
2. As guitarrinhas acústicas de boa parte de "Soul Deep" soam muito, muito, muito mal. Soam a uma abstrusa alatinização que assusta bastando imaginá-la.
3. O lovers rock, que Sizzla transforma em "Soul Deep" numa salada de baladas com fraco tempero, não deve ser confundido com nada isto.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
09 setembro 2005
Reggae-Moda-Punk
TESTE JAMAICANO
Apenas para maiores de 15 anos e menores de 25:
APRECIAS o disco cuja capa se acolita à direita desta prosa?
1. Sim
2. Não
Se RESPONDESTE 1, PROSSEGUE o TEU caminho.
Se RESPONDESTE 2, o TEU caminho para onde quer que seja não é por onde ESTÁS a ir.
Nota: as palavras em caixa alta/maiúsculas devem ser pronunciadas com especial ênfase, num tom simultaneamente íntimo.
08 setembro 2005
DJs e discursos
Passar excertos de discursos ou simples alocuções de figuras mais ou menos relevantes da História no meio de uma coisa qualquer num denominado set de DJ tem piada. É que tem mesmo. Se discordais, aproveitai o espacito abaixo.
Nota: o gajo da foto tem um "fake", um discurso forjado, sobre as drogas que circula na internet e que é absolutamente imperdível.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
O reggae esta a mudar-me...
Enquanto gentilmente passava pelo meu ouvido mouco o sublime disco de Augustus Pablo que leva como nome "Dub, Reggae & Roots from the Melodica King", a cadência dolente da música disparou paradoxalmente a actividade cerebral e surgiu-me na ideia uma possível carta escrita, por exemplo, a uma Júlia Pinheiro numa dessas revistas quaisquer.
Dizia mais ou menos isto, coisa pouca que o mouco quer ser fácil de ler:
"Querida Júlia:
Passei recentemente os 20 anos e sinto-me cada vez mais atraída pela onda do reggae. O meu namorado, um pouco mais velho, já me levou para a cama enquanto falava de Jah Rastafari. Fiquei a pensar nisso, porque não sabia onde ir buscar informação até encontrar esta sua preciosa coluna.
Não diria que a minha atitude perante a música, que continua a ser quase nenhuma, tenha mudado. Mas a verdade é que comecei a sentir prazer em conhecer alguns sons de Bob Marley, que dizem ser o rei. Em casa dizem-me sempre que não temos ideais. Haviam de ouvir o Bob. Mas digo-lhe: isto já vem do Ben Harper, do Jack Johnson e, sobretudo, do Gentleman. Esse sim, tem o espírito vivo. Devia tê-lo visto aqui há dias na Ericeira. É um guru.
Na realidade, Júlia, queria apenas dizer-lhe que julgo ter-me encontrado. Não consigo, no entanto, entender por que razão não estou ainda preparada para ver o filme "The Harder They Come" ou ler o livro "The Rough Guide to Reggae". É o que me diz o meu namorado".
Leitora identificada, Lisboa
06 setembro 2005
Mocidade Mocidade...
Estas linhas vão ser novidade absoluta na blogosfera. Mais: na Internet. Nunca ninguém pensou nisto. Pelo menos, não mais do que metade da população mundial que sabe onde fica Portugal.
Sendo assumidamente labrego, ainda que não ao ponto de utilizar a expressão "dance-music", quero (ou vou, mesmo sem saber se quero) opinar sobre a actual juventude portuguesa. Claro que só se fala mal quando já não se pertence ao grupo.
Em muitas empresas onde a palavra "target" já é portuguesa, a juventude está no intervalo etário entre os 18 e os 25 anos. Isto, na realidade, dá para estender cada vez mais para baixo e um nadinha menos para cima. Isso é a juventude. E o que urge dizer é que a juventude portuguesa, na relação que tem com a música e com praticamente tudo o que mexa no interior da cavidade craniana, é muito fraquinha. É uma espécie de equipe cipriota nos Jogos Sem Fronteiras - não envergonha muito, mas também não orgulha nada. (Sim, já sei, trabalham bem nas consultoras multinacionais e essas merdas)
As publicações de música conhecidas como interessantes não têm sucesso, os objectos físicos (discos) não se vendem mas os mp3 também não (dão-se), o mais importante para se ser socialmente relevante anda algures entre conhecer uma outra personagem dos Morangos com Açúcar e falar com propriedade do universo 3G, mesmo quando não se sabe o que é o ponto G.
Ora isto é, digamos, fraquinho. Não foi só a Internet que lixou isto, apesar de ter ajudado na dificuldade de recolha de fundos. Ó Vicente, às tantas o meu bom amigo ainda chama rasca a isto.
É só ignorante, não vale a pena ir tão longe.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco. Curiosamente, o seu também, não é?
Franz Ferdinand: "Do You Want To"
Pela forma como circula abundantemente na Internet, deve ser o novo single.
Gosto de lembrar-me de, "há muito muito tempo, era eu uma criança", ter dito a descrentes que os Franz Ferdinand eram muito "mais músicos" do que outros seus contemporâneos de sucesso. É que essa coisa está provada em "Do You Want".
É uma porra de uma canção que se cola ao ouvido e que ainda por cima tem, coisa que só se permite a Morrissey nos seus "la la las", um "tu ru ru" absolutamente irrestistível. E um ritmo daqueles, à Franz Ferdinand vintage (já sei que é impossível falar em vintage, mas interessa é que percebeides a ideia).
Em menos de um mesito o álbum está cá fora. E tenho a certeza de que vou gostar de lembrar-me outra vez daqueles tempos.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Editors: "The Back Room"
Hoje, um dia de 2005, é muito mais fácil fazer música do que há 20 anos. Não é só os Reasons, os ProTools, os Cubases e essas coisas, mas mesmo as guitarras, as baterias, os baixos. É mais fácil. Toda a gente faz. Excepto eu, porque é muito difícil.
Ora lendo uma prosa tresloucada, alegadamente a crítica a este primeiro álbum dos ingleses Editors, redigida por um colaborador do New Musical Express, estaríamos aqui na presença de algo de tão assustador como um "novo gótico". Felizmente, o autor da bizarria escrita, cujo nome não está aqui à mão, estava fora de si. E pode o mundo melómano descansar, porque não é daqui que vem a anunciada catástrofe do "novo gótico". Que os Sisters of Mercy tinham boas canções, ora disso ninguém duvida, porra. E depois?
O que em "The Back Room" se encontra são, genericamente, boas canções como "All Sparks" e "Camera" e "Someone Says" (se são singles ou quartos duplos com cama extra não sei). Que, em dias passados, faziam arrepiar quando vinham assinados por uns Psychedelic Furs, uns House of Love ou, para subir um nadinha o nível, uns Echo & The Bunnymen. E isso é muito bom, como se imagina.
Onde os Editors falham é na forma como tornam esse um som relevante em dias em que quase todo o excremento é relevante. Não falham rotundamente, vá lá, podia ser mais "original" (aceitam-se definições para o adjectivo). Aí podemos falar daquela forma sincopada como muitas das bandas "The" colocam a bateria e lhe aplicam os "hooks" de guitarra ou teclas que fazem o clique. Não vale a pena enumerar, para isto ser mais fácil de ler.
É só essa tentativa de recontextualização que me agrada menos nos Editors. É que, ouvindo com atenção, isto são boas canções (vieram-me por alguma razão à cabeça os Gene, vade retro)...
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Rihanna: "Music of the Sun"
Jay-Z gosta de uma miúda de 17 anos. Gosta, pá, pronto. A miúda tem o nome artístico de Rihanna e saiu há poucos dias o seu primeiro álbum, "Music of the Sun".
Conhecendo-se o currículo de Jay-Z, não se imaginaria, mesmo que nada de sexual aqui exista, uma moça menos bem parecida num contrato com a Def Jam. É verdade, naturalmente. Com 17 anos, Rihanna é muito bem parecida.
O melhor está em "Music of the Sun", deveria dizer agora para tornar isto mais sério. Não o farei, então. Direi apenas que está ao nível do outro parâmetro, eventualmente um pouco mais "alargado". É que se Pon De Replay foi o tema do Verão que se prepara para acabar (ainda não há dados oficiais sobre esse facto), a coisa não fica só por uma espécie de dancehall orelhudo e muitíssimo bem produzido.
É o R&B, também naturalmente, é esse fascínio pela Jamaica, é essa vontade de querer cantar melhor que parece fazer de Rihanna uma moça muito interessante.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
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