31 janeiro 2006
Dona Carlota Joaquina
Vou deixar as palavras mansas para outra ocasião, porque sobre este assunto não há grande volta a dar: genericamente, detesto blogs de mulheres, ou, como soi dizer-se, blogs de gajas.
Em termos também genéricos, são regra geral uma transcrição para html dessa inanidade televisiva de nome "Sexo e a Cidade". Por que raio a maioria das mulheres perde 80 por cento do seu tempo a escrever coisas que deviam ser apenas contadas, no limite, às amigas mais íntimas é coisa que me ultrapassa por completo.
Mas hoje (na realidade, segunda-feira, mas a teoria que sempre defendo é que o dia acaba quando me deito) tive uma grande notícia. Uma enormíssima amiga, consumidora veterana de blogs diversos, apresentou-me o seu. Contariando olimpicamente aquilo que clarifiquei nos parágrafos anteriores, já tem ligação e tudo aqui neste humilde estabelecimento, na barra à direita.
É muito bom vê-la escrever. Primeiro porque escreve bem, depois porque é uma amiga de mil nove e carqueja, depois porque sim. Queira o gentil leitor dar um salto a No Reino de Carlota Joaquina. Acho que a sua gata se chama Joaquina... Cena de gaja.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
O majestoso David Hasselhoff
Nestes momentos em que a saúde anda vagamentee debilitada e em formas tão díspares (está explicado atrás, não me faça o gentil leitor repetir), é bom ter amigos que nos presenteiam com o reencaminhamento de mails que valem a pena ler. Até eu, que teenho por hábito apagar praticamente tudo assim que leio o assunto das missivas, não resisti a deliciar-me com o teledisco de uma versão de "Hooked on a Feeling" perpetrada por David "Baywatch" Hassellhoff. Agora que a TVI, segundo me parece naquelas noites mais longas no computador, anda a repetir diária e obstinadamente a série sabe-Deus-que-número de "Marés Vivas", creio que vale a pena passar os olhos por esta preciosa peça de vieoarte. Nunca mais se vê "Baywatch" da mesma forma. Ou de todo. Ide. Ide conferir aqui.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Quiz
Há qualquer coisa de semelhante entre o que nesta noite de segunda-feira se passou e aquelas primeiras jornadas de uma qualquer liga de futebol, em que os poucos pontos ainda em jogo facilmente atiram uma equipa do primeiro para o sexto lugar. Foi exactamente isso que aconteceu hoje à já reverenciada TV Rural, desta vez desfalcada do elemento com mais pontos de contacto com o seminal Engº Sousa Veloso. Devidamente substituído, diga-se, por alguém mais do que competente para a função. Um sexto glorioso lugar num quiz onde teria dado jeito, por exemplo, contar com um médico e um cientista/investigador. A título de exemplo, não fazíamos ideia do nome das grutas descobertas em 1868 perto de Santander (Espanha), a palavra que define o medo de dormir ou adormecer ou o nome de um qualquer animal, comum na Sibéria, da família da marta mas com uma pele negra muito procurada. Segundo consta, todas as perguntas já tinham saído nas já distantes primeiras edições do quiz. Memória? Que memória? No universo da música, consola-me regressar ao pleno. Desta vez, agradeça-se o facto aos EMF, Mesa (com Rui Reininho) e Ornatos Violeta. E ainda a Bono Vox e a Ricky Martin.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
30 janeiro 2006
Vende-se
A neve, os nevões e os noticiários que não falam de outra coisa pouco me interessam.
O que me interessa é encontrar comprador(a) para três elementos que neste momento me pertencem. Há gente muito mais mercedora, estou certo. A saber: febre acompanhada por constipação (um 2 em 1, portanto), um entorse no tornozelo esquerdo e o dedo médio (aquele que tanto jeito dá no trânsito) não partido mas totalmente amarrado durante uma semana ao do lado, o anelar. Dizem eles que o anelar serve de tala. Assunto sério, todos os produtos estão em estado impecável e praticamente na embalagem.
Isto, para mim, é mais do que suficiente para não pensar muito em escrever neste espaço sobre assuntos vagamente interessantes que me têm passado pela cabeça.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
26 janeiro 2006
De facto, a melhor revista que se encontra...
Há outras boas, porreiras, cool, mas esta é outra loiça.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
O sexo alternativo do som
No contexto presente do mercado da música, como em praticamente todos os outros, negligenciar públicos perfeitamente identificados e de quantidade assinalável, mesmo que não maioritários, pode ser o princípio de uma estratégia suicida para qualquer empresa. Já se sabia, não é novidade, não surpreende.
Existem, no entanto, questões e iniciativas que não podem ser levianamente associadas a uma lógica de mercado, passando a sua assunção pública pela mais perversa e primitiva ausência de respeito pelas coisas mais simples do ser humano. Há uns anos, quando a Benetton lançou uma campanha em que, entre outras, dava exposição à imagem de um doente terminal apanhado pelo HIV, houve polémica da grossa. A Benetton não tinha, porém, como público-alvo aquele homem em particular, acamado e infelizmente às portas da morte.
O anúncio recente de que a Sony BMG se lançou na aventura da criação da etiqueta/editora Music With a Twist é, no entanto, um caso em tudo diferente deste. A Music With a Twist, dizem claramente os responsáveis, é uma empresa dedicada à edição de música dirigida ao meio GLBT, abreviatura em português de Gay, Lésbico, Bisexual e Transexual. Ou seja, para a Sony BMG, como para a outra empresa que a acompanha nesta venerável cruzada, a vida sexual do ser humano é objecto de negócio artístico descarado.
Que eu tenha dado por isso em 33 anos de existência, as opções sexuais de cada um não constituem um nicho de mercado. Melhor dizendo, quando constituem roçam a boçalidade ao apregoar-se o seu potencial comercial. São conhecidos os bares, são conhecidas as discotecas, os conceitos gay-friendly e por aí fora. A música, que é a arte por que há muitos anos me apaixonei e me acompanha diariamente, nunca teve nada que ver com isto. Sempre foi feita por gente com todo o tipo de inclinação e consumida por gente com todo o tipo de inclicação.
A crise aguda em que a indústria discográfica se encontra mergulhada de há uns anos para cá parece ser a principal justificação para iniciativas deste tipo. Imagine-se que George Bush mandava uns milhares de norte-americanos mascarados colocar no Iraque armas de destruição em massa para justificar a guerra que criou. É o que falta, agora, a Sony BMG fazer, percorrendo todas as concentrações e manifestações de tendências sexuais alternativas com promotores e promotoras vestidos de forma estereotipada distribuindo flyers em que se inscreve um catálogo de edições dadas ao tal universo GLBT. "Agora temos música para si", podia ser o slogan dessas acções.
É por estas e por umas quantas outras que ainda resistem em mim pedaços inamovíveis de anti-capitalismo. Fazer gala de um negócio que não é mais do que uma descriminação assumida não faz parte dos fenómenos que aceito como normais.
De qualquer modo, e porque a isso me imponho, aqui fica o comunicado oficial publicado no site norte-americano da Sony Music, não vão depois dizer que daqui só vem parcialidade e agressão gratuita. Aqui fica no inglês original, para que nenhuma palavra perca o sentido com que foi difundida:
"MUSIC WITH A TWIST THE FIRST MAJOR LABEL FOR LGBT ARTISTS IS BEING LAUNCHED BY SONY MUSIC LABEL GROUP AND WILDERNESS MEDIA & ENTERTAINMENT
NEW YORK, NY, January 10, 2006 – Sony Music Label Group U.S. and LOGO Founder Matt Farber’s Wilderness Media & Entertainment announced today that they have joined forces to create MUSIC WITH A TWIST, the first major music label dedicated to identifying and developing lesbian, gay, bi-sexual and trans gendered (LGBT) artists. MUSIC WITH A TWIST will collaborate with the Group’s U.S. labels and divisions, including Columbia Records Group, Epic Records, Sony Nashville and Sony Urban Music.
The TWIST roster will feature LGBT artists who have mass appeal and hit potential across all musical genres. Also planned for the TWIST imprint is a series of branded compilations geared toward the LGBT audience, as well as music fans everywhere. These compilations will feature hit songs by established artists that have been embraced by LGBT audiences, as well as tracks from emerging gay artists. The first of these compilations will be released in June 2006 during National Gay Pride Month. As part of its focus on identifying and developing new artists, TWIST is in the process of assembling a nation-wide network of local/regional A&R talent scouts to bring gay talent with a local buzz or a gay fan base to the attention of TWIST.
“I've known Matt for many years, and it’s been a true pleasure to watch him grow into an incredibly creative and effective business executive. I look forward to working with him and the entire TWIST team as we identify and develop the best new artists from across the country, and find the broadest audience possible for their music,” commented Sony Music Label Group Chief Executive Don Ienner. “We are extremely proud to be working on the launch of this important new label. TWIST will provide a nurturing and creative environment for a key group of artists -- it’s the right label at the right time, and the perfect vehicle to reach out to the lesbian, gay, bi-sexual and trans-gendered communities.”
Wilderness Media & Entertainment President Matt Farber adds, “TWIST will be the label where artists can take pride in their orientation as well as their artistry. The increasing visibility of Gay America makes this the perfect time for this venture, which will provide valuable resources to LGBT artists and market their music to the mainstream as well.”
Sony Music Label Group has signed on as a charter sponsor of Wilderness Media’s syndicated LGBT radio show, which shares the name TWIST. The TWIST radio show launches on January 14 & 15, 2006 on major FM stations across the nation including: Disney/ABC’s 95.5 WPLJ (New York), Clear Channel’s STAR 98.7 FM (Los Angeles), Infinity’s ALICE 97.3 FM (San Francisco), Susquehanna’s Q100.5 (Atlanta) and on the internet everywhere on AOL Radio.
TWIST label artists will benefit from access to and exposure through the network of brands in the Wilderness Media & Entertainment portfolio including Instinct Publishing and America Online. Additionally, TWIST artists will be served by the Sony Music Label Group’s marketing, promotion and distribution channels.
About SONY BMG MUSIC ENTERTAINMENT
SONY BMG MUSIC ENTERTAINMENT is a global recorded music joint venture with a roster of current artists that includes a broad array of both local artists and international superstars, as well as a vast catalog that comprises some of the most important recordings in history. SONY BMG is 50% owned by Bertelsmann A.G. and 50% owned by Sony Corporation of America.
About Wilderness Media & Entertainment:
Wilderness Media & Entertainment (WME) has created a portfolio of independent gay and lesbian businesses, brands and media working together and supporting each other in the marketplace and the community. Through the Wilderness portfolio, allied companies representing the diversity of the LGBT community benefit from enhanced visibility among this audience. The portfolio includes new brands created and operated by Wilderness, such as the TWIST radio show and Wilderness Talent Management, along with best of breed companies developing brands in the LGBT arena such as MTV Networks, America Online and Instinct Publishing. The mission of WME is not only a business one, but also a social one – to enhance the visibility of the LGBT audience by authentically representing the diversity of the community through media and entertainment initiatives. Research indicates that 15 million adults in the US currently self-identify as LGBT, an intensely brand loyal demographic with an estimated $610 billion in annual buying power. WME reaches the LGBT audience through top-tier entertainment, media and business prospects, providing quality outreach and initiatives for its portfolio entities, as well as exceptional offerings to this diverse, growing audience."
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
24 janeiro 2006
As cidades javardas
Mesmo sendo um abstencionista convicto, há sempre algo que consegue tocar-me vagamente em quaisquer eleições. Normalmente é o assunto que aqui me traz.
O que muito apreciaria saber é quem vai e quando vai retirar de todos os locais por onde passo as soberbas imagens propagandísticas em que constam as caras das pessoas que abaixo se encontram.
A celeridade do exercício do marketing político é assinalável durante uma campanha, com trocas e "evoluções" constantes ao serviço sabe-se lá de quê. Depois das eleições, porque ficam sempre estas imbecilidades nas paredes e nos chamados outdoors durante tempo praticamente incontável?
Incomoda-me.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
O que muito apreciaria saber é quem vai e quando vai retirar de todos os locais por onde passo as soberbas imagens propagandísticas em que constam as caras das pessoas que abaixo se encontram.
A celeridade do exercício do marketing político é assinalável durante uma campanha, com trocas e "evoluções" constantes ao serviço sabe-se lá de quê. Depois das eleições, porque ficam sempre estas imbecilidades nas paredes e nos chamados outdoors durante tempo praticamente incontável?
Incomoda-me.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Quiz
Ele há suspresas e há surpresas. Depois há o inesperado e o totalmente inverosímil. Na edição desta segunda-feira do Quiz semanal realizado no Espaço Portela, quando os resultados e as equipas classificadas começaram a ser revelados do último para o primeiro, lá para o 13º classificado já este plumitivo vestia o casaco para sair de fininho com a vergonha escondida pelo capuz. Tinha corrido muito mal. Muito mal mesmo. De repente, cinco equipas ex-aequo em segundo lugar e TV Rural, a nossa, a de sempre, a da Bayer, ganha de novo. Por uma resposta de diferença. Foi, naturalmente, a mais estimulante de todas, pela inverosimilhança que de nós se apoderou durante a sessão. Erros, claro, houve aos magotes. Exemplos: Não saber que foi António da Paz dos Reis quem introduziu o cinema em Portugal em 1896, não fazer a mais pálida ideia do nome da aguardente feita com cerejas fermentadas com os caroços ou o nome do utensílio com que os dentistas retiram o tártato dos dentes (chama-se xisto...). Na música, ficou mais uma vez por cumprir o pleno, graças a um qualquer Daniel não-sei-quantos, xaroposo como a groselha. Depois, foi só identificar Patrice e os Soul Asylum. Parece mentira, mas esta vitória aconteceu mesmo.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Coisas que se escrevem e que me irritam II
Adenda ao post do passado dia 16 de Janeiro:
Patologia
"Música que não deixa ninguém indiferente"
Medicação
No universo da escrita jornalística sobre música, isto é parolo e não diz rigorosamente nada. Se diz, diz o quê? Que a música em apreço provoca espasmos, diarreia, epilepsia? Funciona como ansiolítico ou anti-depressivo? É amarela ou roxa? Evite-se a expressão e pronto.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Patologia
"Música que não deixa ninguém indiferente"
Medicação
No universo da escrita jornalística sobre música, isto é parolo e não diz rigorosamente nada. Se diz, diz o quê? Que a música em apreço provoca espasmos, diarreia, epilepsia? Funciona como ansiolítico ou anti-depressivo? É amarela ou roxa? Evite-se a expressão e pronto.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
22 janeiro 2006
O combate do ano
Depois das Eleições Presidenciais de hoje, a que se juntam os discursos de reacção pós-eleitorais, urge marcar o combate do ano.
Os dois homens na foto, José Sócrates e Manuel Alegre, estão intimados a encher o Pavilhão Atlântico para um combate de 15 rounds de três minutos cada em que as regras são, simplesmente, arremessar rosas à fronha um do outro.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Em nome do filho
Não quero alongar-me sobre este assunto.
Acabo, neste instante, de passar para dentro do meu até aqui criterioso iPod o álbum desta bizarria telenovelesca com nome supostamente fashion que significa "sobremesa".
Isto porque adoro o meu filho mais do que qualquer outra coisa e porque ele, um destes dias, me pareceu vagamente frustrado por não dominar a letra daquela que é, ao que parece, a canção de sucesso desta monstruosidade musical. Felizmente, ainda não tem quatro anos e ainda tem tempo para ouvir música digna desse nome.
Se isto se passasse nos Estados Unidos, garanto que tudo faria para ficar milionário aplicando um processo à estação televisiva, à produtora da novela e aos mentores do disco por deformação grosseira de gosto numa criança adorável e inteligentíssima.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Descoberta fumarenta
É aquilo que sempre digo. No universo da música jamaicana, um dos sentimentos recorrentes do melómano é o da frustração por nunca atingir a plenitude do conhecimento. O que é o mesmo que dizer que quanto mais se conhece mais se percebe que ainda há tudo por conhecer. Descoberta mais recente deste humilde escriba é este "Love and Harmony", em que à voz vagamente melodiosa de Jah Stitch (Melbourne James) se juntam as teclas cálidas (que eu desejaria com mais protagonismo, mas é o que há...), resultado de uma edição realizada na década de 70 do século passado. Gravado nos estúdios de King Tubby, nome lendário do dub, o disco tem o próprio como engenheiro de som e a produção a cargo de Bunny Lee (Aggrovators, Cornell Campbell, Delroy Wilson, Dennis Alcapone, Don Carlos, I Roy, John Holt, Ken Boothe, Max Romeo, Paragons, Prince Jazzbo, Sly & Robbie, Tommy McCook, U Roy...). Talvez seja desnecessário dizer mais.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é um pouco mouco.
21 janeiro 2006
19 janeiro 2006
Sit around! Sit around!
Rocky Marsiano
Bicaense, Lisboa
18 de Janeiro
Por razões diversas que não importa aqui enumerar, já há tempo considerável que de alguma forma me desliguei dessa coisa que, para milhares de pessoas, basta referir como "a noite". Essa noite, a das tertúlias mais ou menos inconsequentes, deu lugar a outro tipo de noites, mais privadas e simultaneamente mais consentâneas com a falta de paciência para uma porrada de situações que decorrem "na noite". Terei sido, portanto, no passado serão um absoluto forasteiro no Bicaense. Talvez seja suficiente dizer que, no espaço onde actuou o combo de Rocky Marsiano, não entrava desde o tempo em que lá se jantava.
Ora, como se sabe, Rocky Marsiano e o seu soberbo "The Pyramid Sessions" são um projecto de hip hop, no caso de um hip hop de pendor jazzístico, com guitarra real e saxofone. Pelo menos para mim, aquilo é hip hop. Por isso mesmo, muito me espanta que o Bicaense parecesse, ao longo de coisa de hora e meia, um workshop de música, com assistência dividida entre sofás e o chão, como se quem ali estivesse a actuar fosse um qualquer cantautor de barbas descoberto por Devendra Banhart. Não entendo e, muito provavelmente, não quero entender.
No final do espectáculo, D-Mars (identidade habitual de Rocky Marsiano) dizia-me que este concerto havia corrido melhor do que qualquer outro porque, acima de tudo, foi mais solto. Precisamente. Nada como o próprio artista para descrever aquilo que acaba de fazer. Imaginar-se-ia que, de uma mesa onde D-Mars controlava a sua estimada MPC e DJ Ride fazia o possível e o impossível na magistral arte do turntablism, emanaria aquilo que pontualmente poderia ser descrito como free jazz? Não, de todo. Mas foi precisamente isso que aconteceu, e não apenas nos encores exigidos, muito por via do cálido saxofone de Rodrigo Amado e da guitarra de André Fernandes, espécie de liquidificadora que trouxe para a função uma dimensão por vezes cósmica.
D-Mars, já se sabe, é rei na arte de manejar uma MPC, esse lendário objecto com que a Akai constribuiu para numerosos discos de hip hop de todo o mundo e de toda a História. A revelação, pelo menos para este humilde escriba, veio das mãos de DJ Ride, jovem ligado ao Office, nas Caldas da Rainha, e já elemento da lista dos maiores turntablists portugueses, nem que para isso bastasse tê-lo visto e ouvido na noite que passou. Mão direita no prato e no vinil, mão esquerda no crossfader da mesa que o acompanha, tem técnica(s) para dar e vender, agindo mesmo como instrumentista quando, por exemplo, em plena sessão alterna no mesmo tema com uma destreza impressionante entre as 33 e as 45 rotações. Como se nada fosse, tranquilamente, em nome da música comandada por D-Mars.
Se "The Pyramid Sessions" é já de si uma experiência de deleite absoluto, ao vivo Rocky Marsiano assume complexidade maior e sente-se-lhe a vontade de interagir com instrumentos reais ao mesmo tempo que o vemos disparar os samples armazenados na memória da MPC. E se isto ainda não está perfeitamente alinhado, oleado e em piloto automático, não sei se alguma vez deveria estar, tamanha a delícia da imprevisibilidade que acompanha os beats de D-Mars, que vão do hip hop de pendor mais clássico às melodias dolentes de um DJ Shadow, passando por algo que na génese seria um dancehall não desdenhado por Sean Paul.
Rocky Marsiano, ao vivo, é uma experiência em maturação galopante que, garanto eu, no ano que corre deve ser levado a palcos e públicos maiores, já que esta é uma linguagem que, em simultâneo, as pessoas (à falta de melhor termo, use-se este) questionam e apreciam sobremaneira. "The Pyramid Sessions" é o que é. Ao vivo, fazem como que uma longa jam session emtrecortada por aplausos entusiasmados.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é um 1 pouco mouco.
18 janeiro 2006
JML & SR
Simon Reynolds (na foto) não é por diversas razões o meu jornalista musical preferido. Embora nutra pelo referido cidadão um tremendo respeito. Jorge Manuel Lopes, por seu turno, está em Portugal num lugar que praticamente só a si pertence, também por diversas razões, da qualidade da escrita à capacidade de antevisão e descoberta, passando pelo humor do melhor lote fabricado em inícios da década de 70 do século passado. Reler um a entrevistar o outro é uma delícia, simultaneamente uma lição de História e uma forma de me fazer crer que, às tantas, continua a existir essa coisa que tantos de nós amamos chamada "jornalismo musical". Ora leia aqui o gentil leitor aquilo de que falo.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Cada vez mais perto
Ainda com a alegada reportagem de estúdio exlusiva do New Musical Express por ler, vou-me deparando com dados mais ou menos relevantes sobre o novo álbum deste senhor por quem nutro mais estima do que em relação a qualquer outro músico. Desta vez, as boas notícias são que está já marcada uma digressão para o Reino Unido entre os próximos meses de Abril e Maio.
Já as notícias mais abstrusas vêm dar um colorido especial a esta espera pelo novo registo. Dizem elas que em Inglaterra levaram a mal umas declarações atribuídas a Morrissey sobre a incitação à violência sobre quem trata mal os animais (lembra-se o gentil leitor de "Meat is Murder"?). Que todo o caso é patético, lá isso é. Mas dá-me aquele conforto interior de tomar contacto com a importância que ainda hoje atribuem a tudo o que sai desta boca, mesmo quando não canta. Ler historieta aqui, onde também se anunciam as datas da digressão. Não o tragam a Portugal este ano, que não é preciso...
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Porque recebo eu estas merdas?
Para quem acompanha (tenho sempre a esperança de que exista alguém) minimamente este blog, não será novidade o facto de que, para mim, eleições são coisa para que já me borrifei há muito tempo. E vou poupar o gentil leitor das explicações mais ou menos infundadas para as minhas convictas e normalmente vitoriosas abstenções. Naquelas que se avizinham, gostaria apenas que houvesse a chamada segunda volta. Gosto de ganhar, e ganhar duas vezes sabe ainda melhor.
Assim sendo, imagina o estimado leitor o prazer que sinto, o orgulho que em mim brota, o entusiasmo que em mim se agiganta, quando recebo por via electrónica coisas como as que a seguir transcrevo? Ora vejai:
"Ora aqui tens uma boa razão para preferir ser espanhol!
VARIAÇÕES SOBRE A SABEDORIA POPULAR
- Em Janeiro sobe ao outeiro. Se vires verdejar, põe-te a cantar; se vires o Cavaco manda-o lixar.
- Quem vai ao mar avia-se em terra. Quem vota Cavaco, mais cedo se enterra.
- Cavaco a rir em Janeiro, é sinal de pouco dinheiro.
- Ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão. Parvo que vota em Cavaco, tem cinco anos de aflição.
- Gaivotas em terra... tempestade no mar. Cavaco em Belém... povinho a penar.
- Há mar e mar, há ir e voltar. Só vota Cavaco quem se quer afogar.
- Março, marçagão, manhã de Inverno tarde de Verão. Cavaco, Cavacão, um dia de Inverno e cinco anos de inferno.
- Peixe não puxa carroça. Votar em Cavaco, asneira grossa.
- Amigo disfarçado, inimigo dobrado. Cavaco empossado, povinho "entalado".
- A fome é o melhor cozinheiro. O Cavaco é o melhor coveiro.
- Boda molhada, boda abençoada; Cavaco eleito, pesadelo perfeito.
- Casa roubada, trancas na porta; Cavaco Presidente, Portugal indigente.
- Não há regra sem excepção, nem Cavaco sem confusão.
- De Espanha nem bom vento nem bom casamento. De Boliqueime vem um grande chato que é mau candidato.
- Um burro "carregando" livros é um doutor. Um eleitor "carregando" o Cavaco... é um horror!
- Com Cavacos e bolos se enganam os tolos.
- Antes só que mal acompanhado. Antes levar com um taco do que votar no Cavaco!!!
E já agora, inspirando-me no manifesto Anti-Dantas, de Almada Negreiros:
Se o Cavaco diz que quer ajudar Portugal, então eu quero ir para Espanha!!!"
Nem sei o que diga...
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
17 janeiro 2006
Nunca mais...
Já passei a fase Cêgripe e entrei na era Actifed. Se chegar ao Cavalo aviso.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Quiz
Mais uma noite gloriosa de segunda-feira, desta vez vagamente mais gloriosa do que a anterior. O quarteto TV Rural voltou a angariar o primeiro lugar no Quiz semanal do Espaço Portela e, desta vez, sem ex-aequo, o que dá sempre outra "piléria", como dizem uns amigos meus. Naturalmente, e como já é recorrente, cometemos algumas imbecilidades, como não fazermos puto de ideia de como se chama o primeiro turista espacial, o nome da porra do cargueiro que há mais de um mês está encalhado ali para os lados do Faial ou que Bruce Willis inicou carreira em aparição fugaz no saudoso "Miami Vice". Na música, facto inédito, falhámos uma. Não me incomoda. Não sabíamos, ou não nos lembrávamos, que era essa aberração chamada Seeder que gravou um tema hediondo com a matrona dos inenarráveis Evanescence. Acontece. De resto, foi tranquilo, graças a Katrina & The Waves, Yazz e ao facto de eu dar alguma atenção a coisas tão supérfluas quanto Puff Daddy (ou P. Diddy) ser dono da Bad Boy Entertainment. A vitória soube melhor, desta vez. Foi mais, digamos... onanista.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
16 janeiro 2006
Coisas que se escrevem e que me irritam
Para quem não me conhece, que fique claro que sou uma pessoa muito sensível em relação à forma como a língua portuguesa é tratada. Não tem rigorosamente nada que ver com patriotismo serôdio, mas com picuinhice mesmo, com rigor apreendido junto de alguns jornalistas de velha escola que com uma vírgula fora do sítio eram capazes de, sem pruridos, afirmar: "Este texto está uma cagada".
Sou daqueles que não se importa nada que a música que em Portugal se faz seja cantada ou berrada em inglês, francês, alemão ou esperanto. Prefiro ver qualquer dessas línguas "assassinada" do que o português, aquela em que nos expressamos. No meu caso, no português escrito em particular. Também sou daqueles que retira, à cabeça, uns 70 por cento de respeitabilidade a qualquer empresa ou entidade que dá erros na sua comunicação escrita, seja ela publicitária ou o diabo a quatro.
É por isso que, sobretudo num contexto jornalístico, há coisas que me irritam verdadeiramente e que, infelizmente, tenho assimilado como doenças praticamente incuráveis, tamanha a teimosia de quem as pratica em não aceitar o teor ora erróneo ora aberrante com que juntam letras. Gostaria, nesta ocasião, de partilhar alguns exemplos dessas práticas pouco remomendáveis.
Patologia
"Para além de"
Medicação
Retirar da expressão o "para". É uma inutilidade e um desperdício de espaço.
Patologia
"Inúmeros (...)"
Medicação
Inúmeras são as coisas que não conseguem contar-se. As estrelas no céu são inúmeras. Os pares de sapatos numa montra não são inúmeros. Substitua-se, por exemplo, a palavra por "numerosos".
Patologia
"Há não sei quanto tempo atrás"
Medicação
Compreender a função do verbo "haver" nesta expressão e retirar o "atrás", uma vez que não se pode dizer "há não sei quanto tempo à frente".
Patologia
"Na minha opinião pessoal"
Medicação
Retirar da expressão a palavra "pessoal". Se a opinião é minha, há-de ela ser colectiva?
Patologia
"Música contagiante"
Medicação
No universo da escrita jornalística sobre música, isto é parolo e não diz rigorosamente nada. Evite-se e pronto.
Patologia
"Eventualmente, conseguimos não sei o quê"
Medicação
As traduções directas da língua inglesa dão nestas coisas. "Eventualmente" e "eventually" não têm nada que ver uma com a outra. Evite-se e pronto.
Patologia
"No fim do dia, blá blá blá"
Medicação
Exactamente a indicada para a patologia anterior. "No fim do dia" e "at the end of the day" têm uma relação tão próxima quanto a Torre de Belém e um molho de bróculos.
Patologia
"Os The National são uma grande banda"
Medicação
Retirar da expressão o "The". É exactamente o mesmo que dizer "Os Os National...". Excepção: The The.
Patologia
"A Maria, foi às compras"
Medicação
Retirar a vírgula urgentemente. Uma vírgula entre o sujeito e o predicado, num caso destes, devia dar direito a despedimento com justa causa.
Ir-me-ei, certamente, lembrando de mais alguns casos mais ou menos frequentes, mais ou menos aberrantes. Descansai. Partilhá-los-ei.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
13 janeiro 2006
Portugal. The Man
Numa passagem rápida pela/pelo (nunca sei como referir-me à coisa) Pitchfork, deparo-me com um pequeno anúncio a um disco anunciado para dia 24 deste mês de Janeiro. O grupo, com origem no Alaska, chama-se Portugal. The Man (assim mesmo, com ponto no meio, para parecer mais arty). "Waiter: You Vultures!" é o nome do álbum (selo Fearless) e, pelo que ouvi disponibilizado no MySpace, estou já em posição de partida para fugir deles a sete pés. Temo é que alguém ache graça trazê-los cá mais dia menos dia.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
12 janeiro 2006
"And her hearing aid started to melt..." Vol. XIII
Sonotone do dia:
Isobel Campbell & Mark Lanegan: "Ballad of the Broken Seas" (Janeiro 2006)
Veredicto:
Talvez o facto que mais me perturba neste álbum seja o facto de nenhum dos intervenientes me ter dito praticamente nada, do ponto de vista estético, até à data presente. Sou daqueles que afirma sem decoro que os Belle & Sebastian ganharam, e muito, com a partida de Isobel Campbell. Numa lógica semelhante, nunca me interessaram os Gentle Waves nem o álbum de Campbell a solo, "Amorino", de 2003. Mark Lanegan, por seu turno, merece-me algum respeito, mas pouco mais do que isso. Nunca apreciei sobremaneira os Screaming Trees nem aquilo que dele ouvi a solo, mudando a história ligeiramente com o envolvimento nessa portentosa máquina trituradora chamada Queens of the Stone Age. Entretanto, e sem que grandes justificações se encontrem para o facto, o final deste mês vê ser parido um documento feito a mielas. E que documento, senhoras e senhores. Não é a parceria aparentemente inusitada que ultrapassa a barreira do brilhantismo, mas tão somente o conteúdo que dela escoa. Poderia perfeitamente falar-se numa espécie de "A Bela e O Monstro" em versão musicada em tons folk e bluesy. Mark Lanegan, esclareça-se, conduz praticamente todas as operações, deixando para Isobel Campbell o hercúleo fado de fazer mais doce aquilo que dele quase sempre sai amargo. Que se oiça, por exemplo, a versão de "Ramblin' Man", de Hank Williams, aqui inscrita, um trote middle of the road que se cola à epiderme como sangessuga esfomeada. Mas há tanto mais a descobrir em "Ballad of the Broken Seas". É um disco de amor, de cortar o coração às postas, de fazer tocar sempre que nos esquecermos das razões pelas quais um dia nos apaixonámos pela música e pelas canções. 90,4% de satisfação garantida.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Isobel Campbell & Mark Lanegan: "Ballad of the Broken Seas" (Janeiro 2006)
Veredicto:
Talvez o facto que mais me perturba neste álbum seja o facto de nenhum dos intervenientes me ter dito praticamente nada, do ponto de vista estético, até à data presente. Sou daqueles que afirma sem decoro que os Belle & Sebastian ganharam, e muito, com a partida de Isobel Campbell. Numa lógica semelhante, nunca me interessaram os Gentle Waves nem o álbum de Campbell a solo, "Amorino", de 2003. Mark Lanegan, por seu turno, merece-me algum respeito, mas pouco mais do que isso. Nunca apreciei sobremaneira os Screaming Trees nem aquilo que dele ouvi a solo, mudando a história ligeiramente com o envolvimento nessa portentosa máquina trituradora chamada Queens of the Stone Age. Entretanto, e sem que grandes justificações se encontrem para o facto, o final deste mês vê ser parido um documento feito a mielas. E que documento, senhoras e senhores. Não é a parceria aparentemente inusitada que ultrapassa a barreira do brilhantismo, mas tão somente o conteúdo que dela escoa. Poderia perfeitamente falar-se numa espécie de "A Bela e O Monstro" em versão musicada em tons folk e bluesy. Mark Lanegan, esclareça-se, conduz praticamente todas as operações, deixando para Isobel Campbell o hercúleo fado de fazer mais doce aquilo que dele quase sempre sai amargo. Que se oiça, por exemplo, a versão de "Ramblin' Man", de Hank Williams, aqui inscrita, um trote middle of the road que se cola à epiderme como sangessuga esfomeada. Mas há tanto mais a descobrir em "Ballad of the Broken Seas". É um disco de amor, de cortar o coração às postas, de fazer tocar sempre que nos esquecermos das razões pelas quais um dia nos apaixonámos pela música e pelas canções. 90,4% de satisfação garantida.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
A Naifa, a Noite, a Gripe, o Orgulho
Há algo de especial nesta madrugada. E não é a meretriz de uma gripe nem uma ferida infectada no braço provocada pelo pior relvado sintético do universo que abala este composto feito de orgulho e flutuação nocturna.
Lá pelas 11 e meia da noite, Luís Varatojo saiu de casa e à porta de um deserto Cinema Quarteto, entregou-me, numa das únicas partes descobertas do meu corpo torturado pela anestesia gripal, as mãos, o segundo álbum d'A Naifa. Senti há pouco o iBook e as sensuais e alvas colunas Creature II da JBL agradecer-me o privilégio.
Esta noite começo a pensar naquilo que vou escrever. A Naifa, que para mim editou em 2004 o melhor álbum português (e aqui "português" assume contornos quase sublimes) desse ano, "Canções Subterrâneas", desafiou-me para escrever o texto de apresentação deste segundo tomo de um percurso que irá até onde Luís Varatojo, João Aguardela, Vasco Vaz e Maria Antónia Mendes queiram que vá.
Estou simultaneamente agradecido, orgulhoso e assustado com esta coisa de pôr em palavras aquilo que a 2 de Março chegará ao circuito normal de distribuição. Rui Monteiro e Miguel Esteves Cardoso já transmitiram da forma única como cada um deles o faz todo o universo que dá forma ao imaginário d'A Naifa. Sobre o disco, perdoai os mais ansiosos, nada direi por ora. Até porque Luís Varatojo, quando me telefonou pela primeira vez para este propósito, me disse entre risos: "Não o ponhas já na net".
Lembrando Farinha Master e os Ocaso Épico, obrigado.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
10 janeiro 2006
Quiz
Foi desta. Mesmo desfalcado do nosso rookie, o combo TV Rural atingiu esmerada vitória na sessão de ontem, segunda-feira, no Espaço Portela, ali perto do aeroporto que já não serve. O que me lixa, nestes casos, é o ex-aequo. O que me lixa menos é ter sido a mielas com o temível Clube da Latinha, coleccionadores de troféus. Teria sido interessante, para o triunfo isolado, saber que foi Olavo Bilac quem escreveu o hino nacional do Brasil (conferir em todas as enciclopédias), ou quem escreveu e quem realizou o soporífero "África Minha". Ou de onde está a origem de expressões como "bode expiatório" e "hecatombe". Na música foi o pleno, pelo menos. Graças aos Gypsy Kings, Mike & The Mechanics, Right Said Fred, Violent Femmes, Xutos & Pontapés e Ziggy Marley.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
05 janeiro 2006
Nunca e tarde para ser cedo
Estas coisas acontecem, mas não as engulo muito bem. Andava eu aqui há pouco preocupado em balizar boas obras editadas entre 1 de Janeiro e 31 de Dezembro de 2005 e deparo-me com uma preciosidade de 2004 que é já do meu melhor de 2006.
O álbum dos Earlies foi, para mim, amor à primeira audição. Foi como ouvir uma orgia entre os Mercury Rev, os Polyphonic Spree, os Beatles na via psicadélica e um Ennio Morricone em chaise longue de design. E descobri isto agora, o que é uma tremenda vergonha.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
As coisas que acontecem...
04 janeiro 2006
Foi bom para ti?
Esta não está a ser uma altura nada fácil do ponto de vista emocional.
O ano de 2006 já começou e uma passagem de olhos por listas e mais listas dos melhores discos de 2005 fazem-me chegar á conclusão, como em todos os anos, de que pouco conheço. Isso é dramático.
Caso queira o gentil leitor experimentar a terrível sensação, comece por uma viagem pelo Metacritic e sinta a frustração apoderar-se do seu até aqui inflamado ego musical.
Por aqui, já estou a tomar o pulso aos Spoon. Mas falta tanta coisa... Já aí vêm os Hold Steady, Andrew Bird, os Broadcast, os Boy Least Likely To...
É uma vida difícil.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Por um Portugal transparente!
Estou em crer que os dois primeiros parágrafos da notícia publicada pela Agência Lusa são suficientes para amar ainda mais um bocadinho este bocadito de terra com gente dentro.
Aqui vai:
"Faro, 03 Jan (Lusa) - Dois quadros atribuídos a Rembrandt e doados há 62 anos à cidade de Faro são falsos, revelaram análises feitas por um especialista em pintura e pelo Instituto Português de Conservação e Restauro, disse hoje fonte oficial.
No ano em que se comemoram os 400 anos sobre o nascimento do pintor holandês Rembrandt (1606-1669), duas peças alegadamente do pintor - um óleo sobre tela que seria um auto-retrato do artista e um óleo sobre cartão a retratar um amigo, Lieven van Coppenol - foram analisados e as conclusões indicam que as obras são do século XIX".
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
03 janeiro 2006
E se...?
Adoro ler as revistas do social durante uma das actividades fisiológicas passíveis de serem realizadas pelo ser humano comum. E numa delas, uma Lux muito recente, fiquei a saber que Pimpinha Jardim (Catarina, antes de passar pelo ralador), terminou o seu namoro. Como já aqui havia dito, a moça partilhava afectos com um filho de Inês Serra Lopes, directora d'O Independente.
Ora isto, ao contrário do que está escrito no post anterior, poderia ser uma magnífica notícia para o jornalismo feito dentro de portas. Ou seja: que pretexto tem agora Inês Serra Lopes para manter numa revista do seu semanário uma coluna assinada por alguém sem rigorosamente nada para dizer à melhor amiga, quanto mais ao mundo? Pareceu-me, no momento íntimo em que me deparei com a notícia, uma questão interessante.
Eu, no lugar de Inês Serra Lopes, optava por uma destas soluções: ou acabava com todo o suplemento (apenas porque sim), ou substituia a actual colunista pela mãe desta ou dizia ao filho para escolher melhor as companhias.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
O director
Era uma daquelas figuras por quem, quando passava no portentoso edifício de Laveiras onde se encontra todo o espólio de imprensa de Francisco Pinto Balsemão, ao "bom dia", "boa tarde" ou "boa noite" (naqueles serões que todos os jornalistas conhecem ou deviam conhecer) se juntava a tentação de fazer uma vénia. Não o conhecia e tinha muita pena disso. Confesso: no jornalismo, sou admirador profundo da velha escola, aquela de que Carlos Cáceres Monteiro era um dos poucos sobreviventes visíveis.
Director da Visão, Cáceres Monteiro (ou apenas Cáceres, como a ele nos referíamos) era aquilo que eu ambiciono: ser, até ao final da vida, praticante dessa nobilíssima actividade do jornalismo. Naturalmente, falamos de universos diferentes. É como comparar uma poia e uma bomboca, mas é assim que eu gostaria, com 33 anos, de vir a ser reconhecido. Ser conhecido é muito pouco interessante.
Não posso, por razões geracionais óbvias, estender-me em análises e elogios a um percurso feito ao longo de décadas. O universo da reportagem, divisão maior do jornalismo, é um campeonato em que Carlos Cáceres Monteiro se dedicou de uma forma que se torna praticamente impossível de enaltecer por um singelo plumitivo como eu. Como não é fácil tornar líquida a teoria de que a Visão se transformou numa revista óbvia e ostensivamente socialista, mesmo sabendo que o seu agora falecido director se ligou ao MASP, que ajudou em idos tempos a colocar Mário Soares no mesmíssimo posto a que agora quer regressar. Para mim, e de um ponto de vista puramente jornalístico e obviamente limitado no tempo, Cáceres era o tal a quem o cumprimento cordial quase cedia lugar à vénia.
Carlos Cáceres Monteiro faleceu na madrugada passada, e pelo menos não vai ver Portugal continuar a ser o país mais merdoso da Europa a que se juntou contratualmente há 20 anos. Naturalmente, daqui segue toda a força para a família e os amigos. Mas, no que mais me toca, acho que escrevi basicamente estas linhas por ser totalmente incapaz de dar tudo o que nesta altura precisa alguém da boca de quem belas histórias ouvi, algumas durante almoços tardios no refeitório do tal edifício de Laveiras. Para o Luís, um dos filhos de Carlos Cáceres Monteiro, fica prometido o que de mim precisar.
E isto não é do meu ouvido, mesmo sendo 1 pouco mouco.
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