28 junho 2006

Auto-promoçao

Fremitus 01_07_2006

Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.

24 junho 2006

Visita da realeza

Don Carlos

Ao contrário de muita gente criada num contexto pop, nunca fui muito dado a flyers. Sou mais pelos posters. No entanto, no final do concerto de Matisyahu, e enquanto esperava pela minha vez de pagar a estada da viatura num parque de estacionamento ali perto do Coliseu, reparei numa silhueta familiar estampada num flyer com as cores do rastafarianismo. Quase toda a gente que ali estava vinha do mesmo sítio que eu, mas ninguém lhe pegou. Está aqui mesmo ao lado.

Isto tudo, na realidade, para dizer que no próximo dia 1 de Julho é preciso ir ao Largo do Mercado, no Montijo, e largar 10 euricos para ouvir uma voz fabulosa da música jamaicana. Está no activo desde 1973 e do seu currículo constam as colaborações como gente como, hum..., King Tubby, Sly & Robbie, Bunny Lee e King Jammy. Para não falar dos Black Uhuru, de que é membro fundador. Recomendo vivamente também a audição cuidada do magnífico Hebron Gate, dos norte-americanos Groundation com a participação dos lendários Congos e desta sumidade. Estou a falar de roots reggae altamente melódico. Estou a falar de Don Carlos.

Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.

IC19 Rules!

Terminou há coisa de uma horita a terceira noite no Mercado, em Lisboa, animada pelo Buraka Som Sistema. Desta vez a suadeira foi ainda maior do que da anterior. Pelo meio tiveram o prazer de partir a loiça no Popular Soundclash, também em Lisboa, e esta sexta-feira uma muito bem esgalhada capa na edição do suplemento Y, do Público. Acredite o estimado leitor que a bomba está mesmo a rebentar. Num curto espaço de tempo passamos da entrada "à brava" para sistema de bilheteira e lista de convidados. Há quem vá gostar de dizer que esteve lá quando a coisa começou.

Musicalmente, não se imaginem revoluções. Se um ou outro tema parece ter maior aprumo do ponto de vista da produção, outros há que facilmente mantêm o Buraka Som Sistema neste casulo semi-underground. Faltará, sobretudo ao vivo, uma coisita de nada de sofisticação, muito mais hooks de produção própria e algum investimento na melhor coordenação entre os três MCs. Isto, ao fim e ao cabo, são pormenores em noites como as que o Buraka Som Sistema tem feito. Com a população a dançar, a suar, a tirar a roupa e, numa manobra deliciosa, a colocar-se de cócoras quando a ordem chega do palco, a coisa está mais do que lançada.

O que agora, neste exacto momento, se espera é que o Buraka Som Sistema tome absoluto controlo da sua produção e não deixe chegar o mérito deste "kuduro progressivo" (designação cada vez mais assumida pelos próprios) a um Diplo, por exemplo. Ele lá terá, e tem, o seu mérito em muita coisa, mas que esta invenção de Campo de Ourique com apeadeiros nas primeiras saídas do IC19 fique numa primeira fase como um produto da cultura de Lisboa via Luanda. Já se perderam tantas oportunidades de marcar pontos que é sempre bom tentar não falhar uma.

Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.

23 junho 2006

Jahlom!

Matisyahu

Matisyahu
Coliseu dos Recreios, Lisboa
22 de Junho

Chegou a altura de defender afincadamente a ideia de que a cultura jamaicana deve ser objecto de estudo obrigatório nas escolas portuguesas, lá para o primeiro ciclo, ou como agora lhe chamam. Continuar a pactuar com a ideia de que o reggae (a forma mais simples de referência à música da ilha de onde saiu Bob Marley) é coisa recente oriunda de estúdios em Berlim ou Long Beach começa a ser verdadeiramente dramático. Absurdo, até, para não dizer absolutamente intolerável. Se é certo que a música se começa a assimilar a partir de um qualquer ponto e que isso é sempre positivo, não é menos certo que desfrutar das delícias rítmicas e melódicas com origem na Jamaica como uma qualquer patetice dos D'zrt é praticamente um caso de polícia.

Isto para chegar à noite de quinta-feira, quando a personagem Matisyahu levou ao Coliseu dos Recreios, em Lisboa, muito, mas muito mais gente do que se esperaria e certamente muito mais gente do que sucederia na era pré-Gentleman. Afirmar que a composição do Coliseu era feita com uns 80 por cento daquela mole a que alguns gostamos de chamar de betos radicais & suas partenaires não constitui exagero algum. Até aí tudo muito bem, é simpático, é colorido, é, como se diz noutros espaços, gente bonita. O problema, para quem vive estas coisas da música com intensidade superior aos restantes mortais, é a ignorância, a displicência com que tradições se tornam descartáveis, tão duradouras quanto a moca de um charro.

Matisyahu, talvez seja bom esclarecer, está a anos luz de ser um qualquer estandarte jamaicano. Não só porque não tem rigorosamente nada que ver com o país mas porque, e isso é que é mais importante, a sua música se aproxima daquela atmosfera tão depressa como se afasta para tiques próprios do mais formatado rock de pacotilha. É uma chatice, de facto, mas nestas coisas sou vagamente fundamentalista. É por isso que, num concerto desta natureza, um interminável e por vezes atabalhoado solo de bateria é tão imbecil quanto um riff de guitarra armado ao pingarelho. E não deixa de ser curioso que o único momento em que se ouviram apupos ao serão foi durante um instrumental fiel à mais digna tradição do dub, género superior imortalizado por gente como Lee "Scratch" Perry ou King Tubby. Se isto é apreciar a cultura jamaicana, então algo me escapa.

Mas Matisyahu, o artista, não é nada mau. É certo que a predilecção religiosa por momentos de semi-liturgia soa aos nossos ouvidos como sabe ao nosso palato uma sardinha com chantilly, mas a forma como afincadamente aplica a sua voz-reencarnação-de-Brad-Nowell-dos-Sublime sobre uma base competente feita por quem tem escola da coisa é tudo menos desprezível. E chamar, por exemplo, SP & Wilson para colorir um beatbox já de si interessante não deixa de ser estética e culturalmente simpático. Se, como aconteceu, conseguir uma plateia abstrair-se de uma mensagem global sem grande sentido prático, então a coisa chega a ser entusiasmante. Como foi.

Não havia muito para mostrar à populaça, apenas dois álbuns, Shake Off the Dust Arise e Youth. As técnicas próprias das jam sessions trataram do resto, enquanto não soavam os êxitos criados na rádio e na TV, como o trepidante "King Without a Crown", "Chop 'Em Down" ou "Heights", que saca o proverbial início ao clássico "No No No". Com odores fumarentos diversos no ar, rapaziada em tronco nu e jovens moças de camisolitas de alças, a coisa fez-se sem dificuldade. E ainda houve tempo para o número da bandeira portuguesa, símbolo do fenómeno futebolístico como propulsor de orgulho num país da treta. Bem sei que parece aqui existir azedume e ironia aos magotes, mas não tanto. Foi, efectivamente, uma manifestação de entretenimento bem executada.

Como bem executada foi a primeira parte do espectáculo, não anunciada pela organização. Apesar de continuar até esta altura sem saber de que grupo se tratava, foi recompensador assistir a um colectivo português que, militando entre o ska e o reggae, não se entrega em exclusivo aos clichés do costume, os mesmos que fazem com que o produto português nesta matéria seja normalmente desprezível.

Para fechar o círculo, volto a dizer que todo este universo tem que ser aprendido. Com exame de admissão à entrada dos espectáculos. Caso contrário, a ignorância que apontamos aos norte-americanos por não saberem onde fica metade dos países do mundo é em tudo semelhante àquela de não saber que raio de música é esta que o século XXI parece atirar para a linha da frente do sucesso comercial. Haja esperança. Ao intervalo, quanto tocava música ambiente, muitas vozes foram ouvidas a entoar a frase "Out in the street they call it murder", que Damian Marley incluiu no seu propalado "Welcome to Jamrock". Damian Marley, esclareça-se, está muito mais próximo da verdade do que Matisyahu.

Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.

20 junho 2006

Auto-promoçao

Big up to Tiago Machado, the man with the pen.

Poster

Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.

14 junho 2006

Vida dura, vida chata...

Estalagem Ponta do Sol

Se me permitis, até domingo estarei por aqui, pairando no espaço que a fotografia documenta. É na Madeira.

Qualquer coisa que seja precisa, "please do not disturb". Depois, se estiver para aí virado, conto como foi. Digo já que levo uma quantidade assinalável de discos para um set jamaicano neste pôr-do-sol junto à piscina.

Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.

12 junho 2006

Intervalo

Can't Stop Won't Stop

Pausa.
Para acompanhar o Mundial de futebol.
Para regressar à saudosa actividade de coleccionar cromos.
Para ver e ajudar a renascer o Fremitus, no Bairro Alto.
Para pensar na glorificação da mediocridade profissional.
Para relativizar amizades.
Para envolver-me em projectos de gente apaixonada.
Para ouvir música, muita música, e deglutir o álbum de Thom Yorke a solo com a convicção de que é infinitamente melhor do que os últimos 93 dos Radiohead.
Para devorar o sublime "Can't Stop Won't Stop: A History of the Hip-Hop Generation", de Jeff Chang.
Para sentir que quase tudo é melhor do que o aqui e o agora.

Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.

05 junho 2006

Rock in Rio (Douro)

GNR

Acabou há pouco o único concerto do Rock in Rio Lisboa que vi do princípio ao fim e com um prazer inesperado. Obviamente, vi-o num aparelho de ecrã quadrado. Refiro-me ao concerto dos GNR, o último dos que decorreram no palco principal do festival.

Não era do domínio público que era "o" concerto dos 25 anos dos GNR, mas Jorge Romão, para mim de forma vagamente exagerada e moderadamente tola, fez por lembrá-lo várias vezes em alocuções à assistência de que não há memória noutras ocasiões. De qualquer maneira, Romão sai mais do que perdoado porque a ele lhe pertenceu um dos momentos mais bem sonantes do espectáculo, quando numa espécie de passagem para "Sub-16" trocou o baixo pelo berimbau. Mas que se saiba, então, que era "o" concerto dos 25 anos.

E foi uma coisa bem feita, para muitos curta mas do tamanho das coisas pop. Foi, como seria normal esperar, um voo picado sobre alguns dos pontos assinaláveis musical e comercialmente dos tais 25 anos. Não faltaram as proverbiais "Dunas", "Pronúncia do Norte" ou "Efectivamente", mas o final com o vetusto "Piloto Automático" deu um toque de requinte especialíssico. Como se fosse uma declaração de princípios, como se no livro de intenções estivesse a de dar uma punchline irónica a um concerto previsivelmente festivo em modo "best of".

Mesmo com Toli César Machado na guitarra, como que a materialização do segredado domínio que sempre exerceu no grupo, a coisa aguentou-se muitíssimo bem e, ao contrário do que aconteceu noutras ocasiões, soou tudo menos acacrónica. Rui Reininho, cuja idade não significa o amadurecimento da actividade de cantar (que não é o mesmo que ter boa voz), esteve no ponto que dele se pretenderá nesta altura. Nada titubeante, perfeitamente senhor do seu papel "envelhecido" e eternamente jocoso.

Começou o espectáculo de fato propositadamente desalinhado e chapéu que não deixaria de remeter para uns Madness (certamente resultado do imaginário mafioso que se encontra na revisão que os Guardiões do Subsolo fizeram de "Popless"). Aí confesso que o achei muito bem parecido, diria mesmo charmoso. E é aí que oiço: "Sabes porque é que achas que ele está com pinta? Porque está estilo Morrissey". Durante uns minutos achei que não havia relação entre as coisas. Mas agora já não tenho a certeza.

Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.

02 junho 2006

Lisboa, Tejo e Kuduro

Kuduro

A humildade é uma coisa muito jeitosa. Informo o estimado leitor que, nesse departamento, o signatário da prosa é bastante jeitoso. Não tem quaisquer problemas em aprender, mesmo quando essa aprendizagem coincide com a demonstração cabal da ignorância face a uma qualquer realidade.

Hoje à tarde aprendi que me fartei. Ali em Campo de Ourique, em Lisboa, estive na Enchufada à conversa com o Buraka Som Sistema. No caso, com Kalaf, Condutor, Lil' John e Riot. E porra, as coisas que yours truly não sabia, não conhecia, não imaginava.

O Buraka Som Sistema tem sido em certas circunstãncias colado eo rótulo nu-kuduro, designação que nos mereceu uma boa meia-hora de acesa troca de pontos de vista. Nu-kuduro, para os protagonistas da coisa, é uma designação no limiar da barbaridade. Aproveitando uma designação apresentada no Público, alinham mais por uma coisa como "kuduro progressivo", entre outros rótulos absolutamente hilariantes.

Se em Portugal estão orgulhosamente sós na revisão do kuduro pela via de aplicações electrónicas diversas, o que sabem do que em Angola (Luanda, em particular) se vai fazendo num universo semelhante não só impressiona como provoca alguma inveja. Isto de um gajo querer saber tudo sobre tudo dá umas azias relacionadas com a impossibilidade de cumprimento da tarefa...

Que se registe que não há-de tardar muito para que o primeiro registo do Buraka Som Sistema, em vinil de sete polegadas, está praticamente na rua, seguindo-se daqui a não muito tempo um primeiro EP em que constam temas como os já incontornáveis "Ya!" e "Com Respeito". Enquanto o pau vai e vem, experimente o leitor deslocar-se a 12 de Junho ali ao Adamastor, em Lisboa, para assistir a nova edição do Popular Soundclash. Eles vão lá estar. Eles e mais um porradão de gente particularmente interessante.

Entretanto, e para quem não dá muita atenção à barra aqui à direita, visite-se a habitação do Buraka Som Sistema no MySpace. Se encontrar um comentário de DJ /Rupture a louvar a música e a pedir temas, não se espante. É mesmo verdade. O kuduro do Buraka Som Sistema já toca em Londres. Depois digo mais qualquer coisa na edição #3 da SLANG, relativa a Julho e Agosto,

Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.