23 julho 2006

Stroking Festival

The Strokes

Lisboa Soundz
Terraplano de Santos, Lisboa
22 de Julho

Integrado no plano para a queda do record nacional de concertos e festivais por ano, o Lisboa Soundz foi, desta vez, um lento caminho até um climax previsível e, sejamos justos, perfeitamente compreensível. Não rebentou pelas costuras, apesar de incluir a primeira apresentação dos Strokes em Portugal, mas esteve longe de candidatar-se a um lugar junto ao Hype@Tejo como um dos flops do intervalo estival. Recorrendo à tendência digest que resulra da consolidada premissa de que ninguém lê sobre música, aqui faço o favor de resumir a coisa ao seu essencial. Com um adorno ou outro, talvez.

You Should Go Ahead
Sabe Deus e uns quantos mortais como foi. O que é pena, porque estes portugueses são bons.

Howe Gelb Gospel Choir
Ele, Howe Gelb, estava lá, efectivamente. Mas 10 minutos não dão para análise, mesmo em modo telegráfico.

Isobel Campbell
A moça que em boa hora deixou os maravilhosos Belle and Sebastian é e foi ontem um retrato fiel da irrelevância estética, como aquela brisa de que se fala nos mais duros dias de praia mas que nunca aparece. De tonta terá pouco, apesar de tudo. Parece concordar comigo e ter a convicção de que o álbum feito a mielas com Mark Lanegan, Ballad of the Broken Seas, é o seu únido passo no sentido da excelência. Vai daí, tocou o disco até mais não, mesmo sem a companhia do ex-Scraming Trees. Deixou tantas saudades quanto uma paulada na cabeça.

Los Hermanos
Em processo de aquisição de nacionalidade portuguesa por via do tempo que cá passam, os brasileiros voltaram a instalar a dúvida: o que tem aquela música de fascinante para ser servida em doses paquidérmicas ao incauto lusitano? Lá se vê o fascínio por tudo o que é "alternativo" nos últimos 20 anos de pop e rock, mas nada de verdadeiramente entusiasmante se eleva. Lá irão conseguindo resultados através da insistência, não duvido, mas esta coisa de não sair de cima da banda brasileira mais europeia que se conhece serve para pouco mais do que entreter. Se a música fosse só entretenimento, eram os maiores.

She Wants Revenge
Aqui, digamos, dá-se para muitos o início do festival. Vieram de Los Angeles com um culto simpático à sua volta, ou não fosse o quarteto uma encarnação actualizada (ou não) de uma negritude britânica característica de idos e bons anos. De alguma forma, é como se fizessem um cocktail em que misturam os inevitáveis Joy Division aos mais sofisticados Sisters of Mercy e lhe aplicassem uma infusão de uns Depeche Mode ainda em crescimento. São, no fundo, uma daquelas bandas que parece ter os ingredientes para garantir repetidas passagens por Portugal, tão dado que o país sempre foi a este lado vagamente soturno do rock, mesmo que aqui ele surja em modo quase fashion, com aquele toque modernaço que não envergonha num programa de TV como o de Jay Leno. Resumindo, são interessantes naquela combinação do imaginário urbano-depessivo (quem não tem saudades da expressão?) com elementos que, felizmente, incitam ao bailarico. Têm um dos piores nomes da década, mas estão longe de sê-lo como agremiação artística.

Dirty Pretty Things
Os Libertines nunca foram bons. Nada do que sai das cinzas dos Libertines é bom. A banda mais recente de Carl Barat é tudo menos boa. Quem nunca privou com o som característico de rapaziada inglesa enfrascada em pints desde o berço teve aqui um belíssimo retrato do que isso é: uma nulidade completa, um rock histérico cheio de vontade de fazer canções mas sem qualquer capacidade para fazê-las. Acreditai, gentil leitor, que os inicialmente agendados We Are Scientists são infinitamente mais criativos do que isto.

The Strokes
Em boa parte das vezes, a utilização da expressão composta "muito aguadado", quando aplicado a um concerto, é um perfeito abuso, assim do calibre de palavras como "memorável", "inesquecível" e "inolvidável". Por isso mesmo, é bom quando a coisa é aplicável sem exagero, o que obviamente vinha acontecendo no caso dos Strokes. Desde Is This It que muita gente havia com vontade de ouvir os nova-iorquinos ao vivo e a cores, facto que ficou perfeitamente demonstrado no Lisboa Soundz. E se soa absurda a informação de que os Strokes são a banda de rock mais importante do seu tempo, ao vivo a coisa é, por assim dizer, mais próxima dessa realidade. Em modo coincidentemente digest e em final de digressão, a rapaziada liderada por Julian Casablancas não injecta grande emoção ou o factor risco na sua prestação. Sabem em demasia para fazê-lo. Só que, excepcionalmente, isso é sobremaneira suplantado pelo teor cortante e irresistível (outro adjectivo abstruso mas neste caso perfeitamente justo) das canções. As canções, pois então, aquilo que realmente interessa quando a música se faz com guitarras. Em palco os Strokes não perdem uma grama da sua acutilância, despejam com naturalidade desarmante aquela combinação de ritmo ferroviário e cordas angulares que penetram a carne mesmo à custa de esparsas sequências de notas. Não é difícil imaginar que, para boa quantidade de pessoas, será "memorável", "inesquecível" e "inolvidável".

Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.

2 comentários:

  1. Os poucos que lêem sobre música deviam passar por aqui - este post comprova-o. Elogio feito, discordo apenas na apreciação a You Should Go Ahead, dos quais não gosto da música nem da postura imberbe revelada.

    E o Up the Bracket é um grande álbum, mesmo que tudo o que venha depois não seja digno de registo.

    Cumprimentos.

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  2. Só pode ser de um ouvido entupido que "não vais" aos Los Hermanos (salvo seja). Mas, obviamente, um forte abraço.

    P.s.: Não ligues, é o amor que tenho a eles...

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