31 maio 2006
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Para muitos seres vivos, o signatário incluído, as datas são uma coisa socialmente terrível. São, além da face mais evidente de uma falta de memória dirigida a momentos isolados, recorrente motivo de embaraço diante de outros seres vivos, aqueles para quem as datas são coisa fácil de digerir e armazenar.
A própria relevância e hierarquização das datas merecia uma cimeira de dimensão internacional para o apaziguamento das relações interpessoais. Isto porque, ocorreu-me que, hoje, 31 de Maio, é uma data especialmente importante para mim. E, pelas razões pelas quais o é, é mesmo só para mim.
Faz hoje uma dúzia de anos que entrei pela primeira vez na redacção do finado Blitz para trabalhar, para ser redactor, para cumprir o poético desejo de ser jornalista e, para mais, sê-lo num departamento que até hoje me entusiasma, precisamente a música.
Tenho este dia como o do princípio do meu trajecto. Não conta muito o que antes havia feito, desde cuidar de arquivo de seguros ao terrorismo sónico praticado num núcleo de rádio universitário. Foi ali, então para Cabo Ruivo, que cheguei num Citröen 2CV encarnado para ajudar a fazer o número 501 do jornal.
Nenhuma outra data ficou profissionalmente registada na memória como esta. Nem o início da On, n'O Independente, nem o parto do Netparque, na Expo, nem o regresso ao Blitz. Nada tem o peso daquela primeira vez, da ocupação do espaço deixado vazio pelo Nuno Galopim, que entretanto havia debandado para o Diário de Notícias. Enquanto o "seu" computador durou, mantive o inevitável autocolante dos Duran Duran que ele lá havia colocado. Para mim, era como atingir um nível de importância semelhante ao homem que substituia e aquele autocolante lembrava-se desse facto. Na altura, naturalmente, era pouco mais do que um puto charila que sabia escrever e que, assim de rajada, tratou de alinhavar a antecipação de um concerto de Nick Cave no Coliseu dos Recreios, em Lisboa.
Quando hoje olho para a actividade que então iniciei e nela vejo uma meretriz manhosa, ocorre-me a dúvida: estaria hoje melhor se tivesse continuado a arquivar seguros?
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
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até a mim essa descrição emocionou. mas sou um saudosista depressivo mesmo, por isso não admira. deve ser de me lembrar perfeitamente desse 2cv vermelho...
ResponderEliminarum abraço
Meu amigo Pedro, podes ter a certeza que tem valido bem a pena todo o teu percurso jornalístico.
ResponderEliminarSão muitas dezenas de textos que nos ficam na memória assinados por ti, e a tua reentrada no Blitz foi qualquer coisa que não só não se esquece, como deveria ser de agradecimento público e global por parte dos leitores.
Bem hajas, grande Pedro
Obrigado, companheiros!
ResponderEliminarQuando, como nos dias que correm, se vê a vida com uns óculos muito escuros, às tantas dá para perguntar o que é que de facto valeu a pena...
Mas hey, i'll keep on writing!
Cheers!
Estamos mais seguros contigo a escrever como sabes. Curioso esse autocolante dos Duran Duran que falaste. São essas pequenas coisas que dão maior brilho à nostalgia.
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