10 março 2006
Que falta fazia...
Uma das minhas primeiras memórias musicais pré-Smiths é a de estar em casa dos meus pais com todo o agregado a fazer a votação nos festivais da canção, tanto portugueses como os da Eurovisão. Coisa séria e compenetrada, o que é que julgais? Coisa boa para desenvolver o espírito crítico, perceber o que é uma canção ou o que não deve ser uma canção. Naturalmente, não desenvolvi nem percebi nada disso nessa época. Era um serão animado que o tempo tratou de tornar repelente.
Começou há pouco mais uma edição do festival português da canção, com transmissão em directo na RTP. Instalado com uma tigela de cereais e a ideia de ver um qualquer filme em DVD, a verdade é que parei por ali. Para confirmar, sobretudo, as fortes suspeitas que já nutria: que hoje este evento é absolutamente patético e parolo, a que acresce uma absoluta inutilidade. A música popular, em 2006, não tem nada que ver com isto. Não tem nada que ver com rostos vagamente jovens entoando melodias medíocres que, este ano, suprema novidade, vê as letras repartidas entre o português e o inglês.
Se o simples facto citado anteriormente, o das letra bilingues, era já mais do que ponto assente há décadas nos países realmente apostados em vencer na Eurovisão, aquilo que por ali está a soar no televisor aproxima-se por muito mais razões de uma qualquer cerimónia que esperaria encontrar numa madrugada da RTP Memória. É uma coisa serôdia, bimba, que rejubila pela enésima vez em torno de canções de José Cid e Carlos Paião, mais uns petiscos sem resquício de graça em jeito de musical à portuguesa. Serviço público, dizem.
Há muito que, sem acompanhar estes tormentos televisivos, desejo que Portugal nunca participe no Festival Eurovisão da Canção. Desejo sempre um último lugar, ou lá muito perto, para que não restem dúvidas sobre o não-apuramento para a edição seguinte. Participar naquilo é o mesmo que assumir um imenso orgulho em ser uma cagada, um país rafeiro que dá a pata e abana a cauda para poder ser visto seja lá onde for. ("Portugal é um fado que a História cantou...", acabo de ouvir num refrão que, mais à frente, reza: "Portugal is the music that History sang...") Mas este ano, parece, estaremos em Atenas representados por quem hoje ganhar esta coisa. Paciência. Temos sempre o Mourinho.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
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Também eu me lembro do todo o agregado familiar a fazer a votação nos festivais da canção...
ResponderEliminarCaríssimo Palu:
ResponderEliminarFelizmente, digo eu, isso já faz mesmo parte da memória...
Cheers!
A RTP Memória está a corporizar no canal 1! Coitaditas das 4-Non-Stop-Blondes que levaram uma vaia descomunal :-]
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