22 março 2006

Ramos Radio Voz Voxx

Num daqueles dias em que a actualidade passa como uma brisa que nem toca o corpo, é a noite que amiúde traz o contacto com a realidade que se constrói fora dos nossos casulos. Foi exactamente isso que se passou ontem, quando um dia vagamente animado foi lacerado pela notícia da morte de José Ramos, que muitos conheciam como a voz off da SIC.

No caso, importa-me pouco o que fazia José Ramos. O que sei é que tinha uma voz que invejava, uma voz que provoca natural inveja em quem, como o signatário destas linhas, sonha acordado com a rádio mas não faz grande esforço por encaixar-se no caciquismo em que hoje funciona o excrementício meio de comunicação.

Já que é de rádio que falo, há algum tempo que ando para partilhar uma opinião sobre a estação que mais oiço, a TSF. Reconhecida pelo criterioso conteúdo noticioso/jornalístico, a TSF foi em tempos por mim também reconhecida como um exemplo em matéria musical. Sem, necessariamente, dar de frente com os meus gostos, percebia-se ainda assim o mesmo princípio criterioso de difusão musical. Nesse capítulo, a TSF é hoje uma patética extensão do vergonhoso espaço nocturno por muitos baptizado como A Idade da Incontinência. É uma pastosa nulidade sonora que funciona 24 horas por dia e que faz pensar no que terá acontecido ao saber outrora aproveitado de gente como Mário Dias e Aníbal Cabrita. Actualmente, quando a TSF passa música o escriba desliga o transistor.

De regresso à prematura morte de José Ramos, traído pela mesma garganta que me encantava, recusarei a hipocrisia de dizer que perdi um amigo, como é frequente afirmar nestas ocasiões. Nem sequer conhecia José Ramos. Queria, isso sim, ter aquela voz. O que aqui me traz é o facto de conhecer e nutrir especial carinho por Pedro Ramos, filho de José Ramos e ele próprio profissional de rádio. Hoje na Radar, foi meu camarada na finada Voxx. Foi na Voxx que lhe reconheci, além do gosto e da cultura musical, um humor estranhamente espontâneo e cirúrgico, tão natural como científico. Foi na Voxx que comecei a gostar muito do Pedro.

No fundo, foi o Pedro que me fez vir aqui escrever estas linhas. Não tanto por admirá-lo, mas por gostar muito dele. Do tal humor mas também da sua evidente sensibilidade. No fundo, apenas servem estas linhas para tentar fortalecer uma bomba energética que desejo que se abata sobre o Pedro Ramos nesta altura. O Pedro merece, profissionalmente, ver-se um dia reconhecido como o pai. Mas nesta ocasião o que mais merece é saber que existe quem, à brasileira, esteja com ele e não abra. É o meu caso.

E isto não é do meu ouvido, mesmo sendo 1 pouco mouco.

2 comentários:

  1. Isto vem com um delay valente, mas confesso que fiquei (ainda) mais triste quando me disseram de quem o José Ramos era Pai... enfim, de nada valerão estas palavras, ainda por cima vindas de quem não conhece pessoalmente pai nem filho, mas um abraço forte para um dos "animadores" que mais gosto de ouvir...

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