29 abril 2007

O triunfo das popozudas



Sou Feia Mas Tô Na Moda
Documentário de Denise Garcia / Toscographics
Verão de 2005
60'



Eta lele, eta lele
Eta lele, eta lele
Eta lele, eta lele
Eta lele, eta lele

Eu fiquei 3 meses sem quebrar o barraco,
Sou feia, mas tô na moda,
tô podendo pagar hotel pros homens
isso é que é mais importante.

Quebra meu meu barraco 4x

Tati Quebra-Barraco: "Sou Feia, Mas Tô Na Moda"


Para uma esmagadora maioria da população mundial - que, naturalmente, não irá passar os olhos por estas linhas -, o baile funk nunca existiu. É uma não entidade, só não partilhando esse estatuto com a Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, porque Fernando Meirelles documentou a favela em filme.

Para os que restam, o baile funk é, muito provavelmente, por esta altura coisa de um passado relativamente recente, entretanto trucidada por mais uma série de numerosas outras músicas que entretanto surgiu com a mesma urgência com que foi sendo apreendida e assimilada.

Inserir-me-ei, com relativo à vontade, na segunda categoria de seres vivos. E, com a vaga noção de que pertencem a essa classe algumas das pessoas que passam por este blog, aqui venho partilhar a sensação de que o que sei a respeito do baile funk é algo de mais sólido depois de uma hora a ver este Sou Feia Mas Tô Na Moda.

Para quem teve contacto atempado com o fenómeno que DJ Marlboro ajudou a construir e difundir para que outros, como Diplo, brilhassem nos países do Primeiro Mundo, Sou Feia Mas Tô Na Moda não se descreve como surpreendente ou sobremaneira revelador. Isto num plano musical. Já num domínio social e cultural, o documentário de Denise Garcia permite vislumbrar algumas matizes de um padrão aparentemente homogéneo, com especial destaque para o papel da mulher num cenário cultural normalmente acusado de pornográfico.

O título vai, desde logo, buscar o seu fundamento a um tema popularizado por Tati Quebra-Barraco. Percorrendo todo o filme, contextualizando a sua existência e a de vários outros, está Deize Tigrona, na Cidade de Deus também conhecida como Deize da Injecção, graças a uma letra em que atribui duplo sentido a esse acto clínico conjugando verbos como "arranhar" e "entrar". Curiosamente, Deize Tigrona esteve muito recentemente em Lisboa e no Porto para uma rara apresentação da cartilha do baile funk em Portugal.

E falando em cartilha, DJ Marlboro chama às moças envolvidas no baile funk feministas sem cartilha. Ele é, de resto, peça fulcral do filme, porquanto transpira os fundamentos e as realidades do fenómeno ao mesmo tempo que é capaz de comunicá-las de forma inteligível para o tal Primeiro Mundo (concretamente, pela experiência em cidades como Londres, Paris e Barcelona).

Sou Feia Mas Tô Na Moda, já datado de 2005, dificilmente iniciará quem quer que seja por esta altura nas delícias (com duplo sentido) do baile funk. Mas ajuda, em boa verdade, alguns de nós a ir fechando um capítulo da assimilação da cultura urbana do presente. Sobretudo porque entretanto já abrimos vários outros.

Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.

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