Na edição primeira do finado jornal UM, foi-me gentilmente concedida a oportunidade de escrever o seguinte:
De Coimbra para Nova Iorque
Seis anos depois de terem dado o seu último concerto, é de uma elementar facilidade fazer a elegia dos Tédio Boys, rotulá-los como o mais importante fenómeno cultural da cidade de Coimbra dos últimos 15 anos ou o mais fracturante colectivo de rock’n’roll que Portugal viu nascer depois dos Xutos & Pontapés.
É fácil, muito fácil, encher o peito para perguntar a alguém onde estava em 1992, quando o fenómeno começou, mas Filhos do Tédio não cai, felizmente, na armadilha da memória emocional. Tem, sobretudo, o mérito de ter a frieza documental que se exige e um conteúdo que não só alinha acontecimentos como gera pensamentos vários sobre a pequena condição de ser português.
Depois de assistir aos 50 minutos de Filhos do Tédio, a reacção natural do melómano activista é a da relativa frustração por não se ter dado conta de tanto se ter passado. Está ali tudo concentrado: do primeiro concerto na rua, à porta do Infinito, ao último concerto, em Figueiró dos Vinhos; do quase motim com invasão policial no Pavilhão da Palmeira às três digressões pelos Estados Unidos com passagem pelo aniversário de Joey Ramone; das memórias das Voodoo Dolls aos papéis de Fernando Pinto e Ernst Weber, determinantes na aventura americana.
Filhos do Tédio não tem, tal como os Tédio Boys não tinham, ambições estéticas astronómicas. É, acima de tudo, resultado de um assinalável labor de recolha e montagem de memórias visuais e sonoras, como se o rock’n’roll se encaixasse em menos de uma hora. Numa era marcada, em Portugal, pelo desânimo artístico e por uma constrangedora resistência à mudança brusca, Filhos do Tédio é como que o somatório das memórias da frustração e da reacção a essa frustração. É o retrato da arte de correr riscos.
A boa notícia:
Filhos do Tédio, o documentário a que o texto se refere, chega no presente mês de Abril ao cartaz do Festival IndieLisboa, onde competirá na secção dedicada às Curtas Metragens.
Quer isso dizer, essencialmente, que o filme de Rodrigo Fernandes e Rita Alcaire pode finalmente ser visto por mais do que uma pessoa detentora de um leitor de DVD a quem amavelmente os autores fizeram chegar uma cópia.
Aos interessados, que num mundo ideal seriam muitos, fica a informação: o documentário pode ser visto numa destas ocasiões:
Competição Curtas
Sexta-feira, 20 de Abril, às 19h00 no Fórum Lisboa (Av. Roma).
Indie Music
Sexta-feira, 27 de Abril, às 24h00 na sala 1 do cinema Londres (Av. de Roma).
Julgo não ser necessário perguntar se recomendo.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Já tive oportunidade de ver este documentário aqui há uns tempos em Coimbra, numa versão ainda inacabada. Mas acho que ainda não é desta que será dado o real valor aos Tédio Boys, na minha modesta opinião a melhor banda de rock Portuguesa de sempre.
ResponderEliminarCaro Zeca Diabo:
ResponderEliminarNão será desta como, certamente, não será de outra vez qualquer.
Mantenhamos nós o culto e aproveitemos o insuperável prazer de termos conhecido aquela locomotiva coimbrã.
Isto soa vagamente litúrgico, digo eu...
Cheers!
e no INDIEJÚNIOR, vamos poder assistir ao filme “O Garoto de Charlot”, de Charlie Chaplin, com acompanhamento musical ao vivo pelos Coty Cream…
ResponderEliminaras datas foram alteradas:
ResponderEliminarINDIEMUSIC CURTAS 1 (52')
23 Abril, 18h45, S. Jorge 3
27 Abril, 00h00, Londres 1
SONIC YOUTH: “DO YOU BELIEVE IN RAPTURE?”, Braden King, doc., EUA, 2006, 4´
FILHOS DO TÉDIO, Rodrigo Fernandes e Rita Alcaire, doc., Portugal, 2006, 48´
in: http://www.indielisboa.com/2007/portugues/filmes/indmusic_ct_prog1.html