19 setembro 2005

A Elle, um palito e uma escarreta

Zé Povinho

“Adeus Metrossexual!”. Assim se intitula a prosa publicada na edição portuguesa da revista Elle de Outubro de 2005. Página 124. Ilustração: um chimpanzé dá colinho a qualquer coisa que se parece com uma Barbie. O texto, miserável, tem na cabeça da página a chave do cofre: “Humor”.

A coisa não tem piada rigorosamente nenhuma, não dá fezes nem a um bébé em overdose de laxantes, mas recoloca as coisas como elas devem ser: retrossexuais.

Ou seja, os homens (independentemente da sua orientação sexual) já podem sair de casa sem arranjar as sobrancelhas e regressar a ela sem ter que ir ao ginásio vestir camisolas sem mangas.

Esta merda tinha que acontecer. As mulheres, inteligentes que são, não iriam aguentar muito tempo os gajos com hábitos de gajas. É simples.

Para abrir o apetite para a nova era do “homem rude”, aqui fica a abertura do texto: “Experimentámo-lo (referência aos tais gajos dos cremes e da manicure), mas não gostámos. Agora, é tempo de recebermos o senhor retrossexual. Aprenda a identificá-lo e fique a saber porque é que, nos dias que correm, um pouco de rudeza e barba rija podem ser tão refrescantes…”.

Ao ler isto, apetece-me ver “Doggystyle”, uma das moralmente discutíveis obras cinematográficas com a chancela do grande Snoop Dogg.

Detesto, como alguns milhares de pessoas entre toda a população mundial, estas revistas que dizem às pessoas o que fazer para se parecer com qualquer coisa. Que sugerem estilos de vida que estão na moda. Que vendem comportamentos supostamente atraentes aos olhos de uma qualquer assistente de salão de cabeleireiro. São ridículas de tão acomodadas.

Mas, numa página que se lê com peito inchado em concubinato com uma incredulidade insuperável, há ainda um último parágrafo a ter em atenção: “Se optar por ter um homem retro do seu lado, não espere demasiado. Diz palavrões com frequência. Não se vai lembrar nunca do seu dia de anos. Não lhe vai mandar flores no Dia dos Namorados – aliás, nem sabe que esse dia existe. Não vai cozinhar para si, não vai reparar que você perdeu cinco quilos e prefere ir ao Aki do que ao baptizado da filha da sua melhor amiga. É duro, está sempre pronto para a acção e cheira como um homem. Se aguentar sem ter que recorrer ao ambientador, ele poderá ser a lufada de ar fresco que tanto precisa na sua vida”.

A Elle teve, este mês, a gentileza de escrever qualquer coisa de vagamente importante mesmo que com uma lógica assimilável até por um mexilhão morto.

Vou só ali aliviar a flatulência e pôr os MC5 a tocar, foda-se. Isso é que é vida.

À pessoa que assina a prosa, alguém com as iniciais RB, sugiro que puxe ainda uma escarreta, reúna alguns amigos e faça uma competição de distância alcançada. Contra a parede é porreiro, porque ela escorre.

Mas isso pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.

2 comentários:

  1. Este sábado fui ver uma exposição sobre o estado do nosso país e que se intitula:"Fck - F.F.F."
    ou seja: Futebol, Fado e Fé (Fátima). Mas não hà dúvida que mais um "F" ficava mais completo: FAMA.

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