15 dezembro 2005

Russell Crow e Jimmy Cliff

Cinderalla Man

Não conheço quem não tente, com mais ou menos frequência, fazer-nos pensar que a vida não é uma coisa má, que há gente em muito piores situações, que "depois da tempestade vem a bonança", esse tipo de coisas.

Confesso que essa conversa me irrita moderadamente. Quando se dá o caso de ouvir coisas do género, o que na circunstância me apetece é alguma solidariedade. Não do tipo "pois, estás mal...", mas uma coisa mais enérgica, mais proactiva, do estilo "eu resolvo-te o problema", "tenho um primo que te arranja isso sem problemas" ou "eu dou-te o dinheiro, não é um empréstimo". Isso é que era bonito.

Mas não tenho dúvidas que quem consegue genuinamente encarar todas as circunstâncias da vida como relativas vive mais contente do que nós, os que são como muitas vezes eu sou. Só que, sendo eu português, sou obviamente muito mais fadista do que zen.

Tudo isto para chegar à combinação de duas frases que (re)absorvi recentemente em situações e alturas completamente distintas. São duas frases de contextos enormes, mas que em sequência funcionam bem para transmitir um estado de espírito a que não sou totalmente indiferente.

Vi muito recentemente, pela primeira vez, "Cinderella Man", o de Ron Howard (2005). E adorei o filme. Também porque desde que sou pai sou também mais sensível a coisas que antes me eram completamente distantes. A dada altura do filme, o pugilista herói James Braddock (Russell Crowe) diz a Mae Braddock (Renée Zellweger), sua mulher: "Deixa-me estar no ring. Pelo menos ali vejo quem me bate".

Há pouco, deu-me para regressar à banda-sonora de "The Harder They Come", alusiva ao primeiro filme comercial produzido na Jamaica, em 1972. O protagonista do filme, Ivanhoe "Ivan" Martin, tenta vingar na indústria musical de Kingston, a coisa corre mal e transforma-se num assassino desportivo. Mas no meio dessa coisa que corre mal dá-se a gravação em estúdio, e integralmente no filme, desse portento arrevezado de reggae que é, precisamente, "The Harder They Come". E dessa canção fica-me sempre, mas sempre, o refrão: "The harder they come, the harder they fall, one and all".

Por alguma razão estas duas frases, combinadas em sequência, são-me vagamente familiares neste momento.

Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.

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