24 fevereiro 2006
Manual do Proxeneta: O Filme
Snoop Dogg: Boss'n Up
Vou avisando, gentil leitor, que é bastante possível que encontre nesta prosa alguns traços de parcialidade. Acontece que sou relativamente pouco neutro em relação à figura central deste objecto, a que não sei se pode chamar-se um filme, um conjunto de telediscos com um vago guião ou um auto-retrato nada ambicioso.
Nos dias que hoje se vivem, embora a Costa Oeste dos Estados Unidos sempre tenha sido dada a uma ostentação não tão comum do lado oposto, em Nova Iorque, aquilo que se conhece como hip hop é muito mais do que música. O hip hop a que se chamaria comercial tem, como qualquer não-invisual pode verificar, quase tudo que ver com imagem e demonstração pública de riqueza.
E Snoop Dogg, que actualmente também gosta de chamar-se Bigg Snoop Dogg, em nada despreza a sua LBC (Long Beach, Califórnia), sendo portanto, um produto dessa escola de imagem (não apenas, atenção, porque vale a pena lembrar os saudosos Sublime). Na realidade, não só é precisamente esse produto como leva a sua criação a um extremo que, de tão assumidamente obsceno, se revela deliciosamente genuíno. Essa é uma das razões pelas quais aprecio a figura em causa, sendo outras a sua voz trabalhada em estúdio ou o seu flow narrativo e naturalmente pejado de referências que chegariam para justificar uma capa inteira com o sinal "Parental Advisory: Explicit Lyrics".
Não podendo dizer-se que os tomos de Doggystyle, aventuras mais antigas com a câmara, são propriamente filmes (são precisamente a mistura de telediscos com algumas cenas de pornografia), Boss'n Up é bastante diferente. Não chega realmente a saber-se o que é, sendo uma versão "oficial" a de que se trata de um musical feito a partir de Rhythm & Gangsta, o álbum mais recente de Snoop Dogg. Pode ser. Pode, eventalmente, ser.
Boss'n Up é, no entanto, também uma série de outras coisas. Tecnicamente, é uma perfeita nulidade, no que a argumento ou realização diz respeito, para não falar de representação. Talvez seja essa uma razão para ser difícil chamar-lhe um "filme". Olha-se para Snoop Dogg e, na realidade, o que ali está é Snoop Dogg como gosta de mostrar-se: rapper, sim senhor, mas bastante dado à actividade de proxeneta, chulo ou, no mais sonante "americano", "pimp". Longínquos parecem já os tempos da glorificação da marijuana como leimotiv de intervenção, virando-se mais recentemente Snoop Dogg para esse universo moralmente inqualificável da prostituição. Só que não é a minha moral que aprecia Snoop Dogg.
Aprecio é precisamente o seu descaramento e este Boss'n Up, mistura de uma quantidade indizível de moças criadas pelos melhores escultores do mundo e a música incluída no bastante recomendável Rhythm & Gangsta: The Masterpiece. Isto é uma festa, ou como em tempos ouvia e que me levava ao delírio, "isto é uma América". É a América de Snoop Dogg, que tem muito mais piada do que a América de um Marilyn Manson. Beats, rimas, magnífica produção, luxo, vício, putas de boa gigura e um dinheirito no banco. Se é para ser assim, então se seja assim -- está aí uma belíssima lição de Snoop Dogg em 2006.
Honestamente, não sei se o filme. em DVD, está à venda em Portugal. Remomenda-se, se for verdadeira a ausência, a sua aquisição em lojas internacionais, como a Amazon inglesa (link aqui do lado direito). Isto se for o gentil apreciador do imaginário de alguém que dá charme a tudo o que mexe e resulta numa fabulosa caricatura do tal hip hop que hoje é mais conhecido (via MTV, não a marca, mas o conceito da marca) e que por si só é normalmente aberrante. Transformar o lixo em luxo, às tantas é o que isto é. Ambicionando-se um filme, perde-se muito do gozo.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
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"Aconselhado" fica. Embora hip-hop...e ainda por cima com esse trago....digamos....sujo...enfim.
ResponderEliminar(pertinência ao rubro com o pormenor dos Sublime)
Estimadíssimo:
ResponderEliminarAconselhado com as devidas advertências inscritas na prosa.
Quanto aos Sublime... hum... love is all i got.
Cheers!