17 outubro 2007
Seven times and counting
É, muito provavelmente, a canção do ano. Talvez mesmo a do mês. Trata-se, seguramente, da canção da semana.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
03 outubro 2007
Eu estou feliz. E você?
Há muitos e bons anos que cogitava secretamente sobre a consecução, em Portugal, da versão alfacinha de um dos produtos culturais por que mais nutro apreço desde que o conheço. A ânsia com que, à chegada a Londres, procurava a Time Out nos quiosques de Heathrow transformar-se-ia na ânsia moderada de fazer a revista em português. Naturalmente, nunca pus o plano em prática.
To cut a long story short, outros fizeram-no por mim, com resultados recentemente tornados públicos. E esgotados em diversíssimas bancas da capital. Por especial fortuna, na equipa não estava eu, mas alguém que tenho como referência praticamente desde que o conheci. Refiro-me a Jorge Manuel Lopes, editor e companheiro de um certo período do finado Blitz na versão jornal.
Pois bem. Não será novidade para as incompreensíveis pessoas que visitam este espaço que hoje me movo profissionalmente num universo em muito distinto do jornalismo e em tudo distinto da coisa musical. A música, neste momento, entra no contexto do trabalho diário como companhia na perseguição de ideias ou na sua transcrição em modernos e apetecíveis Macintosh. Até que o Jorge Manuel Lopes cometeu a loucura de convidar-me a escrever na publicação de que tanto gosto.
É isso, benquisto leitor, que lhe comunico nesta altura: escreverei nas páginas da Time Out a partir do seu número 3, com edição aprazada para 10 de Outubro. Sobre música, como é fácil calcular. Pela minha parte, encontro-me particularmente feliz por esse facto. E, levando em conta a conspiração cósmica que fez com que o número 1 da versão lisboeta da Time Out saiu no dia em que cumpri 35 anos, antevejo uma muito satisfatória relação amorosa. Para já, eu próprio vou esperar para confirmá-lo.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
01 outubro 2007
The name was Penny. Moneypenny.
Era uma deusa. Pelo menos, era-o em departamentos como classe, estilo, fleuma e humor. O nome Lois Maxwell poderá não dizer grande coisa, mas foi a gigantesca Miss Moneypenny entre Dr. No (1962) e A View to a Kill (1985). Falo da saga de James Bond.
Protagonista de uma das mais deliciosas e discretas paixões da História do cinema, que era de tal ordem que deu para dividir entre Sean Connery e Roger Moore (além do acidente George Lazenby), Moneypenny deu novos mundos ao mundo do flirt no local de trabalho.
Personagem e intérpretes foram de tal ordem marcantes que Roger Moore disse, a propósito da morte de Maxwell, que a actriz merecia ter sido atempadamente promovida ao papel de M, chefe dos serviços secretos britânicos. Ainda que Judi Dench vá muito bem, acrescento eu.
Lois Maxwell morreu este sábado, 29 de Setembro, na Austrália, 80 anos depois de ter nascido no Canadá. Tinha cancro. Recomendaria, nesta ocasião, uma passagem por AQUI.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
06 setembro 2007
Perder a inocência
Regresso rápido apenas para partilhar com os benquistos visitantes o resultado da minha primeira experiência na consecução de um filme publicitário para televisão.
A partir de uma ideia de uma outra dupla de criativos, eu e o inestimável paulista Fábio São Pedro acompanhámos o processo de concretização do que acima se encontra.
Pela parte que me toca, apesar dos quase 35 anos, concluo que sei muito pouco sobre muita coisa.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
14 julho 2007
Cerebrum Mais
Não vale a pena dizer muito sobre isto. São sete minutos de delícia, de uma sabedoria que se desenha entre o mais rasteiro e o praticamente transcendente.
É David Caruso no papel de Horatio Caine (CSI Miami), um dos mais fabulosos agentes policiais canastrões de sempre, com as suas proverbiais tiradas telegráficas imediatamente antes do genérico ao som de "Won't Get Fooled Again", dos Who.
Para mim, que reconheço no homem um incontornável e reconfortante teor azeiteiro (ausente, por exemplo, de Gil Grissom de Las Vegas e de Mac Taylor de Nova Iorque), é um pitéu. Como o homem teria ficado bem ao lado de Don Johnson e Philip Michael Thomas em Miami Vice...
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
10 julho 2007
Desculpe, eu sei que é de borla, mas que língua é essa?
Algo que aprecio com algum afinco é o conceito do jornal gratuito. Em boa parte porque não parece fazer sentido pagar pelo jornalismo excrementício que de modo generalizado se difunde em Portugal, cortesia de políticas editoriais e salariais que amiúde deixam de fora os melhores do ofício.
E se, durante muito tempo, não tive oportunidade de realizar percursos pedonais onde se amontoam os meninos e meninas das camisolas coloridas, panamás e promoções (actualmente, são quatro títulos a competir pelo leitor, sendo um deles desportivo), no momento presente sou agraciado todos os dias com todos os exemplares que quiser de todas as publicações em causa.
Praticamente todos os dias consigo imaginar cenas de pancadaria, conspiração e traição entre os mais diversos ardinas destes novos veículos de comunicação de digestão rápida. Imagino cascas de banana ou, no limite, minas anti-pessoais no caminho desses ardinas, com companheiros de profissão escondidos atrás de árvores esperando o momento do traumatismo ou da liminar explosão para de lá saírem e, com um sorriso, dizerem "bom djia" com um jornal em riste para oferecer.
Isto tudo a propósito do anúncio acima mostrado, tal como saiu na edição de terça-feira do Metro. É que senti necessidade de falar com o leitor, de dar-lhe uma explicação, de dizer-lhe que raio de coisa vem a ser esta. Estimado leitor: apesar de parecer dirigir-se a si, o anúncio em causa não é para si. O leitor não será certamente mentecapto e saberá que, não sendo pago, um jornal gratuito vive, essencialmente, da publicidade que angaria (e aqui não incluo as garrafas de água com gás ou os mini-pacotes de batatas fritas que de vez em quando acompanham a leitura e que também são fonte de graveto).
Assim, quando o Metro diz "623 mil vezes obrigado!", está na realidade a dizer: "senhores anunciantes: parecendo que estamos a agradecer a gentileza dos nossos leitores, estamos, na realidade, a dizer-lhe que somos os maiores e que, por isso mesmo, é aqui que deve anunciar e não num dos outros diários gratuitos". Mais: achará o distinto leitor que, ao mencionar coisas como "circulação" e "audiência", está o jornal a falar a sua língua? Saberá o cidadão distinguir uma coisa da outra ou, tão somente, definir cada uma delas? Calculei.
No fundo, caríssimo leitor, venho por este meio apenas dar-lhe uma triste notícia: não são poucas as vezes em que o seu jornal preferido ocupa espaço a falar para toda a gente menos para si. Não se queixe, apesar de tudo. É de borla.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
05 julho 2007
"And her hearing aid started to melt..." Vol. XVII
Sonotone do dia:
Maps: We Can Create (Maio 2007)
Veredicto:
O que acima se encontra é um excerto do textículo com que a Mute Records apresenta o projecto Maps, existência praticamente solitária pensada e concretizada por James Chapman num qualquer quarto de Northampton, Inglaterra. A prosa, escrita certamente por alguém que não exerce funções na editora - é uma questão de abertura mental, de capacidade de partir da música para visões abstraccionistas do mundo -, é sugestivamente vazia de conteúdo.
De resto, música como a faz James Chapman é ela própria de tal forma arejada que muita gente haverá que a sente vazia, apenas alicerçada nas brisas ocasionais que deambulam entre névoa electrónica e estilhaços de canções pop. Outras pessoas, por seu turno, fazem o costumeiro exercício de biotecnologia virtual: imaginemos a combinação genética de elementos resgatados aos Spiritualized e aos My Bloody Valentine, mais doses não desprezíveis dos Four Tet e Boards of Canada. Assim reza o All Music Guide, por exemplo.
Ter passado pela década de 80 e crescido a ouvir a música pop que desde então floresceu sob os mais diversos matizes é, muito provavelmente, condição necessária para não sentir que a um disco como We Can Create, o primeiro dos Maps, falta toda a tangibilidade que se exige à arte contemporânea, a ligação ao quotidiano, o odor a mundano, os traços meticulosamente toscos da cultura de rua. Para quem, no entanto, se habituou a fazer conviver na cavidade auditiva as mais desbragadas goluseimas pop com um sentimento mais negro assente na ideia de que toda a arte nasce do sofrimento, os Maps são afinal coisa familiar.
Já por aí há quem diga que We Can Create falha por ser obra relativamente inofensiva, onde nada acontece acima ou abaixo de duas linhas de segurança. A falha, porém, é de quem não consegue instalar-se entre essas duas linhas e aí, de olhos cerrados, fazer viagens intercontinentais sucesssivas de 52 minutos de duração. We Can Create é, sem espinhas, um álbum a figurar naqueles inventários de final de ano. Mais urgente é, no entanto, decretar "You Don't Know Her Name" a canção oficial do Verão 2007. Por muito saloia que essa ideia hoje possa parecer.
84,5% de satisfação garantida.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Maps: We Can Create (Maio 2007)
Veredicto:
Maps started at the end. The end of the night, the end of the music. When the last beat was dropped and the needle finally slipped off the groove, a lost soul began drifting through empty Northampton streets in the vague direction of home. Alas, he never arrived. For it was during his euphoric twilight stumble that this particular ending gave way to a bright new beginning; it was here, in the half light of a joyously desolate Sunday morning, that Maps made itself exist. Spinning through Earth's orbit, he was the first audionaut of our generation.
O que acima se encontra é um excerto do textículo com que a Mute Records apresenta o projecto Maps, existência praticamente solitária pensada e concretizada por James Chapman num qualquer quarto de Northampton, Inglaterra. A prosa, escrita certamente por alguém que não exerce funções na editora - é uma questão de abertura mental, de capacidade de partir da música para visões abstraccionistas do mundo -, é sugestivamente vazia de conteúdo.
De resto, música como a faz James Chapman é ela própria de tal forma arejada que muita gente haverá que a sente vazia, apenas alicerçada nas brisas ocasionais que deambulam entre névoa electrónica e estilhaços de canções pop. Outras pessoas, por seu turno, fazem o costumeiro exercício de biotecnologia virtual: imaginemos a combinação genética de elementos resgatados aos Spiritualized e aos My Bloody Valentine, mais doses não desprezíveis dos Four Tet e Boards of Canada. Assim reza o All Music Guide, por exemplo.
Ter passado pela década de 80 e crescido a ouvir a música pop que desde então floresceu sob os mais diversos matizes é, muito provavelmente, condição necessária para não sentir que a um disco como We Can Create, o primeiro dos Maps, falta toda a tangibilidade que se exige à arte contemporânea, a ligação ao quotidiano, o odor a mundano, os traços meticulosamente toscos da cultura de rua. Para quem, no entanto, se habituou a fazer conviver na cavidade auditiva as mais desbragadas goluseimas pop com um sentimento mais negro assente na ideia de que toda a arte nasce do sofrimento, os Maps são afinal coisa familiar.
Já por aí há quem diga que We Can Create falha por ser obra relativamente inofensiva, onde nada acontece acima ou abaixo de duas linhas de segurança. A falha, porém, é de quem não consegue instalar-se entre essas duas linhas e aí, de olhos cerrados, fazer viagens intercontinentais sucesssivas de 52 minutos de duração. We Can Create é, sem espinhas, um álbum a figurar naqueles inventários de final de ano. Mais urgente é, no entanto, decretar "You Don't Know Her Name" a canção oficial do Verão 2007. Por muito saloia que essa ideia hoje possa parecer.
84,5% de satisfação garantida.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
03 julho 2007
"And her hearing aid started to melt..." Vol. XVI
Sonotone do dia:
The Thrills: Teenager (Julho 2007)
Veredicto:
Não deverá ser fácil ser um aluno bem comportado quando a pressão social empurra para uma vida de bully. Nesta mesma lógica, não será fácil, perante a pressão para ser cool, assumir uma postura que, mais do que genuína, é verdadeiramente old fashioned nos objectivos que procura atingir.
Assim se explica que boa parte da produção britânica recente, precisamente a parte que tem como preocupação essa sinistra actividade de fazer "canções bonitas", tenha pouco que ver com epicentros históricos como Londres ou Manchester.
Esquecendo temporariamente que também os U2 dali vêm, transportamo-nos nesta ocasião para Dublin, Irlanda, para receber o terceiro álbum dos Thrills. E os Thrills, que podiam ser galeses ou escoceses pela indiferença perante alguns ditâmes estanques, não mais fazem do que belíssimas canções que poderiam acompanhar criações como as de Enid Blyton.
Salvo inesperado volte-face, os Thrills têm já o seu pedaço de céu assegurado por "Big Sur", incluída em 2003 no álbum de estreia, So Much for the City. Não precisariam de fazer mais qualquer canção, tamanho o descaramento com que aí se apropriaram de uma pop solarenga com patente registada na Califórnia para construir uma pequena peça de eternidade.
Não pensando dessa forma, o colectivo de Conor Deasy prepara-se para dar à estampa o seu terceiro álbum, Teenager, cujo título não deixa muitas dúvidas sobre o que encontrar no interior: combinações electro-acústicas uptempo que desenham estilhaços de felicidade, mesmo que apenas uma felicidade desejada, nunca concretizada.
Os Thrills continuam a ser só isto: uma banda despeitada porquanto é indiferente a comparações, uma banda terapêutica porquanto proporciona o contacto com realidades paralelas ao cinzento escuro, uma banda que não acorda a meio da noite a pensar se o sucesso viral no MySpace a fará ganhar a guerra da relevância estética em 2007. E é por isso mesmo, por se estarem manifestamente nas tintas para os riffs de guitarra que proporcionam orgasmos múltiplos na redacção do NME, que os Thrills são um docinho valioso.
75,8% de satisfação garantida.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
The Thrills: Teenager (Julho 2007)
Veredicto:
Não deverá ser fácil ser um aluno bem comportado quando a pressão social empurra para uma vida de bully. Nesta mesma lógica, não será fácil, perante a pressão para ser cool, assumir uma postura que, mais do que genuína, é verdadeiramente old fashioned nos objectivos que procura atingir.
Assim se explica que boa parte da produção britânica recente, precisamente a parte que tem como preocupação essa sinistra actividade de fazer "canções bonitas", tenha pouco que ver com epicentros históricos como Londres ou Manchester.
Esquecendo temporariamente que também os U2 dali vêm, transportamo-nos nesta ocasião para Dublin, Irlanda, para receber o terceiro álbum dos Thrills. E os Thrills, que podiam ser galeses ou escoceses pela indiferença perante alguns ditâmes estanques, não mais fazem do que belíssimas canções que poderiam acompanhar criações como as de Enid Blyton.
Salvo inesperado volte-face, os Thrills têm já o seu pedaço de céu assegurado por "Big Sur", incluída em 2003 no álbum de estreia, So Much for the City. Não precisariam de fazer mais qualquer canção, tamanho o descaramento com que aí se apropriaram de uma pop solarenga com patente registada na Califórnia para construir uma pequena peça de eternidade.
Não pensando dessa forma, o colectivo de Conor Deasy prepara-se para dar à estampa o seu terceiro álbum, Teenager, cujo título não deixa muitas dúvidas sobre o que encontrar no interior: combinações electro-acústicas uptempo que desenham estilhaços de felicidade, mesmo que apenas uma felicidade desejada, nunca concretizada.
Os Thrills continuam a ser só isto: uma banda despeitada porquanto é indiferente a comparações, uma banda terapêutica porquanto proporciona o contacto com realidades paralelas ao cinzento escuro, uma banda que não acorda a meio da noite a pensar se o sucesso viral no MySpace a fará ganhar a guerra da relevância estética em 2007. E é por isso mesmo, por se estarem manifestamente nas tintas para os riffs de guitarra que proporcionam orgasmos múltiplos na redacção do NME, que os Thrills são um docinho valioso.
75,8% de satisfação garantida.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Decisões
Terá o distinto freguês reparado já que a actualização não é hoje o que era neste espaço. Não lhe será estranho, se segue minimamente o que aqui se vai dizendo e fazendo, que o facto se deve a questões relacionadas com a gestão do tempo e da disponibilidade mental.
Assim, e para que o blog não definhe até ao passamento absoluto, decidi recuperar, para engorda, o espaço And her hearing aid started to melt..., tão somente a secção onde são colocadas prosas sobre este ou aquele disco, preferencialmente discos novos.
1 Pouco Mouco é, portanto, um blog cada vez menos jornalístico, se é que alguma vez o foi. Simplesmente, e para não passar directamente da inútil arte de querer informar à desprezível actividade de exibir-me ao mundo (regra que parece nortear 3/4 da blogosfera), aqui deixarei coisas a meio-caminho entre uma coisa e outra.
A crítica, diz-se, está em desuso. Ora ainda bem. Façamos crítica, nem que seja pelo sabor vintage daquilo que lembra os dias em que o jornalismo sobre música tinha qualquer coisa de romântico e aventureiro.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 Pouco Mouco.
20 junho 2007
Salada Mista Sem Tomate #12
Entre a opção radical de acabar com o blog e uma outra intimamante ligada ao bizarro prazer de fazer rádio, caio para a segunda delas. Por essa razão, aqui podem não aparecer muitas mais prosas sobre o que quer que seja, antevendo-se, no entanto, o prolongamento da série Salada Mista Sem Tomate.
Sem mais delonga, o alinhamento da 12ª emissão:
1. Fanfare Ciocarlia: "Hurichestra" (Iag Bari, 2001)
2. Link Wray & The Wraymen: "Ace of Spades" (The Original Rumble, 1989)
3. Mumm-Ra: "Song B" (These Things Come in Trees", 2007)
4. The Young Gods: "Stay With Us" (Super Ready/Fragmente, 2007)
5. The Wombats: "Sunday T.V." (Girls, Boys & Marsupials, 2007)
6. The Lambrettas: "Listen, Listen, Listen" (Beat Boys in the Jet Age - The Definitive Collection, 1998)
7. Rufus Wainwright: "Between My Legs" (Release the Stars, 2007)
8. Queens of the Stone Age: "Make It Wit Chu" (Era Vulgaris, 2007)
9. Satellite Party: "Kinky" (Ultra Payloaded, 2007)
10. Peter Björn & John: "Money" (Falling Out, 2004)
11. Adult.: "Herd Me" (Why Bother?, 2007)
12. Adorable: "Sunshine Smile" (Sunshine Smile CD-Single, 1992)
13. Editors: "Escape the Nest" (An End Has a Start, 2007)
14. Lucky Soul: "One Kiss Don't Make a Summer" (The Great Unwanted, 2007)
Behind the Green Door: SALADA MISTA SEM TOMATE.
NOTA: As emissões mais antigas da Salada Mista Sem Tomate deixarão, progressivamente, de estar disponíveis online por limite de capacidade do servidor.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
28 maio 2007
A grande evasão (mais uma)
Este é um serviço informativo e telegráfico. Serve para dizer que estarei, como pode ver-se no flyer acima, no dia 1 de Junho no distintíssimo Café Vinil, em Sintra, a partir das 22h00.
Não estarei apenas como ornamento, esclareço, podendo ser visto e ouvido como seleccionador de discos. Ementa: roots reggae e vintage riddims. Para quem não gostar há umas saladas óptimas.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
17 maio 2007
Projecto paralelo
Por razões anteriormente sugeridas, esta será informação sucinta e objectiva. O tempo, por ora, não abunda e as horas de sono têm valor infinitamente superior ao da Custódia de Belém.
Coincidência simpática é que, pelo segundo ano consecutivo, passarei parte do 18 de Maio, Dia dos Museus, num museu. Depois de no ano passado ter assinalado um importantíssimo aniversário da Fender no Museu da Música, esta sexta-feira vou ao Museu do Traje, ali ao Lumiar, em Lisboa.
Integrado do ciclo ...e África Aqui Tão Perto, realiza-se sexta-feira, 18 de Maio, pelas 18h30 uma Conversa de Fim de Tarde em que a temática africana levará algumas pessoas e este maduro a conversar sobre a cultura hip hop. Manuel Halpern (jornalista do Jornal de Letras), Teresa Fradique (antropóloga), Otávio Raposo (realizador de cinema) e os rappers Bob da Rage Sense, Chullage e Sagas (Micro).
E se a converseta não estiver interessante, o que se prevê difícil de verificar-se, que se dedique o cidadão a assistir à performance de grafitti de alguns writers coordenados por RAPS. Mais tarde, pelas 22h00, Bomberjack organiza um concerto com UbSquad, Bob da Rage Sense, Sagas e SP & Wilson, com b-boying a cargo dos HipHop Notics e Fórmula Armada.
Toda a informação sobre o programa ...e África Aqui Tão Perto aqui mesmo.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
15 maio 2007
Anúncio
Estimadíssimo leitor, ouvinte, freguês e amigo:
Compreenderá certamente se lhe disser que, tendo esta semana regressado à vida profissional a sério - sem os amadorismos bacocos, os embustes saloios e as falências idiotas com que me cruzei nos últimos 20 meses -, me debato neste momento com um gritante défice de tempo para alimentar este espaço de amor e harmonia. E que, não tendo a habilidade para produzir coisas vagamente interessantes durante 24 horas do mesmo dia, darei por ora menos atenção ao triunfante e multipremiado 1 Pouco Mouco. Dando-se o caso de não compreender a explicação, estamos mal.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
11 maio 2007
Inglaterra, 1983
(Trailer de This is England)
Toda a marginalidade encerra em si uma beleza extrema e comovente. Se semelhante afirmação será, dentro dos parâmetros médios, algo no limiar da rebeldia inconsequente, então talvez seja de ilustrá-la com o mais recente filme do inglês Shane Meadows, This is England de seu nome.
Não sei, por assumida ignorância face aos calendários de estreias em Portugal, se This is England poderá ser visto em condições dignas neste canto da Europa. Estreado em Inglaterra no passado mês de Abril, estará no entanto disponível no acessível circuito de DVD mais tarde ou mais cedo. Isso é importante.
Não será fácil pedir a aclamação de This is England a quem, independentemente de vislumbrar ou não a tal beleza da marginalidade, nunca alimentou qualquer tipo de relação com as numerosas manifestações culturais urbanas e jovens das ilhas britânicas desde a segunda metade do século XX.
No caso de yours truly, e podendo o facto ser considerado anormal, é uma relação natural, geracional e intelectual (sem qualquer relação com petulância, entenda-se). Constato agora, ao consultar dados briográficos, que Shane Meadows tem exactamente a minha idade.
Passado nos subúrbios de Nottingham em 1983, This is England contextualiza-se desde logo numa brilhante montagem inicial: Tatcher, a Guerra das Falkland/Malvinas, o desemprego extremo, o emergir da Frente Nacional.
E a música que, balizada por "Tainted Love", dos Soft Cell, dá depois lugar ao universo que marcava a realidade da comunidade skinhead interracial e não segregacionista. Falo, naturalmente, de soul e de reggae, da música que coloria encontros de jovens de raças diversas que tinham em comum a pertença a uma classe operária e códigos de conduta e vestuário em boa parte resgatados aos rude boys jamaicanos. Não por acaso, no filme pode ver-se, por exemplo, um poster alusivo ao seminal The Harder They Come, com Jimmy Cliff pistoleiro.
Gira tudo em torno do estreante e surpreendente Thomas Turgoose, que saltou de um casting para interpretar a personagem de Shaun, espécie de puzzle de estilhaços biográficos do próprio realizador.
Alvo do proverbial bullying, é adoptado por um grupo de skinheads pelos quais é impossível não sentir simpatia (ou empatia?). E que, no tal registo interracial, inclui no seu núcleo um descendente de jamaicanos com uma deliciosa figura a lembrar o 2-Tone, os Specials e os Madness. Naturalmente, com boas doses de erva a selar as amizades.
Depois aparece a Frente Nacional e o racismo exacerbado, a visão da imigração como causa de todos os problemas sociais e a ausência de orgulho patriótico.
O que fascina verdadeiramente em This is England, além da insuperável dimensão emocional atribuída a personagens que alguns verão apenas como hooligans, é mesmo a forma simples mas apaixonada com que Shane Meadows filma parte da sua cultura e, como o próprio assume, da sua vida. Um género de vida que, mesmo à distância, uns quantos de nós se habituaram a respeitar e estudar com diletância.
Perdoai qualquer coisinha, mas algo de tão básico como This is England é que para mim merece aquelas designações vagamante abstrusas como "Filme do Ano".
(Reportagem sobre This is England e entrevista a Shane Meadows no programa The Culture Show, da BBC)
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
09 maio 2007
Salada Mista Sem Tomate #11
Ao contrário de outras actividades, grupo onde a escrita se inclui, fazer esta espécie de coisa radiofónica não parece depender directamente da disposição.
Por isso mesmo, assinala-se aqui a conclusão da emissão número 11 da Salada Mista Sem Tomate, o tal podcast que, com origem na zona oriental de Lisboa, já cruzou campos e vales e um mar assim para o grandito, como dizem que é o Atlântico.
No momento presente, tenho alguma pena de que as pessoas que consomem esta bizarria não se manifestem mais. Não para pedir autógrafos, IDs ou dinheiro, mas para, vá lá, saber quem são e o que querem da vida. Não, essa segunda parte não é necessária.
Enfim, o alinhamento da 11ª emissão:
1. Black Rebel Motorcycle Club: "Took Out a Loan" (Baby 81, 2007)
2. The Horrors: "She is The New Thing" (Strange House, 2007)
3. The Damned: "The Shadow of Love" (Eternally Damned, 1994)
4. Nine Inch Nails: "God Given" (Year Zero, 2007)
5. Chemical Brothers: "Do It Again" (We Are the Night, 2007)
6. Groove Armada: "Drop That Thing" (Soundboy Rock, 2007)
7. Mike Doughty: "I Hear the Bells" (Haughty Melodic, 2005)
8. Björk: "Innocence" (Volta, 2007)
9. Dinosaur Jr: "Crumble" (Beyond, 2007)
10. 22-20s: "Devil in Me" (22-20s, 2004)
11. Cowboy Junkies: "Still Lost" (At the End of Paths Taken, 2007)
12. Beirut: "Carousels" (Lon Gisland EP, 2007)
13. Loney, Dear: "And I Won't Cause Anything At All" (Loney, Noir, 2007)
14. Simian Mobile Disco: "Tits & Acid" (Attack Decay Sustain Release, 2007)
A tal passagem para a outra margem: SALADA MISTA SEM TOMATE.
NOTA: As emissões mais antigas da Salada Mista Sem Tomate deixarão, progressivamente, de estar disponíveis online por limite de capacidade do servidor.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
05 maio 2007
01 maio 2007
Salada Mista Sem Tomate #10
Chegado à sessão número 10 da Salada Mista Sem Tomate, concluo estar a tornar-se uma coisa séria esta cruzada para fazer de Portugal (para não mencionar a Colômbia, o Japão e as Ilhas Faroé, onde este o podcast também chega) um sítio muito mais interessante para viver.
Tentanto estar à altura de comentários extasiados e tresloucados realizados a propósito da Salada Mista Sem Tomate, cada emissão é mais preciosa do que a anterior, apostada em ganhar o céu por via da perfeição estética. Não me diga o leitor que não é verdade.
Mais uma vez, nova sessão significa nova convivência entre coisas novas e coisas velhas, mais aquelas que não são nem uma coisa nem outra. Na minha opinião, está jeitosíssimo, mas posso ser vagamente suspeito.
Adiante. Aqui está o alinhamento da 10ª emissão da Salada Mista Sem Tomate:
1. The White Stripes: "Icky Thump" (Icky Thump, 2007)
2. 1990s: "Situation" (Cookies, 2007)
3. The Pigeon Detectives: "You Better Not Look My Way" (Wait for Me, 2007)
4. Au Revoir Simone: "Sad Song" (The Bird of Music, 2007)
5. The Bravery: "Time Won't Let Me Go" (The Sun and The Moon, 2007)
6. T.Rex: "20th Century Boy" (The Very Best Of T.Rex [Original Recording Remastered])
7. Battles: "Race In" (Mirrored, 2007)
8. Dub Pistols: "You'll Never Find" (Speakers and Twisters, 2007)
9. Patti Smith: "Gimme Shelter" (Twelve, 2007)
10. Queens of the Stone Age: "3's & 7's" (Era Vulgaris, 2007)
11. Someone Still Loves You Boris Yeltsin: "Anne Elephant" (Broom, 2005)
12. Tom Waits: "Gun Street Girl" (Rain Dogs, 1985)
13. Man Or Astro-Man?: "A Reversal of Polarity" (EEVIAC Operational Index and Reference Guide, Including Other Modern Computational Devices, 1999)
14. Bo Diddley: "Bo Diddley" (Bo Diddley, 1958)
Passaporte para a alegria: SALADA MISTA SEM TOMATE.
NOTA: As emissões mais antigas da Salada Mista Sem Tomate deixarão, progressivamente, de estar disponíveis online por limite de capacidade do servidor.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco Mouco.
29 abril 2007
O triunfo das popozudas
Sou Feia Mas Tô Na Moda
Documentário de Denise Garcia / Toscographics
Verão de 2005
60'
Eta lele, eta lele
Eta lele, eta lele
Eta lele, eta lele
Eta lele, eta lele
Eu fiquei 3 meses sem quebrar o barraco,
Sou feia, mas tô na moda,
tô podendo pagar hotel pros homens
isso é que é mais importante.
Quebra meu meu barraco 4x
Tati Quebra-Barraco: "Sou Feia, Mas Tô Na Moda"
Para uma esmagadora maioria da população mundial - que, naturalmente, não irá passar os olhos por estas linhas -, o baile funk nunca existiu. É uma não entidade, só não partilhando esse estatuto com a Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, porque Fernando Meirelles documentou a favela em filme.
Para os que restam, o baile funk é, muito provavelmente, por esta altura coisa de um passado relativamente recente, entretanto trucidada por mais uma série de numerosas outras músicas que entretanto surgiu com a mesma urgência com que foi sendo apreendida e assimilada.
Inserir-me-ei, com relativo à vontade, na segunda categoria de seres vivos. E, com a vaga noção de que pertencem a essa classe algumas das pessoas que passam por este blog, aqui venho partilhar a sensação de que o que sei a respeito do baile funk é algo de mais sólido depois de uma hora a ver este Sou Feia Mas Tô Na Moda.
Para quem teve contacto atempado com o fenómeno que DJ Marlboro ajudou a construir e difundir para que outros, como Diplo, brilhassem nos países do Primeiro Mundo, Sou Feia Mas Tô Na Moda não se descreve como surpreendente ou sobremaneira revelador. Isto num plano musical. Já num domínio social e cultural, o documentário de Denise Garcia permite vislumbrar algumas matizes de um padrão aparentemente homogéneo, com especial destaque para o papel da mulher num cenário cultural normalmente acusado de pornográfico.
O título vai, desde logo, buscar o seu fundamento a um tema popularizado por Tati Quebra-Barraco. Percorrendo todo o filme, contextualizando a sua existência e a de vários outros, está Deize Tigrona, na Cidade de Deus também conhecida como Deize da Injecção, graças a uma letra em que atribui duplo sentido a esse acto clínico conjugando verbos como "arranhar" e "entrar". Curiosamente, Deize Tigrona esteve muito recentemente em Lisboa e no Porto para uma rara apresentação da cartilha do baile funk em Portugal.
E falando em cartilha, DJ Marlboro chama às moças envolvidas no baile funk feministas sem cartilha. Ele é, de resto, peça fulcral do filme, porquanto transpira os fundamentos e as realidades do fenómeno ao mesmo tempo que é capaz de comunicá-las de forma inteligível para o tal Primeiro Mundo (concretamente, pela experiência em cidades como Londres, Paris e Barcelona).
Sou Feia Mas Tô Na Moda, já datado de 2005, dificilmente iniciará quem quer que seja por esta altura nas delícias (com duplo sentido) do baile funk. Mas ajuda, em boa verdade, alguns de nós a ir fechando um capítulo da assimilação da cultura urbana do presente. Sobretudo porque entretanto já abrimos vários outros.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
27 abril 2007
IC19 com novo propósito
Por estes meandros, já se sabe, as amizades não são para camuflar. Portanto, digo já que o projecto tem como co-proprietário um estimado compincha, Luís Varatojo (guitarrista d'A Naifa).
Abre na próxima semana e, pelo menos aos meus olhos, constitui já uma excelente razão para desaparecer temporariamente da cidade que mata (Lisboa). Fica em Sintra, na Alameda dos Combatentes da Grande Guerra, número 12 (junto à biblioteca).
Como facilmente se percebe a partir do cartaz aqui exposto, lá estarei no sábado, dia 5 de Maio, sabe Deus com que discos a atirar docinhos musicais a quem tiver o insuperável bom gosto de marcar presença.
Entretanto, caso queira, vá o leitor espreitando a coisa aqui.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Buuuu!
Não sei se é segredo para alguém o facto de gostar bastante da Antena 3. Naturalmente, "bastante" é palavra que ganha contornos diferentes do esperado quando se pensa no panorama radiofónico português e se constata um nivelamento subterrâneo. Mas gosto e isso é, para o efeito, o que interessa.
Ao ouvir uma de variadíssimas partes das comemorações do 13º aniversário da estação, que aconteceu esta quinta-feira (naturalmente, parabéns), dei com uma emissão tardia da Prova Oral, do estimado Fernando Alvim. No estúdio, entre convidados mais reconhecíveis, estava um fã da estação com uns tenros 14 anos de idade.
Indagado sobre os programas de que gosta mais na Antena 3, o petiz indicou, entre outras coisas, a rubrica "Bolas Com Creme", aberração matutina diária. Foi aí que percebi, finalmente, porque alberga a estação pública uma dos espaços alegadamente de humor mais imbecis e tristes que o planeta já conheceu: é que, afinal, o miúdo gosta daquilo.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Da utilidade das coisas
Há elementos da vida em sociedade dos quais aprecio o seu carácter militante. Não vou enumerá-los, até porque as polícias andam atrás de tudo o que mexa fora do gigante inodoro que é o eixo centrista.
O universo da comunicação livre e democratizada vulgarmente conhecida como comunidade blogger é, curiosamente, um dos elementos em que a militância me atrai cada vez menos, para não falar em repulsa.
Esclareço que não me atrai num plano puramente pessoal, no sentido em que não vejo por que exercer esta actividade com militância e espírito de missão. Interessa-me pouco, pelo menos no momento em que escrevo estas linhas, perceber até que ponto se interessa esta ou aquela pessoa pelas linhas que escrevo.
Em primeiro lugar, o excesso de informação (num sentido muito amplo, incluindo tudo o que não tem nada de informativo) intimida-me. Se não consigo absorver tudo, então mais vale não absorver nada. Em segundo lugar, hoje visitei os blogs de dois amigos - Jorge Manuel Lopes e Gonçalo Palma - e pensei: "ora isto é que é comunicar com propósito". Cada um à sua maneira, com estilos distintos e substractos radicalmente diversos.
Em ambos os casos, eles estão a fazê-lo como deve ser. Por isso, e por um conjunto nada desprezível de desilusões que no espaço de dois anos tive com o universo da comunicação (como o nascimento e morte infantil de projectos em que me envolvi), não estou com grande vontade de acompanhar o ritmo e a qualidade dos veneráveis amigos citados.
Espero que, com esta vaga explicação, fique o leitor esclarecido sobre a principal justificação para considerar que o real contributo que posso dar a este universo é nesta altura a Salada Mista Sem Tomate. É o que sinto agora, neste segundo. Sem um pingo de militância, aviso.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
25 abril 2007
Salada Mista Sem Tomate #9
Reconhecido o facto de que a espera pela nona emissão da Salada Mista Sem Tomate foi longa e traumatizante, poupar-me-ei - a mim e ao prezado leitor/ouvinte - a grandes deambulações líricas sobre este glorioso podcast. Mesmo que um programa onde se acotovelam dois temas dos comoventes Negativland suscite os mais alucinantes pensamentos sobre a História da Humanidade.
É este o alinhamento de mais uma frugal sessão radiofónica sem antena:
1. Kubichek!: "Outwards" (Not Enough Night, 2007)
2. Tapes 'N' Tapes: "Jakov's Suite" (The Loon, 2006)
3. Feist: "My Moon My Man" (The Reminder, 2007)
4. Echo & The Bunnymen: "The Killing Moon" (Ocean Rain, 1984)
5. I'm From Barcelona: "The Painter" (Let Me Introduce My Friends, 2006)
6. The Fratellis: "Henrietta" (Costello Music, 2006)
7. The Undertones: "Teemage Kicks" (Teenage Kicks - The Best Of, 1996)
8. Yoko Ono with Peaches: "Kiss, Kiss, Kiss" (Yes, I'm a Witch, 2007)
9. The Broken West: "Down in the Valley" (I Can't Go On, I'll Go On, 2007)
10. El Perro del Mar: "Here Comes That Feeling" (El Perro del Mar, 2006)
11. Negativland: "Drink it Up" (Dispepsi, 1997)
12. Negativland: "Nesbitt's Lime Soda Song" (Escape From Noise, 1987)
13. The Waterboys: "You in The Sky" (Book of Lightning, 2007)
14. Brett Anderson: "The Infinite Kiss" (Brett Anderson, 2007)
Aqui fica o passaporte para os paraísos artificiais: SALADA MISTA SEM TOMATE.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
16 abril 2007
"Sharing is caring"
Acreditará o estimado leitor se lhe disser que, ao longo dos últimos 13 anos, tomei contacto com as mais diversas formas de actuação da outrora vagamente viçosa indústria discográfica instalada em Portugal. Sendo que um dos elementos mais bizarros dessas práticas sempre disse respeito ao facto de, alheia a garbosos exemplos vindos de fora de portas, a referida indústria nunca ter visto com bons olhos o acto de mostrar à população música gratuitamente. Refiro-me, neste caso, à recusa em contribuir com compilações a publicar com órgãos de informação. Aquilo que hoje é já uma prática em desuso na maioria dos países civilizados, em Portugal nunca chegou a sê-lo efectivamente.
Apesar de observar-se, actualmente, por cá uma ou outra iniciativa vagamente aparentada daquilo que por exemplo marca revistas como a Mojo ou a Uncut, a verdade é que quando isso acontece a coisa não é graciosa. Não se dá nada, antes persuade-se a comprar. Não faço aqui a apologia da cultura de borla, mas de pequenos actos que noutras paragens ajudaram a divulgar, concretamente, a música de gente à partida desconhecida.
Isto tudo, na realidade, apenas para assinalar uma deliciosa iniciativa da não menos deliciosa revista XLR8R, a única a que julgo ser fiel no momento presente. Não costuma, a dita revista, vir acompanhada por CDs quando vendida a não assinantes, mas a edição 106 anuncia dois discos de borla no interior do embrulho de plástico. Observados os dois objectos, a primeira reacção é de alguma estupefacção / desilusão. Os dois discos são exactamente iguais na forma e no contúdo. A coisa muda verdadeiramente quando se lê o autocolante afixado na capa de um deles: "Sharing is caring. Give this copy to a friend, courtesy of Zune and XLR8R".
Lá dentro, música de gente como os !!!, Battles, Brother Ali, Fujiya & Miyagi e Dark Romantics, cedida por editoras como a Warp, !K7, Sub Pop e Stones Throw. Além de gostar muito de música, a XLR8R gosta muito de quem gosta muito de música. Assim é que é bonito.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
13 abril 2007
Paulo Arraiano a Alastrar II
Uma mão lava a outra, as duas lavam os pés, este é primo daquele e não sei quê.
Já aqui falei do Paulo Arraiano, um dos mais talentosos e refrescantes ilustradores e designers de geração esteticamente viva e pujante. É certo que falei dele quando me ofereceu uma das t-shirts que criou, mas falei.
Agora volto a falar, mas sem interesse pessoal. Quer dizer, na realidade estarei hoje, sexta-feira, a partir das 21h30 na Restart, no Parque das Nações, em Lisboa, para ser um dos primeiros a ver as obras que lá estarão expostas até dia 4 de Maio. E, com toda a honra, alinharei uns sons jamaicanos para completar a exposição. Levarei a t-shirt citada, naturalmente. Mas o que interessa, na realidade, é a inauguração da exposição.
O local é bem simpático, tem bar e vai ter música a tocar que dizem ser uma categoria. Além disso, é bom sermos dos primeiros a reconhecer o labor de alguém que corre o risco de ver o seu trabalho reputado de fora para dentro de Portugal. Digo eu.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
10 abril 2007
Salada Mista Sem Tomate #8
O que quereria Heródoto dizer com: "O céu não consente no orgulho de ninguém, salvo no seu próprio"? Onde andaria Rimbaud ao afirmar: "Acredito que estou no inferno, portanto estou nele"? Teria Dewey frequentado uma universidade privada para pensar: "A educação é um processo social, é desenvolvimento. Não é a preparação para a vida, é a própria vida"?
A resposta a estas e outras questões com que a Humanidade se depara há décadas está, como sabe o gentil ouvinte, nas gloriosas edições da Salada Mista Sem Tomate. O único pensamento ainda não decifrado pelo homem comum é de Frank Zapping e refere-se ao humilde podcast que aqui se acolita e difunde. A saber:
"Gosto deste podcast. Revela novidades com bom gosto, alternando referências essenciais sem cair em revivalismos da moda. Concilia suavemente a descoberta de novas propostas com o conforto de terrenos familiares. O sample dos Negativland no gernérico inicial conquistou-me de imediato. Bookmarks com ele! Parabéns pelo bom serviço prestado".
É bom ser maluco mas ser compreendido.
Aqui fica o alinhamento:
1. Sister Vanilla: "Jamcolas" (Little Pop Rock, 2007)
2. The Maccabees: "About Your Dress" (About Your Dress CD-Single, 2007)
3. Elvis Presley: "Too Much" (Elv1s: 30 #1 Hits, 2002)
4. The Chinese Stars: "Bored With This Planet" (Listen to Your Left Brain, 2007)
5. LCD Soundsystem: "New York I Love You" (Sound of Silver, 2007)
6. Lady Sovereign: "Those Were The Days" (Public Warning, 2006)
7. Voxtrot: "Ghost" (Voxtrot, 2007)
8. The Orders: "Shiver" (Guilt And Confusion, 2007)
9. The Small Faces: "Green Circles" (The Small Faces, 2007)
10. The Twang: "The Neighbour" (The Twang EP, 2007)
11. Modest Mouse: "Fly Trapped in a Jar" (We Were Dead Before the Ship Even Sank, 2007)
12. Forward Russia!: "Thirteen" (Give Me a Wall, 2006)
13. Kings of Leon: "My Party" (Because of the Times, 2007)
14. Johnny Cash: "Troublesome Waters" (Ultimate Gospel, 2007)
E o link para uma vida feliz: SALADA MISTA SEM TOMATE.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
09 abril 2007
Beleza interior
Caso saiba o leitor decifrar enigmas de dificuldade superior, terá percebido dois posts atrás que passei os dias pascais na vila de Idanha-a-Nova. E que aí dei mais uns avanços na leitura da gloriosa biografia do não menos glorioso John Peel.
E se uma das grandes riquezas de Idanha-a-Nova é a preservação de raízes e tradições que geram orgulhosos filhos e enteados da terra, não menos importante é a forma como a vila comunica com quem nela vive e com quem a visita.
Venho pelo presente meio fazer a mais convicta vénia à revista Adufe, a "revista cultural de Idanha-a-Nova". A Adufe é a mais perfeita antítese daquilo que imaginamos e por vezes conhecemos como órgãos de informação marcados pelos custos de interioridade.
O mérito é, justiça seja feita, em larguíssima escala da Silva! Designers, de Jorge Silva, que entre outros trabalhos deu forma a produtos como os suplementos Y e Mil Folhas, do Público. A sabedoria sugerida por esta contratação, essa, deverá ser da responsabilidade de alguém lá da Idanha.
Em termos gráficos e de paginação, Adufe é uma revista soberba, apetitosa, como o artigo intitulado Usos do Azeite publicado na presente edição semestral, a número 10. A isso junta-se, em perfeito paralelo conceptual, uma apurada noção de parcimonioso rigor informativo. O que é o mesmo que dizer que ali não se escrevem aqueles lençóis de texto de que o português médio habitualmente foge.
Gentilmente oferecida a quem a encontre, a Adufe é o melhor objecto de imprensa regional que alguma vez me cruzou a retina.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Tédio menos órfão
Na edição primeira do finado jornal UM, foi-me gentilmente concedida a oportunidade de escrever o seguinte:
De Coimbra para Nova Iorque
Seis anos depois de terem dado o seu último concerto, é de uma elementar facilidade fazer a elegia dos Tédio Boys, rotulá-los como o mais importante fenómeno cultural da cidade de Coimbra dos últimos 15 anos ou o mais fracturante colectivo de rock’n’roll que Portugal viu nascer depois dos Xutos & Pontapés.
É fácil, muito fácil, encher o peito para perguntar a alguém onde estava em 1992, quando o fenómeno começou, mas Filhos do Tédio não cai, felizmente, na armadilha da memória emocional. Tem, sobretudo, o mérito de ter a frieza documental que se exige e um conteúdo que não só alinha acontecimentos como gera pensamentos vários sobre a pequena condição de ser português.
Depois de assistir aos 50 minutos de Filhos do Tédio, a reacção natural do melómano activista é a da relativa frustração por não se ter dado conta de tanto se ter passado. Está ali tudo concentrado: do primeiro concerto na rua, à porta do Infinito, ao último concerto, em Figueiró dos Vinhos; do quase motim com invasão policial no Pavilhão da Palmeira às três digressões pelos Estados Unidos com passagem pelo aniversário de Joey Ramone; das memórias das Voodoo Dolls aos papéis de Fernando Pinto e Ernst Weber, determinantes na aventura americana.
Filhos do Tédio não tem, tal como os Tédio Boys não tinham, ambições estéticas astronómicas. É, acima de tudo, resultado de um assinalável labor de recolha e montagem de memórias visuais e sonoras, como se o rock’n’roll se encaixasse em menos de uma hora. Numa era marcada, em Portugal, pelo desânimo artístico e por uma constrangedora resistência à mudança brusca, Filhos do Tédio é como que o somatório das memórias da frustração e da reacção a essa frustração. É o retrato da arte de correr riscos.
A boa notícia:
Filhos do Tédio, o documentário a que o texto se refere, chega no presente mês de Abril ao cartaz do Festival IndieLisboa, onde competirá na secção dedicada às Curtas Metragens.
Quer isso dizer, essencialmente, que o filme de Rodrigo Fernandes e Rita Alcaire pode finalmente ser visto por mais do que uma pessoa detentora de um leitor de DVD a quem amavelmente os autores fizeram chegar uma cópia.
Aos interessados, que num mundo ideal seriam muitos, fica a informação: o documentário pode ser visto numa destas ocasiões:
Competição Curtas
Sexta-feira, 20 de Abril, às 19h00 no Fórum Lisboa (Av. Roma).
Indie Music
Sexta-feira, 27 de Abril, às 24h00 na sala 1 do cinema Londres (Av. de Roma).
Julgo não ser necessário perguntar se recomendo.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
05 abril 2007
03 abril 2007
Salada Mista Sem Tomate #7
Bem sei que já se passou tempo demasiado sem que o estimado leitor aqui encontrasse música nova. Mas as coisas não são sempre fáceis para quem não nasceu engenheiro de som ou produtor de rádio. Faz-se o que se pode, modesta e honestamente.
O que de mais relevante se passa na sétima emissão da Salada Mista Sem Tomate é a inclusão, pela primeira vez, de coisa musical feita dentro das fronteiras portuguesas. Gente de barba rija e força na verga, naturalmente.
Talvez seja também interessante mencionar uma alocução de um agitador / jornalista / DJ da nossa praça, Filipe Pedro, que numa troca grupal de mails se saiu com a expressão que aqui transcrevo com gentil autorização:
"Sem dúvida, o melhor programa de rádio do momento e um dos melhores que alguma vez ouvi em língua portuguesa".
Alguém se importa de colocar um império de comunicação nas mãos deste homem? Ele reconhece talento à légua, como é bom de ver.
Adiante. Aqui fica o alinhamento da sétima emissão:
1. Good Shoes: "Small Town Girl" (Think Before You Speak, 2007)
2. The Kinks: "Dedicated Follower of Fashion" (The Definitive Collection: The Kinks Greatest Hits, 1993)
3. Tinariwen: "Tamatantelay" (Aman Iman: Water Is Life, 2007)
4. Bunnyranch: "Flip Flop" (Luna Dance, 2007)
5. Kaiser Chiefs: "Learnt My Lesson Well" (Yours Truly, Angry Mob, 2007)
6. Morrissey: "The Streets I Ran" (Ringleader of the Tormentors, 2006)
7. The Ripps: "Stranger" (Long Live The Ripps, 2007)
8. The Aliens: "Tomorrow" (Astronomy for Dogs, 2007)
9. The Long Blondes: "You Could Have Both" (Someone to Drive You Home, 2006)
10. The Gossip: "Keeping You Alive" (Standing in the Way of Control, 2007)
11. The Besnard Lakes: "Cedric's War" (The Besnard Lakes Are The Dark Horse, 2007)
12. The Hollies: "Sorry Suzanne" (Greatest Hits, 2003)
13. The Strokes: "Automatic Stop" (Room on Fire, 2003)
14. The Vicious Five: "The Smile of Those Daggers" (Up On the Walls, 2005)
15. Air: "Mer du Japon" (Pocket Symphony, 2007)
16. Nina Simone: "The Gal From Joe's" (Four Women - The Nina Simone Philips Recordings, 2003).
O link: SALADA MISTA SEM TOMATE.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
29 março 2007
MINI International Lisboa
Decorre hoje no Santiago Alquimista, em Lisboa, o lançamento da revista MINI International dedicada à capital portuguesa. Trata-se de uma edição da responsabilidade da MINI (automóveis) que, periodicamente, dá à estampa números preenchidos pelos mais diversos aspectos de cidades específicas de todo o mundo.
Aqui yours truly participou na coisa, bem como uma série de outros jornalistas e oficiais da escrita, como António Pires, Kalaf, Viriato Teles, Nuno Ferreira de Carvalho, Andrea Probosch ou Artur Soares Silva. E o que fizemos foi, de forma fácil e prazenteira de digerir, retratar Lisboa como epicentro da cultura lusófona. Cosmopolita, permeável e inspiradora.
De Alberto Pimenta a Henrique Amaro, da ZDB ao Ginjal, de Ricardo Araújo Pereira aos Storytailors, muitos são os pontos que se unem na edição #23 da MINI International para desenhar o retrato da Lisboa de 2007. Traduzida em diversas línguas, dizem-me que pode ser encontrada, pelo menos, na maravilhosa Tema dos Restauradores, em Lisboa. Fica o aviso.
Site: MINI International.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
26 março 2007
Salada Mista Sem Tomate #6
Sabendo que o estimado leitor tem já dificuldade em começar qualquer semana sem a dose costumeira da Salada Mista Sem Tomate, aqui tem a sessão meia-dúzia.
É uma sessão bastante honrada e, desta vez, sem sobreposição musical. Está, digo eu, uma coisa bastante digna.
Entretanto, estimado ouvinte, parece que em Sacavém a Salada Mista Sem Tomate é também já um êxito rotundo. Não espere mais: escreva-me hoje para colocar este podcast nos lavabos da sua empresa.
Caro provedor José Nuno Martins: poderá este meu programa ser considerado de Serviço Público? Aqui lhe deixo o alinhamento para que possa pronunciar-se com mais propriedade. Obrigado pela atenção.
O alinhamento:
1. The Presets: “Steamworks” (Beams, 2006)
2. Beck: “Cell Phone’s Dead” (The Information, 2006)
3. Darkel: “At the End of the Sky” (Darkel, 2006)
4. Panda Bear: “Comfy in Nautica” (Person Pitch, 2007)
5. Love and Rockets: “So Alive” (Sorted!: The Best Of, 2003)
6. The Jesus & Mary Chain feat. Hope Sandoval: “Sometimes Always” (Stoned & Dethroned, 1994)
7. Ringo Deathstarr: “Some Kind of Sad” (Álbum a Editar, 2007)
8. The Shins: “Australia” (Wincing the Night Away, 2007)
9. Seafood: “Between the Noise Pt. 2” (Paper Crown King, 2006)
10. Maxïmo Park: “Our Velocity” (Our Earthly Pleasures, 2007)
11. Butthole Surfers: “The Shame of Life” (Weird Revolution, 2001)
12. Ian Brown: “Corpses in Their Mouths” (The Greatest, 2005)
13. The Hold Steady: “Chillout Tent” (Boys and Girls in America, 2006)
14. The Fall: “The Wright Stuff” (Post-TLC Reformation!, 2007)
15. The Holloways: “Dancefloor” (So This is Great Britain?, 2006)
16. Pop Levi: “Dollar Bill Rock” (Return to Form Black Magick Party, 2007)
Por último, o link para o que interessa: SALADA MISTA SEM TOMATE.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Diz-me em quem votaste...
Terminou agora mesmo a sessão final de Os Grandes Portugueses, da RTP, um concurso que felizmente não inclui provas de canto ou cultura geral.
Sinto-me, neste momento, na obrigação de anunciar para todo o mundo informatizado: não votei. Não admito que me peçam dinheiro (vulgo "chamada de valor acrescentado") para partilhar uma opinião.
Esclareço que não votei para que se saiba que não colaborei na eleição de Salazar como O grande português. Sei que, a partir daqui, olharei para todos os portugueses de soslaio, com a mais primária desconfiança, talvez mesmo com medo.
Talvez se devesse agora pensar na distribuição, com a Lux ou a Flash, de serviços de loiça, pareos e panamás com a inscrição "Eu não votei em Salazar". Só assim imagino possível que os portugueses consigam voltar a viver em conjunto e a viajar em grandes quantidades em transportes públicos sem o desenvolvimento de condutas violentas.
Pela primeira vez, sinto algum alívio por um avô meu já não estar vivo, sendo poupado a assistir a isto. Ele tinha, para a Ponte 25 de Abril, uma designação alternativa bastante eloquente: Ponte do Povo Famélico.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
PS: Queira o leitor desculpar a ausência de imagem deste post. É propositada.
Sinto-me, neste momento, na obrigação de anunciar para todo o mundo informatizado: não votei. Não admito que me peçam dinheiro (vulgo "chamada de valor acrescentado") para partilhar uma opinião.
Esclareço que não votei para que se saiba que não colaborei na eleição de Salazar como O grande português. Sei que, a partir daqui, olharei para todos os portugueses de soslaio, com a mais primária desconfiança, talvez mesmo com medo.
Talvez se devesse agora pensar na distribuição, com a Lux ou a Flash, de serviços de loiça, pareos e panamás com a inscrição "Eu não votei em Salazar". Só assim imagino possível que os portugueses consigam voltar a viver em conjunto e a viajar em grandes quantidades em transportes públicos sem o desenvolvimento de condutas violentas.
Pela primeira vez, sinto algum alívio por um avô meu já não estar vivo, sendo poupado a assistir a isto. Ele tinha, para a Ponte 25 de Abril, uma designação alternativa bastante eloquente: Ponte do Povo Famélico.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
PS: Queira o leitor desculpar a ausência de imagem deste post. É propositada.
23 março 2007
Lusofonia a Alastrar
Boas notícias para o Clube de Fãs e Amigos do documentário Lusofonia: a (R)Evolução, de que aqui já falei mais do que uma vez.
Dizem-me da Red Bull Music Academy, a entidade que produziu o excelso documento, que o dito será ao longo de 2007 objecto de uma disseminação considerável. Exemplos: Centros de Língua Portuguesa e adidos culturais das delegações onde se encontra o Instituto Camões (países lusófonos, etc); África Festival (Lisboa) e Festival Mestiço (Porto); Programa Escolhas do ACIME, nas escolas do país; showcase da IMZ no Womex; Delegações locais da Red Bull Music Academy em 60 países.
A coisa não fica, porém, por aqui. No futuro realmente próximo, Lusofonia: a (R)Evolução passa na RTP 1 no dia 31 de Março, sábado, pela tarde, logo após o Top +. Está o benquisto leitor avisado.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
22 março 2007
Eficácia
Ao fim de alguns visionamentos, apreendi a mensagem que o anúncio quer veicular: a Sagres Bohemia, "uma cerveja com muito bom gosto", é uma ferramenta invulgarmente eficaz para calar Luís Represas.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Salada Mista Sem Tomate #5
Epá, este está muito bom. Tem canções que nunca mais acaba. Dezasseis, para ser mais exacto. De Dick Dale aos Ripps. Valente.
O alinhamento:
1. The Ponys: "Double Vision" (Turn the Lights Out, 2007)
2. The Who: "The Seeker" (The Ultimate Collection", 2002)
3. The Bird and The Bee: "I Hate Camera" (The Bird and The Bee, 2007)
4. New Young Pony Club: "Get Lucky" (Get Lucky EP, 2006)
5. Apartment: "Fall Into Place" (Dreamer Evasive, 2007)
6. The Ripps: "Holiday" (Long Live The Ripps, 2007)
7. The Young Knives: "Loughborough Suicide" (Voices of Animals and Men, 2006)
8. The Rosebuds: "Cemetary Lawns" (Night of the Furies, 2007)
9. The Twang: "Wide Awake" (Wide Awake (single), 2007)
10. GoodBooks: "Leni" (Leni (single), 2006)
11. Dick Dale: "The Viktor" (King of Surf Guitar - The Best Of, 1995)
12. The Horrors: "Draw Japan" (Strange House, 2007)
13. Menomena: "Evil Bee" (Friend and Foe, 2007)
14. The High Llamas: "The Old Spring Town" (Can Cladders, 2007)
15. Wolfmother: "Joker and the Thief" (Wolfmother, 2006)
16. 120 Days: "Lazy Eyes" (120 Days, 2006)
O link, claro: SALADA MISTA SEM TOMATE.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
PS: Perdoai o estimado ouvinte, mas detectará certamente uma sobreposição sonora entre os Young Knives e os Rosebuds. Não era suposto. Transforma-se, portanto, numa valiosa raridade para todo o sempre.
16 março 2007
É um festival (elogio)
Se, na altura em que o prezado leitor se cruzar com estas linhas, toda esta informação estiver já desactualizada ou incompleta, não se preocupe. Ela será, com toda a certeza, aumentada a conta-gotas em diversas publicações (online e offline), com recurso à provecta estratégia de divulgar aos bochechos para nunca perder espaço mediático.
Ora bem: há já tempo considerável que em Portugal se realizam festivais de música de todos os formatos e em praticamente todas as épocas do ano. Dentro de portas, ao ar livre, de rock, de jazz, de world music, o diabo a quatro. Numa perspectiva puramente pessoal, alicerçada somente no meu gosto, os que mais me interessam são, por assim dizer, os que se mexem dentro da coisa pop com alguma atenção sobre a coisa dita alternativa. Pelo menos hoje.
Nesse sentido, não é de hoje que considero ser o Festival de Paredes de Coura o mais consistente de todos os que se assemelham com a descrição acima colocada. Vê-se que há naquela organização quem gosta de música e sabe onde ela nasce, por onde se desenvolve, onde desagua e dá frutos. Que o diga quem todos os anos para lá se desloca em Agosto com a certeza de que vai, entre outras coisas, descobrir música nova, daquela que 98,7% do espectro radiofónico não pondera difundir.
Outros festivais, maiores do que o de Paredes de Coura, piscam amiúde o olho ao universo dito alternativo, bastando para isso, por exemplo, lembrar duas passagens inesquecíveis pelo Sudoeste: os Portishead e os Franz Ferdinand. No entanto, há sempre aquele ponto em que um cartaz resvala para o chinelo, numa óbvia cedência à ideia pré-concebida daquilo que significa dinheiro fácil. Exemplo? Jamiroquai.
Acontece que, nestes primeiros meses de 2007, volto a entusiasmar-me com um festival realizado abaixo do rio Douro. Obviamente, o Super Bock Super Rock. Descontado o bizarro formato em dois actos (concorrendo directamente com o Rock in Rio nessa matéria), o 13º Super Bock Super Rock parece, visto daqui e a esta distância, um acontecimento praticamente histórico. No tal universo dito alternativo, mesmo com uns flirts atrás do biombo que nos separa do mainstream, esta edição tem uma consistência assinalável no cartaz.
No momento em que escrevo estas linhas, o site da Música no Coração (aquele que aqui tomo como o veículo oficial) anuncia: Metallica (28 Junho); Arcade Fire, Bloc Party, Klaxons, Magic Numbers, The Gift, Bunnyranch (3 Julho); Maximo Park e LCD Soundsystem (4 Julho); Scissor Sisters, Interpol, Underworld (5 Julho). O que me faz lembrar alguns eventos do tipo que se realizam na Europa civilizada. Com alguma dose de risco e aparente apego pelos trilhos mais acutilantes da produção musical popular. Haverá, com toda a certeza, quem tenha opinião totalmente contrária a esta ("É só música que ninguém conhece...", ecoa nos tímpanos). Talvez esses se desloquem meses depois a um Coliseu dos Recreios para ver uns Klaxons.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
Salada Mista Sem Tomate #4
Muitas são as pessoas - milhares, talvez mesmo centenas... - que diariamente me abordam na rua com uma questão comum. Perguntam-se, além de tentarem desesperadamente levar-me para colocar sobre o napron em cima do televisor das avós, se actualmente nada mais tenho para partilhar com o mundo do que esta Salada Mista Sem Tomate. Se, além do podcast, eu não poderia escrever aqui "daquelas" coisas, "das minhas" coisas. Pelo ar diabólico com que perguntam isto, presumo que querem ler discursos sanguinários, maledicência e humor duvidoso.
Naturalmente, respondo que sim. Que não deixei, overnight, morrer um espírito verbalmente terrorista e francamente céptico. Simplesmente, a era presente - talvez por ser a do Porco - é de produzir. Terei, estimado leitor, chegado a uma preocupante maturidade: se a rádio como a conhecemos em Portugal é maioritariamente preenchida por excremento intelectual e musical, então mais vale que eu mostre que era eu quem lá - na rádio, entenda-se - devia estar. Reconhecerá nestas palavras o benquisto leitor alguma arrogância. É natural. Há quem confunda auto-confiança com arrogância.
Assim, e no intervalo de deambulações escritas intelectuais, fique o prezado freguês com mais uma edição da Salada Mista Sem Tomate. Uma edição especialíssima, vou já avisando. É que o signatário destas linhas tem uma predilecção secular pelo número quatro e por uma vasta miríade de simbologias que se lhe podem atribuir. E esta é a sessão - ou episódio, como gostam de chamar-lhe, em jeito de sitcom - número quatro. Esmerei-me, meu caro receptor. E o resultado é, digo eu, uma categoria.
Confira desde já o gentil leitor o alinhamento desta sessão:
1. The Horrors: "Count in Fives" (Strange House, 2007)
2. !!!: "All My Heores Are Weirdoes" (Myth Takes, 2007)
3. Wolf & Cub: "This Mess" (Vessels, 2007)
4. The Longcut: "Transition" (Call & Response, 2006)
5. The May Onettes: "Lost" (Lost EP, 2006)
6. The Rakes: "Suspicious Eyes" (Ten New Messages, 2006)
7. The Bluetones: "Head On a Spike" (The Bluetones, 2006)
8. Guillemots: "Trains to Brazil" (Through the Windowpane, 2006)
9. The Smiths: "This Charming Man [NY Vocal]" (CD Single, 1992)
10. The Boyfriends: "Brave Little Soldiers" (The Boyfriends, 2006)
11. Datarock: "Fa-Fa-Fa" (Datarock, reed. 2006)
12. The Aliens: "The Happy Song" (Astronomy for Dogs, 2007)
13. The Earlies: "When the Wind Blows" (The Enemy Chorus, 2007)
14. Los Campesinos!: "We Throw Parties, You Throw Knives" (MySpace, 2007)
Como habitualmente, e para que nada lhe falte, o link para a coisa, se não quiser ouvi-lo directamente nesta página no player lá para cima do lado direito: SALADA MISTA SEM TOMATE.
Já agora, nos sanitários públicos do seu bairro já se ouve a Salada Mista Sem Tomate? E na sua estação de rádio nacional preferida? Tome o poder nas suas mãos, estimado leitor. Revolte-se contra o silêncio que o ruído provoca.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
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