03 janeiro 2006
O director
Era uma daquelas figuras por quem, quando passava no portentoso edifício de Laveiras onde se encontra todo o espólio de imprensa de Francisco Pinto Balsemão, ao "bom dia", "boa tarde" ou "boa noite" (naqueles serões que todos os jornalistas conhecem ou deviam conhecer) se juntava a tentação de fazer uma vénia. Não o conhecia e tinha muita pena disso. Confesso: no jornalismo, sou admirador profundo da velha escola, aquela de que Carlos Cáceres Monteiro era um dos poucos sobreviventes visíveis.
Director da Visão, Cáceres Monteiro (ou apenas Cáceres, como a ele nos referíamos) era aquilo que eu ambiciono: ser, até ao final da vida, praticante dessa nobilíssima actividade do jornalismo. Naturalmente, falamos de universos diferentes. É como comparar uma poia e uma bomboca, mas é assim que eu gostaria, com 33 anos, de vir a ser reconhecido. Ser conhecido é muito pouco interessante.
Não posso, por razões geracionais óbvias, estender-me em análises e elogios a um percurso feito ao longo de décadas. O universo da reportagem, divisão maior do jornalismo, é um campeonato em que Carlos Cáceres Monteiro se dedicou de uma forma que se torna praticamente impossível de enaltecer por um singelo plumitivo como eu. Como não é fácil tornar líquida a teoria de que a Visão se transformou numa revista óbvia e ostensivamente socialista, mesmo sabendo que o seu agora falecido director se ligou ao MASP, que ajudou em idos tempos a colocar Mário Soares no mesmíssimo posto a que agora quer regressar. Para mim, e de um ponto de vista puramente jornalístico e obviamente limitado no tempo, Cáceres era o tal a quem o cumprimento cordial quase cedia lugar à vénia.
Carlos Cáceres Monteiro faleceu na madrugada passada, e pelo menos não vai ver Portugal continuar a ser o país mais merdoso da Europa a que se juntou contratualmente há 20 anos. Naturalmente, daqui segue toda a força para a família e os amigos. Mas, no que mais me toca, acho que escrevi basicamente estas linhas por ser totalmente incapaz de dar tudo o que nesta altura precisa alguém da boca de quem belas histórias ouvi, algumas durante almoços tardios no refeitório do tal edifício de Laveiras. Para o Luís, um dos filhos de Carlos Cáceres Monteiro, fica prometido o que de mim precisar.
E isto não é do meu ouvido, mesmo sendo 1 pouco mouco.
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Parabéns Pedro!
ResponderEliminarMP
gostei muito de ler o teu texto...
ResponderEliminare achei que o devia dizer.
olá Pedro. Sou a Ana, filha do Cáceres, e gostei muito de ler o teu comentário sobre o meu pai, qye me foi indicado por um amigo meu, Miguel Pedreira. Um beijo
ResponderEliminarCara Ana:
ResponderEliminarNuma altura destas, não sei o que dizer-te...
Talvez o mesmo que escrevi dirigido ao teu irmão, mesmo não te conhecendo.
Obrigado por teres vindo aqui.
E guarda a certeza de que nós, jornalistas, não nos esqueceremos de como o teu pai nos mostrou como se escreve aquilo que se vê.
Leva daqui a força que precisares, mas deixa-me ficar a gripe, que já é uma companhia fiel.