Sonotone do dia:
Sinéad O'Connor: "Throw Down Your Arms" (Outubro 2005)
Veredicto:
O activismo social e/ou político, quando aplicado à criação musical, pode ser muito perigoso. Não exactamente perigoso para a saúde da humanidade, apesar daquilo que alguns moralistas limitados fazem crer, mas perigoso de um ponto de vista puramente estético. Amiúde concentrados num espírito de missão que tolda a actividade auto-crítica, os palradores das coisas políticas e sociais instalam-se com igual frequência num limbo de irrelevância musical ofensiva. Sinéad O'Connor há muito que se aproxima desse estado de desgraça, do ponto em que o cidadão se interessa mais por ouvir o que tem um músico a dizer do que por digerir os discos que faz. Alimentada numa cuba construída por núcleos intelectuais que não ouvem discos, a cantora irlandesa conseguiu, ao longo dos anos, tornar-se insuportavelmente previsível e tecnicamente entediante. Até este "Throw Down Your Arms". Ao invés de pregar a justiça moral e social, Sinéad O'Connor tratou de agir musicalmente. Vai daí, e espiritualmente encantada com o a magia da cultura jamaicana, gravou um álbum nos estúdios Tuff Gong, em Kinsgton, para o qual contou com os valiosíssimos préstimos da mais importante secção rítmica do mundo, Sly Dunbar e Robbie Shakespeare. Ao mesmo tempo que pegou em canções cujos créditos se repartem por gente tão distinta quanto Peter Tosh, Lee "Scratch" Perry e Winston Rodney. E pôs em prática exactamente aquilo que escreve no livro que acompanha o disco: "Maria Callas, quando questionada sobre como pode um intéprete encontrar a emoção certa para uma canção, respondeu: "O compositor tratou de tudo. Faça-se exactamente aquilo que o compositor escreveu". Por essa razão, mantive-me completamente verdadeira para com os originais, à excepção de algumas mudanças decisivas para a adaptação a uma voz feminina". Não é, "Throw Down Your Arms", o melhor disco que reggae que os primeiros anos do século XXI têm para mostrar. É, no entanto, uma viagem muito bem organizada por quem mostrou respeito pela coisa rasta e se soube fazer acompanhar pelos melhores no ofício. Isto é muito mais importante do que rasgar a fotografia do papa. 80,0% de satisfação garantida.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
28 novembro 2005
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Desde quando Sinéad é musicalmente previsível?
ResponderEliminarA mulher se jogou propositalmente do showbusiness, já gravou canções irlandesas, misturou reggae com canções celtas, já compôs rap, fez arranjos eletrônicos com violinos etc.
E o novo álbum de reggae é um primor!