14 novembro 2005
Apito Dourado na tropa
Não me faz confusão rigorosamente nenhuma colocar o meu intelecto em apreciação popular ao afirmar que sempre gostei de ver reality shows. Daqueles como deve ser, com pessoas que não conheço de parte nenhuma nem faço questão de conhecer. Que podem ser bandidos, mulheres-a-dias ou banqueiros, mas que ninguém fora do seu prédio sabe quem são ou o que fazem. E que, cientificamente, a partir do sofá é possível ver - respeitosamente - como figuras de laboratório para análise no âmbito das ciências sociais. Os reality shows alegadamente com pessoas famosas são outra coisa. Outra realidade, por assim dizer. São sinistros.
O senhor da foto, cuja telegenia nela se materializa com eloquência, é um dos figurões que ontem, domingo, deu entrada no reality show "1ª Companhia", na sua segunda edição em exibição na TVI. Chama-se, a criatura, Jacinto Paixão e exerce a actividade de árbitro de futebol, daqueles de categoria superior, que podem dirigir jogos do Benfica, do Sporting e do Porto. No caso, não pode. Está suspenso da actividade "apenas" por ser um dos alegados e numerosos envolvidos no processo conhecido como Apito Dourado. Exacto, aquele da corrupção, do favorecimento de clubes, do nevoeiro autárquico associado. A produtora de "1ª Companhia" está atenta. Não perdoa uma polémica. Pim!
Não há muito tempo, numa entrevista televisiva que creio ter cido concedida à SIC, Jacinto Paixão falou com alguma abertura sobre o alegado favorecimento do Futebol Clube do Porto num jogo específico. O caso envolvia, entre outras coisas, jantarada, profissionais da cópula e Reinaldo Teles, há muito figura proeminente do clube. De regresso à entrevista em questão, nela Jacinto Paixão confirmava a sua presença em locais associados à alegada trapaça, de um restaurante a um hotel. Como confirmava a realização de telefonemas "na bricandeira" - repito: "na brincadeira" - a propósito das tais profissionais da cópula. Como confirmava a presença de Reinaldo Teles em pontos do seu périplo pela Invicta. O problema é que o fazia com uma naturalidade preocupante, mostrando aparente incapacidade de associações mentais que se ensinam na Escola Primária. Este homem é agora, juntamente com um ex-realizador de filmes pornográficos, um dos vários candidatos ao papel de neo-estrela televisiva, pago a €2.500 por semana e com uma saborosa cenoura à vista no fim da "recruta" na "1ª Companhia".
Tudo isto me faz muita confusão. Não falando das implicações que a participação de criatura tão pouco interessante num programa de horário dito nobre pode ou não ter nas apreciações de um processo judicial que já lhe valeu a suspensão da actividade, faz-me ainda confusão o facilitismo bacoco, inane e risível a que o acto de criar qualquer coisa no universo da comunicação parece ter chegado. Imagine-se uma sequência num qualquer brainstorming na produtora da coisa:
- O que é que realmente queremos no programa?
- Polémica.
- Onde vamos buscar pessoas polémicas?
- No futebol e no sexo há sempre possibilidades...
- Era bom era um árbitro!...
- E eles alinham nisso?
- Espera lá, o Jacinto Paixão está sem arbitrar por estar ligado ao Apito Dourado!...
- Isso era fantástico... Anota aí: J-A-C-I-N-T-O P-A-I-X-Ã-O.
Da parte do sexo não é preciso falar muito, já que contratar "celebridades" como Alexandre Frota e Sá Leão são factos auto-explicativos. Falta, por enquanto, cometer a loucura de fazer polémica com a religião. E logo essa, que deve ter pilhas de graça.
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
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