10 novembro 2005
Força, bruto! Come com os olhos.
"Fuerza Bruta"
Toyota Box, Alcântara, Lisboa
Até 18 de Dezembro
Exactamente. Como já se percebeu pelo que se tem dito, este é um daqueles espectáculos em que o público paga para participar. O que sempre me fez, por princípio, alguma confusão. Se o cidadão paga para ver um espectáculo e os seus protagonistas o chamam para participar, o cidadão tem que ser, no mínimo, reembolsado no valor do seu investimento inicial. É da mais elementar justiça.
Dito isto, até não se pede muito do espectador em "Fuerza Bruta", dos argentinos que já por cá andaram com "De La Guarda". Pede-se, essencialmente, que se mexa em função das construções cénicas, o que já é motivo para descontar €5 aos €25 do bilhete, mas nada de transcendente nem de tão olímpico como já se viu em encenações da inevitável La Fura Dels Baus. Para assistir a "Fuerza Bruta", deve o espectador ter essencialmente um pescoço saudável e relativamente móvel, uma vez que muito se passa acima do nível da cabeça do humano dito normal.
"Fuerza Bruta" dura uma hora e não começa nada mal (ver foto). Parece, naquele momento de corrida desenfreada a remeter para a ideia de uma trituradora chamado quotidiano, existir ali uma ideia base, um conceito, que segue em exploração crescente ao longo do resto do tempo. Mas não. Ao deitar-se, o actor despoleta uma série de instalações carnais ao abrigo de uma qualquer ideia de sonho. Só que as instalações revelam-se praticamente aleatórias, De resto, um dos pedaços do manifesto artístico explica: "Não é teatro do futuro, nem é uma obra que se repete continuamente desde o passado. Fuerza Bruta não inventa nada. Fuerza Bruta é hoje e agora. Fuerza Bruta é!". Que se lixe o que é, portanto. É e mais nada.
Não conseguindo, ou nem sequer desejando, contar uma história ou partilhar uma metáfora, "Fuerza Bruta" é acima de tudo uma embriaguez visual a espaços verdadeiramente avassaladora. Nesse âmbito dificilmente sairá sem protagonismo o onírico momento (felizmente não fugaz) em que quatro jovens raparigas se aplicam em diversos tipos de serviço físico dentro de uma piscina suspensa sobre as nossas cabeças. Desiluda-se o mais entusiasmado, que não há nisto nada de sexual. Ou há, como em tudo. À transparência, o fundo da piscina transforma-se numa gigantesca tela mutante em que os retratos vivem, movem-se, manifestam-se e criam imagens de arrebatamento absoluto.
No mais, são estilhaços desalinhados que se distribuem pela sala ao som de uma electrónica entre o tecno, o house e o breakbeat, sendo todos esses elementos sónicos consideravelmente estridentes e agressivos. Chegado ao final, apercebendo-se do facto quando os actores começam a bater palmas, o cidadão ficará com a noção de que algo ali lhe escapou. Que as imagens o acompanharão em recorrências dopadas, mas que lhe falta a mensagem que as liga, a transmissão de um ideário associado ao imaginário. Ao que parece, "Fuerza Bruta" não ambiciona semelhante coisa. É, em suma, a mais recente encarnação da eternizada visão de Herbert Marshall McLuhan: "O Meio é a Mensagem".
Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.
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